Por Marco Aurélio Factori, Erika Tagima Marcelo e Felipe Azevedo
Ribeiro*.
O crescimento acentuado das plantas forrageiras (plantas consumidas por
herbívoros sob condições normais) é consideravelmente afetado pela estação fria
e/ou seca do ano quando as plantas diminuem ou paralisam o seu ritmo de
crescimento. Este fato é denominado como estacionalidade de produção de plantas
forrageiras, e influencia diretamente a produtividade, a qualidade e a
regularidade de oferta dos sistemas de produção animal que se utilizam de
pastagem e, ainda, contribui em ditar os preços da arroba do boi gordo,
considerando o Brasil como um grande produtor de boi em pasto.
No Brasil central, cerca de 70 a 90% da produção total de forragem
concentra-se no verão para a maioria das espécies forrageiras tropicais,
ficando o inverno com apenas 10 a 30% da produção, evidenciando a necessidade
de planejamento para esse período. Para o estado de São Paulo, o período seco
se estende de maio a outubro. A diminuição da disponibilidade de luz, a queda
da temperatura média e pluviosidade são fatores que juntos impedem o
crescimento uniforme da pastagem durante o ano.
É importante salientar que a estacionalidade de produção de forragem não
é particularidade do Brasil. Vários são os países desenvolvidos que apresentam
problemas quanto à produção de forragens, principalmente devido à ocorrência de
baixas temperaturas durante grande parte do ano e neve em alguns casos
limitando o crescimento das plantas Em algumas regiões onde a neve encontra-se
presente, torna-se impossível a exposição desses animais ao tempo e o gado permanece
confinado em galpões.
Mas, considerando o Brasil um pais tropical, é possível que esta
estacionalidade de produção seja contornada para que seja possível a
permanência dos animais a campo. O uso do pastejo diferido que consiste em
reservar, no fim do verão, pastagens para serem oferecidas aos animais durante
o período critico de produção de forragens. Tem como principal desvantagem o
efeito do estádio de crescimento sobre o valor nutritivo das espécies que pode
ser contornado com a suplementação protéica dos animais por meio de misturas
minerais proteinadas e ainda misturas múltiplas (concentrado).
Outra estratégia utilizada para minimizar os efeitos da estacionalidade
é a produção de feno que é o produto do processo de conservação de forragem
baseado na desidratação natural ou artificial da planta, e tem por finalidade
manter o valor nutritivo da planta. Também é muito comum, o uso de silagem de
planta inteira como volumoso e o uso da silagem de grãos úmidos como
concentrado energético.
A capineira de cana é uma alternativa muito interessante para períodos
de seca por ser de baixo custo. Dentre outros fatores, possui um enorme
potencial para uso na forma de forragem por ser cultivada em todo o território
brasileiro de fácil implantação. Produz elevados rendimentos de forragem (até
de 120 t/ha) em uma única colheita, exatamente no período de baixa disponibilidade
de pasto, o que dispensa qualquer processo de conservação. A cana-de-açúcar
integral é uma forragem rica em energia (alto teor de açúcar), tendo como
limitações os baixos teores de proteína (2 a 3% de PB). No entanto, a inclusão
de uréia, uma fonte de Nitrogênio Não Protéico (NNP) supri esta deficiência aos
microorganismos capazes de converter NNP em proteína microbiana.
Uma alternativa encontrada por muitos produtores é a integração lavoura
pecuária que pode ser definida como um sistema de produção onde a criação
animal está intimamente associada à produção de grãos. Segundo Crusciol et al.
(2009), no consórcio de culturas graníferas com forrageiras perenes, a
forrageira apresenta dupla finalidade servindo como alimento para a exploração
pecuária, desde o final do verão até o inicio da primavera, ou servindo como
planta exclusiva para a produção de palhada.
A pastagem formada após a colheita das culturas graníferas
frequentemente apresenta produtividade e qualidade suficiente para proporcionar
produção de carne durante o período de entressafra. Associado a este sistema, o
confinamento dos animais pode garantir a maximização do ganho de peso quando se
associa a um pasto de boa qualidade e dieta balanceado do confinamento.
