Eliane Oliveira
BRASÍLIA. Convencidos de que Estados Unidos e União Europeia continuarão ditando as regras nas negociações internacionais, com o fracasso da Rodada de Doha, de abertura comercial, na Organização Mundial do Comércio (OMC), Brasil e Argentina decidiram unir forças na disputa por novos mercados. Em uma iniciativa inédita, será assinado hoje, em Buenos Aires, um memorando de entendimento entre os dois países formalizando essa atuação conjunta. As barreiras às importações de carnes bovina, suína e de frango in natura são o principal elo entre brasileiros e argentinos e a primeira frente de batalha.
Para se ter uma ideia do tamanho das dificuldades enfrentadas pelos exportadores brasileiros, o Brasil fica de fora de um mercado de US$ 19,1 bilhões por ano, valor equivalente ao que compraram, em 2008, os principais importadores de carnes do planeta e que têm as portas total ou parcialmente fechadas aos brasileiros.
Japão, EUA, Rússia, México, Coreia do Sul, Canadá e China são alguns exemplos.
Para entrar na OMC, Rússia poderá fazer concessões Por outro lado, o Brasil, tido como um dos maiores exportadores de carnes do mundo, vendeu US$ 11 bilhões em 2008, ano menos afetado pela crise financeira internacional do que 2009 e cuja conjuntura é mais parecida com a atual.
Segundo explicou o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, o Brasil já negocia com Japão, Coreia, EUA e China a abertura desses mercados até o fim deste ano. No entanto, pode se fortalecer com a Argentina para convencer os russos a aumentarem sua cota de importação de carnes em geral. A Rússia quer entrar na OMC e terá de fazer concessões aos associados ao organismo.
— É claro que os EUA terão preferência na venda de frango e os europeus na de suínos.
Temos de brigar por uma cota maior — disse Porto.
O ato será formalizado durante o lançamento do plano estratégico, agroalimentar e agroindustrial argentino pela presidente Cristina Kirchner.
Assinarão o documento o ministro da Agricultura do país vizinho, Julián Domínguez, e o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Gerardo Fontelles.
Associação de exportadores de suínos critica iniciativa Na avaliação do diretor-executivo do Conselho Empresarial da América Latina, Alberto Pfeifer, a medida consiste no desdobramento do processo de integração. Além da cooperação e do intercâmbio de informações e tecnologias, Brasil e Argentina poderão chegar a um ponto, com o memorando de entendimento, de realizar ações coordenadas em produção e distribuição de alimentos, incluindo a condução das negociações com os compradores e os aspectos tarifários e não tarifários.
— Isso já deveria ter sido feito antes. Deve ter um desdobramento virtuoso e esperamos que, no futuro, os dois países atuem em conjunto para vender a safra agrícola, especialmente a soja, de maneira integrada — disse Pfeifer.
O presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Suína, Pedro Camargo, considera “inconsistente e incoerente” a medida.
— A Argentina, ao aplicar impostos nas vendas de produtos agropecuários, trabalha contra a exportação. Nossa macroeconomia é diferente da deles — afirmou Camargo.
01/09/2010 O Globo
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