Pesquisa do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba, avaliou o mel e o polén de 13 espécies de abelhas sem ferrão, bem como as próprias abelhas. O trabalho realizado pelo biólogo André Luis Lima de Araújo demonstrou as diferenças existentes na composição química de cada um dos produtos analisados, suas características e ainda o efeito dos locais de origem nas suas constituições.
Além do próprio mel, o estudo avaliou a composição química do pólen, principal fonte de minerais para a colmeia, e as próprias abelhas, num total de 13 espécies, que também foram coletadas para a correlação de seus respectivos méis. Para tanto, o pesquisador coletou amostras em cinco estados brasileiros (Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo), totalizando 77 colmeias.
"O estudo desses méis, combinado com o conhecimento do pólen e das próprias abelhas, nos permitiu um melhor entendimento sobre as contribuições desses produtos. Porém, ainda que exista uma legislação que regulamenta a criações de abelhas sem ferrão nas regiões onde são endêmicas, é necessário criar uma legislação específica para o mel dessas abelhas", completa o pesquisador.
As análises localizaram 10 elementos diferentes nos méis, outros 12 tipos nos polens e 14 nas abelhas. "Os resultados comprovaram a diferença na composição dos méis em função de local e espécies estudadas. Mas o dado mais positivo é que os elementos com importância toxicológica ficaram abaixo do valor máximo estabelecido pela legislação brasileira", avalia.
Apesar de ser detentor da maior diversidade de abelhas sem ferrão de todo o planeta, a produção do mel brasileiro é baseada na espécie exótica Apis mellifera, também conhecida como abelha-europeia. Contudo, mesmo sendo um dos maiores produtores mundiais desse produto, a criação das espécies nativas ainda é pouco explorada no país.
Diante do pouco conhecimento disponível, embora desperte algum interesse gastronômico e da medicina natural, a pesquisa estudou a composição do produto derivado de algumas espécies sem ferrão, comparando-o com o mel das tradicionais abelhas de listras amarelas.
Umidade
Outra importante diferença identificada nos teores avaliados diz respeito à umidade encontrada em cada tipo de mel, sendo que naquele proveniente da Apis mellifera, 80% é açúcar e 20% água. "A quantidade de água presente nos méis avaliados variou significativamente, sendo que apenas o mel de Apis melliferaapresentou umidade dentro do limite regulamentado, que é o de 20%. Já o nível da umidade presente nos méis de abelha sem ferrão variou entre 22 a 35%".
"Os méis das abelhas nativas são muito diferentes das de Apis mellifera, o que o torna um nicho comercial ainda pouco explorado. Ainda mais porque sua produção apresenta grande potencial para agregar valor econômico sustentável aos ecossistemas brasileiros, sobretudo os florestais", afirma.
Produção de alimentos e pólen
A tese de doutorado Estudo da qualidade do mel de abelhas sem ferrão por análise por ativação neutrônica instrumental foi defendida em novembro de 2013, sob orientação da professora Elisabete A De Nadai Fernandes.
No trabalho, Araújo justifica a importância de sua pesquisa lembrando que 70% da produção dos alimentos do mundo dependem da transferência de pólen pelas abelhas. "Além desses dados mundialmente confirmados, estima-se ainda que as abelhas sem ferrão sejam responsáveis por até 90% da polinização das árvores nativas do Brasil", informa.
FONTE
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