O engenheiro de estradas Edmundo Pereira Furtado, 69, mineiro de Juiz de Fora, recebeu certo dia um ultimato do seu cardiologista: ou trocava o trabalho urbano por uma vida mais saudável e amena ou teria que conviver com o agravamento de seus problemas de pressão alta. Assustado, correu para requerer sua aposentadoria do antigo Departamento Nacional de Estradas (DNER), hoje Dnit, e, após 35 anos de trabalho, decidiu realizar um sonho de infância: criar vacas leiteiras.
Chamou a mulher, Rosália Maria, e propôs que se mudassem para o sítio de 28 hectares que haviam comprado em 1983 na cidade de Vassouras, Rio de Janeiro, região do médio Paraíba. Durante muito tempo o Sítio Alarama - anagrama com as iniciais das filhas Aline, Ariane, Amarine e Adriene - foi apenas uma área de lazer para a família. Umas poucas vacas mestiças produziam 35 litros de leite por dia. Ao se mudar para lá, o casal agregou dois propósitos ao de uma vida mais saudável: tornar o sítio autossustentável e, principalmente, produzir leite de qualidade.
Hoje, com 27 vacas produzindo 400 litros por dia e outras três "mojando" (prestes a parir), a perspectiva é de atingir a curtíssimo prazo uma produção diária de 500 litros. O sítio foi um dos primeiros fornecedores da nova fábrica de leite e produtos lácteos que a multinacional Nestlé inaugura no dia 18 no município de Três Rios, a cerca de 60 quilômetro de distância. A fábrica, com capacidade inicial de processar 400 mil litros de leite por dia, podendo chegar a 600 mil, está mudando os rumos da economia rural da região em um raio de 150 quilômetros.
Para o prefeito de Três Rios, Vinícius Farah (PMDB), a chegada da fábrica da Nestlé significa uma redenção para a produção leiteira do município e de toda a região. "Na verdade, nossa região, e Três Rios particularmente, viveram, entre as décadas de 70 e 80, um período muito positivo para a produção leiteira", conta Farah. Segundo ele, havia pelo menos cinco cooperativas "muito fortes" na região, a maior em Três Rios.
Segundo o prefeito, as cooperativas maiores fecharam e, especialmente em Três Rios, a pecuária leiteira ficou resumida a produtores isolados e a uma produção irrisória. "Independentemente dos mil empregos diretos que vai gerar, a fábrica vai provocar uma enorme transformação na nossa bacia leiteira", projeta o prefeito, afirmando que somente na área rural de Três Rios, município de 75,6 milhões de habitantes (Censo 2010), cerca de 3,5 mil pessoas deverão ser beneficiadas.
Ainda conforme Farah, investidores de outras regiões do Brasil e até estrangeiros estão buscando terras para comprar no município com o propósito de criar gado leiteiro. Recentemente, segundo ele, esteve na cidade uma delegação de empresários russos com esse objetivo.
Além de estimular e subsidiar a melhoria do manejo rural e, consequentemente, da qualidade do leite, a Nestlé está remunerando os esforços dos produtores na direção dessa melhoria. Segundo Farah, os preços por litro na região estavam entre R$ 0,78 e R$ 0,79, e a multinacional suíça está pagando até R$ 1,10 por litro aos produtores que se enquadram em seus padrões de qualidade.
A empresa evita falar em preço, mas informa que tanto remunera a qualidade como paga um adicional por proximidade em relação à fábrica, situada à margem da rodovia BR-040 (Rio-Brasília), próxima ao entroncamento com a BR-393, conexão principal entre São Paulo e o Nordeste do país. Furtado, do Alarama, confirma que está recebendo 25% a mais do que obtinha antes.
Desde o dia 1º deste mês, a fábrica está recebendo 70 mil litros de leite por dia de 20 produtores cadastrados e de outros 400 menores que fornecem por meio de cooperativas, segundo o veterinário Luiz Camilo, coordenador do trabalho de captação de leite para a fábrica. O trabalho é feito pela DPA, empresa controlada por Nestlé e Fonterra, cooperativa da Nova Zelândia que lidera as exportações globais de lácteos.
A construção da fábrica representa um retorno da Nestlé ao Rio de Janeiro após o fechamento, em 2007, da fábrica que mantinha em Barra Mansa, também no médio Paraíba, a 123 quilômetros de Três Rios. A empresa vai começar produzindo leite UTH, o longa vida, e sucos à base de soja, e deve evoluir aos poucos para outros produtos da sua linha.
À parte a localização estratégica de Três Rios, a fábrica da Nestlé chega ao município embalada em incentivos fiscais. Da parte do Estado, os principais incentivos são, na cadeia do leite propriamente dita, ICMS zero para o produtor, e na área industrial, ICMS de 2% garantido pela Lei nº 5.636/10, versão atual da "Lei Rosinha", que tem a meta de estimular a atividade econômica em municípios fluminenses. Da parte do município, entre outros incentivos, está a queda de 5% para 2% da alíquota de ISS durante a obra.
"Meu sonho é ser certificado pelo Programa Boas Práticas na Fazenda", conta Furtado. Trata-se de um programa da Nestlé que habilita a propriedade a exportar leite. Com um rebanho de 80 vacas, novilhas e bezerras da raça Girolando, todas originárias de inseminação artificial, ele acha possível alcançar a produção de 700 litros por dia.
Fonte: Valor Econômico
http://www.milkworld.com.br/noticias/post/nova-fabrica-da-nestle-da-forca-a-cadeia-leiteira-no-rj
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E uma balela pensar que a Nestle possa trazer alguma coisa boa! Ela destroi os pequenos produtores!!!
ResponderExcluirEm Sao Lourenco explorou de forma insustentavel o aquifero de aguas minerais , arrasando c/ a qualidade fisico quimica das mesmas que eram medicinais. Tudo isso p/ fabricar a ilegal pure life.
Foi re em processo em Acao Civil publica por secar fontes, explorar s/ licenca , alem de construir um muro obsceno c/ 7 metros abaixo da terra para separar a industria das fontes. tudo isso em area de alta vulnerabilidade!!
Mais informacao em: www.circuitodasaguas.org
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