A obra Navio Negreiro, de Rugendas, mostra as condições em que eram transportados negros capturados como escravos; tráfico trouxe a malária para a América do Sul Divulgação
RIO - Uma equipe de cientistas descobriu que o mais comum e virulento dos parasitas que causa a malária em humanos, o Plasmodium falciparum, chegou à América do Sul por meio do tráfico transatlântico de escravos capturados na África. Esta conclusão — que pode ajudar a desenvolver drogas eficazes contra a doença — foi possível a partir da análise genética de cerca de mil amostras de sangue infectado com os protozoários. Essa pesquisa é relevante porque o parasita está cada vez mais resistente aos medicamentos atuais.
Tanto que cientistas de vários países dedicam-se a pesquisar vacinas contra a doença altamente letal. Só no ano passado, foram registradas 655 mil mortes em todo o mundo, sendo 86% em menores de 5 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). A Aids, para uma comparação, matou 1,8 milhão em 2010.
Segundo a equipe internacional liderada por Erhan Yalcindag, do Centre National de la Recherche Scientifique da Universidade de Montpellier, na França, o P. falciparum foi introduzido na América do Sul várias vezes e de forma independente, a partir da África. Ele entrou, principalmente, pelo norte do continente sul-americano, incluindo Colômbia, e um pouco mais ao sul, pelo Brasil, refletindo as diferentes vias durante o tráfico de escravos. O dado mostra a influência da migração na diversidade genética do protozoário.
Para fazer a pesquisa, publicada na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, os autores analisaram amostras de sangue coletadas em 24 áreas do planeta, incluindo África Subsaariana, Oriente Médio, Sudeste asiático e América do Sul.
Eles determinaram o parentesco genético dos parasitas e encontraram evidências de uma origem Africana de P. falciparum no Novo Mundo. E já se sabe que os parasitas da malária que infectam sul-americanos são diferentes daqueles que circulam na Ásia.
Aquecimento eleva número de casos
Para o infectologista Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, o estudo de Yalcindag é importante para entender não só a origem da doença, mas descobrir formas eficazes de combatê-la. Além dos tráfico de escravos, os primeiros colonizadores na América trouxeram a malária para o continente, conta o pesquisador.
No início do século XVII, ingleses introduziram parasitas responsáveis pela malária quando se estabeleceram em Jamestown, na Virginia. Os colonizadores também levaram a febre amarela para Barbados e, de lá, ela se espalhou pelo continente. A esquistossomose é outra doença importada pela América do Sul.
- Quanto mais se sabe sobre o material genético de um agente infeccioso, maiores as chances de se desenvolverem medicamentos e vacinas - afirma Ujvari, autor de “A História da Humanidade contada pelos vírus” (Contexto) e “A História e suas epidemias” ( Senac). - Na malária há outro aspecto importante. Intervenções humanas têm contribuído para o maior número de casos da infecção. O aquecimento global, por exemplo, está levando a malária a regiões onde não era registrada, como as áreas frias, de montanhas - diz.
Parasitas do gênero Plasmodium são transmitidos pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, que se infecta ao sugar sangue de doentes. A OMS estima que em 2010 ocorreram 216 milhões de casos; 81% deles na África. O número pode ser maior. No Brasil, 49 milhões vivem em áreas de risco segundo o Ministério da Saúde. O tratamento é com drogas como cloroquina.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/navio-negreiro-trouxe-malaria-para-america-do-sul-3517769#ixzz1hjC0rILb
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