Cerca de 99% do volume será exportado para países da Europa, África e Ásia
por Hanny Guimarães
(Foto: Kenji Honda/Ed. Globo)
Consumidores europeus foram pegos de surpresa em janeiro deste ano, quando testes comprovaram que diversosprodutos industrializados, rotulados como contendo carne bovina, tinham, na verdade, sinais de carne de cavalo. Autoridades do Reino Unido identificaram a fraude em hambúrgueres e, em seguida, outros produtos como a lasanha, na Itália, também foram notificados.
O caso repercutiu por todo o mundo e se tornou um escândalo, fazendo com que os governos dos países afetados ordenassem novos testes em todos os tipos de comida processada com carne bovina. Mesmo com indicações das autoridades de que o consumo desse tipo de alimento não traz nenhum risco à saúde, os consumidores se sentiram lesados e, hoje, reforçam o movimento de compra por itens produzidos localmente.
Que carne é essa?
Embora o fato tenha causado certo rebuliço, não é novidade que a carne de cavalo é produzida e tem o consumo liberado em muitos países como França, Japão e até mesmo no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, há alguns anos o restaurante japonês Hideki mantinha o produto no cardápio e o vendia como iguaria, mas o item saiu do menu, pois nunca fez muito sucesso entre os brasileiros, que resistem ao consumo desse tipo de alimento. A curiosidade fica por conta das características da carne que, segundo chefs de cozinha, é mais avermelhada em relação à bovina e tem sabor mais adocicado.
Luiz Francisco Prata, médico veterinário e especialista em inspeção sanitária de carnes e pescados da Unesp em Jaboticabal, explica que nós não temos o hábito de consumo e que 99% da carne equina produzida no país é exportada. “Não há qualquer restrição do consumo desse tipo de carne a não ser a questão cultural. Não faz parte do nosso hábito, embora ele seja um animal herbívoro muito semelhante ao bovino”. Ele acredita que a questão do escândalo da carne de cavalo é mais empresarial já que se trata de uma fraude e orienta: “o consumidor não precisa ficar preocupado, pois a carne equina não faz mal desde que devidamente obtida”. De acordo com o especialista, ela é indicada para atletas ou pessoas que controlam peso, porque tem menor teor de gordura e maior teor de ferro – e por isso também seria indicada para casos de anemia. Mas afirma que a escolha depende da vontade do consumidor e não de um processo fraudulento.
O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) fiscaliza os alimentos que contenham carne de estabelecimentos inscritos no Serviço de Inspeção Federal (SIF). O trabalho é feito dentro das unidades de abate frigoríficas, com rastreabilidade dos produtos de origem animal congelados, de circulação nacional ou para exportação.
No Brasil, a produção e comercialização da carne de equídeos não é proibida, mas a lei é clara quanto à indicação na embalagem sobre alimentos que contenham o produto. O decreto 30691, que aprova o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA, estabelece no artigo 202: Art. 202 – “A carne de equídeos e produtos com ela elaborada, parcial ou totalmente, exigem declaração nos rótulos: ‘Carne de equídeo, ou preparado com Carne de Equídeos ou contém Carne de Equídeos.’"
Produção no Brasil
Segundo o Mapa, há registros no SIF de quatro estabelecimentos de abate de equídeos, porém atualmente somente dois estão em funcionamento. Hoje, cerca 2.375.961 quilos da carne são produzidos são produzidas anualmente, mas esta produção já foi de 13.101,952 quilos em 2007. O volume segue para a Europa, África e Ásia.
Na última quarta-feira (6/3), o frigorífico Prosperidad S.A., do Uruguai, anunciou que no máximo até junho vai reabrir sua unidade localizada em Araguari, no Triângulo Mineiro. No local, deve ser feito o abate de até mil cavalos por dia, sendo toda a produção destinada a países europeus, principalmente Bélgica e Holanda, além de África do Sul e Japão. A fábrica tinha sido fechada em setembro do ano passado após focos da doença de mormo serem detectados no Parque de Exposições de Araguari, a apenas quatro quilômetros do frigorífico. Uma norma da União Europeia não permite focos da doença a menos de 10 quilômetros do local do abate. A empresa resolveu, então, encerrar as operações, mas agora, com a situação controlada, a unidade será reaberta.
O mormo é uma doença infectocontagiosa que atinge os equinos, mas que pode ser contraída também por cães, gatos e até mesmo pelo homem. No ano passado, em Araguari, a contaminação levou ao sacrifício de dois cavalos e ao confinamento por um determinado período de cerca de cem animais. A doença já teria desaparecido da cidade e a representante da empresa uruguaia, Sandra Catharina Jorge, diz que está sendo solicitada junto ao Ministério da Saúde a inspeção necessária para a instalação da planta.
Fundado há 52 anos, o frigorífico tem sede brasileira em São Paulo, onde ocupa uma área de 78 mil metros quadrados. Ele já vinha processando em média 680 toneladas de carne de cavalo antes de fechar. Reabre no momento em que o mercado ainda avalia o impacto do escândalo na Europa envolvendo o uso de carne de cavalo no lugar da de gado em alimentos processados. Em Araguari isso parece não preocupar, pois representantes do frigorífico demonstraram otimismo e até sinalizaram a possibilidade de contratação de 300 funcionários.
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