Mônica Costa
A falta de uma discussão profunda sobre a realidade da cadeia produtiva de leite no Brasil e a definição de metas e responsabilidades a todos os seus elos são apontados como fatores fundamentais para a lenta evolução dos padrões de qualidade do leite produzido por aqui. Especialistas ouvidos por Mundo do Leite são unânimes em dizer que, se não houver uma sinergia entre todos os segmentos da cadeia, entre os quais produtores, indústria e governo, o final da IN 62 não será diferente da sua antecessora, a IN 51, que viu seu prazo expirar sem ter alcançado as metas estabelecidas.
Desde janeiro deste ano, quando a Instrução Normativa 62 (IN 62), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) passou a valer para as regiões Norte e Nordeste, todos os produtores de leite do País estão submetidos aos mesmos indicadores de qualidade do leite. Ainda de acordo com a IN em vigor, em 2016, ou seja, daqui a três anos, os residentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste deverão estar produzindo leite dentro dos padrões internacionais estabelecidos pela normativa. Os do Norte e Nordeste ingressam apenas no ano seguinte. Os dados, contudo, são preocupantes. Estima-se que metade do leite processado no País - que segundo previsões do IBGE deve passar de 22 bilhões de litros em 2012 (dados ainda em aberto no fechamento desta edição) - esteja fora dos padrões de qualidade exigidos pela IN 62. Há muito trabalho e o tempo é curto.
“É preciso um comprometimento de todos os envolvidos. Tanto governo, quanto iniciativa privada e lideranças do setor precisam adotar uma postura que garanta que a as informações cheguem ao produtor”, afirma a pesquisadora Rosana de Oliveira Pithan e Silva, diretora técnica da Unidade Laboratorial de Referência de Análise Econômica do Instituto de Economia Agrícola (IEA), em São Paulo, SP.
Segundo informação da Rede Brasileira da Qualidade do Leite (RBQL), que reúne onze laboratórios credenciados à análise, e por onde passam mensalmente 720 mil amostras por mês, entre 10% e 40% das amostras analisadas estão fora dos padrões estabelecidos para Contagem de Células Somáticas (CCS). Já para Contagem Bacteriana Total (CBT), a média de amostras abaixo da qualidade varia entre 20% e 60%.O MAPA, que coordena a RBQL, não dispõe de dados detalhadas sobre o assunto. “Não há informações oficiais sobre o volume total de leite fora dos padrões no País porque o cadastro realizado pelo MAPA não contempla toda a matéria prima analisada pelos laboratórios credenciados”, explica a veterinária Mayara Souza Pinto, da Divisão de Inspeção de Leite, Mel e Produtos Apícolas (Dilei) do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Mapa.
A reportagem de Mundo do Leite conversou com especialistas sobre o tema e elencou os principais obstáculos para se alcançar os padrões internacionais de qualidade. Veja mais na edição impressa de Mundo do Leite nº 59
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