A população brasileira de bovinos é considerada para o mundo da carne o que a população humana da China é para o mundo em geral. Em ambos os casos, seus números são tão vastos que mesmo uma mínima mudança nesses epicentros cria ondas sentidas globalmente.
“Nós realmente precisamos prestar atenção no que o Brasil está fazendo e buscar oportunidades para aplicar isso à nossa indústria”, disse o estudante de pós-graduação em fisiologia reprodutiva da Universidade de Missouri, Ky Pohler. Ele e seu colega, Dan Mallory, gastaram parte do ano passado trabalhando para o Grupo Marfrig e para a Lageado Consultoria Agropecuária Ltda. Pohler e Mallory foram os primeiros estudantes a trabalhar no Brasil como parte de um estágio de manejo reprodutivo patrocinado pela Universidade de Missouri e pela Select Sires, Inc e trabalharam com 20.000 vacas e novilhas de corte em 15 fazendas de três estados brasileiros.
Quando Pohler retornou para casa à sua operação familiar de produção de carne bovina no Texas, seu pai perguntou a ele se tinha se sentido seguro vivendo e trabalhando no Brasil. Pohler disse que somente uma vez ele se sentiu inseguro, quando pegou o avião de volta para casa. “Foi quando comecei a pensar sobre o que a indústria de carne bovina está fazendo lá e o que temos que fazer nos Estados Unidos para competir com eles”, disse ele.
Muitos produtores dos Estados Unidos estão cientes de que o Brasil contém mais de duas vezes a quantidade de vacas de corte que nos Estados Unidos (76 milhões versus 32 milhões). Muitos também estão cientes de que os animais Bos indicus dominam a indústria brasileira de carne bovina e que a indústria no país tem historicamente dependido da terminação a pasto. Dessa forma, a noção popular nos Estados Unidos é que o Brasil não pode competir com os Estados Unidos em termos de eficiência de produção ou alta qualidade da carne bovina oriunda de animais alimentados com grãos. No entanto, isso parece estar mudando rapidamente.
Primeiro, Pohler expliou que os brasileiros têm adotado a genética Angus, principalmente como um cruzamento terminal com seu gado Bos indicus, que são predominantemente da raça Nelore. Apesar de haver interesse e alguma experimentação nisso, com as novilhas meio-sangue usadas como reposição, Pohler disse que “os produtores no Brasil perceberam que a Nelore precisa continuar sendo um grande componente de seu rebanho”.
Pohler, Mallory e outros pesquisadores da Universidade de Missouri fizeram uma apresentação na Conferência de Estratégias Reprodutivas em Bovinos de Corte, em agosto. Eles explicaram que 80% do rebanho bovino brasileiro é de animais Bos indicus ou híbridos de Bos indicus. Entretanto, o Bos indicus representa somente cerca de 10% da população bovina dos Estados Unidos, com a maioria sendo produto de raças Bos taurus. A principal razão para essa homogeneidade no Brasil é seu clima menos diverso. O especialista em gado de corte da Universidade de Nebraska, Rick Funston, trabalhou com produtores brasileiros no Brasil e nos Estados Unidos e disse que existem mais bovinos Nelore registrados no Brasil do que o total de bovinos de corte nos Estados Unidos.
Principalmente, os produtores brasileiros estão utilizando tecnologia reprodutiva em um ritmo que os produtores dos Estados Unidos só podem imaginar. Os produtores brasileiros estão utilizando sincronização de cio e inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em novilhas e vacas maduras; ultrassom para determinar prenhes de forma que podem re-sincronizar e re-criar se necessário. Eles também estão utilizando cruzamentos de raças complementares. Nesse caso, o Angus e a heterose resultante são usados para adicionar qualidade à carcaça.
Pohler enfatizou que os produtores no Brasil estão usando todas essas tecnologias visando acelerar o progresso genético tão rápido quanto é praticamente possível. De acordo com pesquisadores da Universidade de Missouri, estatísticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) disseram que cerca de 55% das vacas nos Estados Unidos foram expostas a uma estação definida de cria em 2007-2008. Dessas, 5%-10% (1,6-3,0 milhões de cabeças) foram estimadas como tendo sido inseminadas artificialmente. No Brasil, cerca de 7%-12% são inseminadas artificialmente, mas isso equivale a 5-9 milhões de vacas.
O número de bovinos e a vastidão dos pecuaristas brasileiros significam que grande parte da inseminação artificial em bovinos de corte é feita via sincronização de cio e IATF. Pohler disse que as taxas de concepção usando essa estratégia são de 50% no Brasil. Ele explicou que o Bos indicus e o Bos taurus diferem na base de resposta aos protocolos de sincronização de cio e o período anestro pós-parto é mais longo entre as raças Bos indicus. Esse é o motivo pelo qual os produtores dos Estados Unidos usando as mesmas tecnologia podem esperar tipicamente taxas de concepção de 60%-65%, disse ele.
A adoção brasileira dessas tecnologias é ajudada pelo tamanho do rebanho e do número relativamente pequeno de produtores, comparado com os Estados Unidos. “Você pode ir a uma única operação no Brasil e sincronizar um rebanho de 10.000 cabeças de vacas e novilhas”, disse Pohler. “Aqui, você precisa agrupar muitos produtores para sincronizar tantos animais”.
Pohler explicou que o tamanho médio do rebanho bovino no Brasil é estimado em 2.000-4.000 cabeças, dependendo do Estado e região. A média simples nos Estados Unidos é de cerca de 50 cabeças, quando você divide o número de 32,9 milhões de bovinos em 2007 pelo número de operações de criação de bovinos citadas no Censo de 2007. No Brasil, existe um número estimado de 35.000 operações de carne bovina. Consequentemente, poucos produtores adotando uma tecnologia são responsáveis por uma porcentagem maior do pool operacional; um tamanho médio maior significa que a adoção envolve mais vacas.
Os brasileiros estão utilizando também uma abordagem sistemática, considerando a operação onde Pohler trabalhou. Essa tinha quatro fazendas separadas, duas eram a porção de vacas e bezerros das empresas, enquanto outra era para o desenvolvimento de novilhas e a quarta era de pastagem e alimentação dos bezerros produzidos nas outras porções.
Refletindo sobre operações como Marfrig e Lageado, Pohler disse: “Eles colocaram seus planos em prática. Eles fizeram um tremendo compromisso financeiro. Agora, você está vendo um crescimento exponencial em seu uso de tecnologia reprodutiva”. Pohler disse que empresas como essas estão trabalhando em um modelo integrado da concepção ao consumidor que até agora tem sido evitado pela indústria dos Estados Unidos, pelo menos em larga escala.
Patterson comparou a atual situação à entrada da Toyota no mercado de carros dos Estados Unidos há alguns anos. Nessa ocasião, poucos levaram a companhia ou seus carros pequenos a sério. Similarmente, disseram os pesquisadores da Universidade de Missouri, existe uma especulação de que, dentro de 10 anos, a indústria de carne bovina do Brasil estará bastante transformada por causa das melhoras na produtividade e na eficiência.
A apresentação feita pelos pesquisadores da Universidade de Missouri pode ser acessada aqui.
A reportagem é da BeefMagazine.com, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/eua-estudantes-vem-ao-brasil-conhecer-tecnologia-reprodutiva/
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