O confinamento, quando executado com planejamento e estratégia é uma
excelente saída. No Brasil, o confinamento é geralmente conduzido durante a
época seca do ano, por ser o período de escassez de forragem para pastejo. A
terminação em confinamento depende basicamente de: fonte de animais para
terminação; fonte de alimentos, de preços e mercado para o gado confinado. A
partir disso, podem ser enumeradas como condições básicas para a adoção do
sistema de engorda em confinamento a disponibilidade de animais com potencial
para ganho de peso; a disponibilidade de alimentos em quantidade e proporções
adequadas e gerência (planejamento e controle). O confinamento de gado de corte
se tornou expressivo a partir de 1980, com o fornecimento de alimentação, água
e suplementos aos animais nos meses de inverno (junho a setembro) em função da
estacionalidade de produção de forragem (entressafra). Cabe ressaltar que o
sistema de produção intensiva de bovinos confinados é crescente e apresenta
maior densidade na região Centro Oeste devido a logística de produção de
alimentos, menor custo da terra e oferta de mão de obra mais acessível. Assim,
ressaltam Peixoto et al. (1989) algumas vantagens da prática de confinamento
que dentre elas estão o alívio da pressão de pastejo, abates programados,
liberação de áreas de pastagens para utilização do plantio de outras culturas,
redução na idade de abate, maior qualidade de carne (melhor acabamento de
carcaça), abate precoce ou encurtamento do ciclo além, dentre outros, de
permitir a produção de esterco que pode gerar mais uma renda ao produtor.
Um dos maiores custos dentro do confinamento é com certeza a
alimentação. Segundo a literatura, cerca de 70% dos custos estão relacionados
com o manejo alimentar (Cervieri et al. 2009). A partir deste fato, a
utilização de resíduos da industria, como a polpa cítrica e ainda da indústria
alcooleira (bagaço de cana) dentre outros, torna-se fundamental para reduzir
custos e viabilizar o sistema. Muitas vezes, em função da reduzida margem de
lucro em alguns sistemas produtivos e da região que estes se encontram,
utilizar-se de um subproduto é uma opção para se obter lucro, porém, em algumas
regiões a melhor opção ainda seria o milho e soja.
No entanto, grande parte dos produtores ainda optam pela venda dos
animais principalmente para o abate na entrada da época seca, sendo uma
estratégia muito tradicional, mas não eficaz, pois nesse período a maioria dos
produtores vende seus animais, e com isso o preço da arroba sofre uma
defasagem.
Em resumo, o uso de ferramentas disponíveis e, algumas citadas neste
texto, são fundamentais para o sucesso da atividade no período de
estacionalidade de produção. “Talvez a combinação destas seria o ideal, porém
cabe ressaltar que não existe uma “receita de bolo”, para cada propriedade e
situação, há uma melhor estratégia. Para tanto, a escolha da melhor época do
confinamento não existe, mas parece que se tornou mais comum no inverno. Não
foi o objetivo deste texto ditar regras para serem seguidas e sim criar idéias
que podemos dizer que são mais adaptadas a cada região. Finalizaremos este
texto transmitindo um dito popular muito utilizado que se caracteriza assim:
“uma boa compra vale mais que uma boa venda”… Talvez o oportunismo, o
planejamento (este essencial) seriam receitas para o sucesso. Enfim, o
confinamento do boi certo, com a dieta certa e na hora certa seria o achado do
pote de ouro.
*Marco Aurélio Factori é Pós Doutorando do Dep. de Melhoramento e
Nutrição Animal/UNESP/Botucatu/SP; Erika Tagima Marcelo é Graduanda
em Zootecnia – FMVZ/UNESP/Botucatu/SP e Felipe Azevedo Ribeiro é Mestrando
do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia/UNESP/Botucatu/SP.
Referências
CERVIERI, R. C.; CARVALHO, J. C. F.; MARTINS, C. L. Evolução do Manejo
Nutricional nos Confinamentos Brasileiros: Importância da Utilização de
Subprodutos da Agroindústria em Dietas de Maior Inclusão de Concentrado. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE NUTRIÇÃO DE RUMINANTES, 2., 2009, Botucatu. Recentes
avanços na nutrição de bovinos confinados: Anais… Botucatu: UNESP, Faculdade de
Ciênicas Agronômicas, 2009. p.2-22.
CRUSCIOL, C. A. C. et al. Integração Lavoura-pecuária: Benefícios das
gramíneas forrageiras perenes nos Sistemas de produção. Informações
Agronômicas. Vol.125. 2009.
PEIXOTO, A. M.; HADDAD, C. M.; BOIN, C. BOSE, M. L. V. O confinamento de
bois. 4. ed. São Paulo: Globo, 1989.
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