sexta-feira, 25 de abril de 2014

A importância do controle da Brucelose e da Tuberculose


Falar sobre Brucelose e Tuberculose pode parecer assunto antigo, mas, na verdade, pode ser um tema bem atual, visto o impacto econômico e a gravidade dessas doenças para a saúde pública. O que acontece muitas vezes é que os produtores rurais obedecem a normas impostas pelos órgãos competentes no controle dessas enfermidades sem conhecer bem o porquê de estarem fazendo aquilo. 

Para começar, a importância da Brucelose e da Tuberculose é tamanha que mereceram a elaboração de um programa inteiro, exclusivamente destinado ao controle e erradicação das mesmas. O PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal) foi instituído em 2001 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com o objetivo de diminuir o número de casos da doença (prevalência), assim como de novos casos (incidência).

Para tal, é obrigatória a vacinação de bezerras com idade entre 3 e 8 meses contra Brucelose, o sacrifício de animais positivos para qualquer uma das duas doenças  e  a apresentação de atestado negativo para essas enfermidades ao transportar animais destinados à reprodução para fora do estado ou para ingressar em feiras e exposições. A Brucelose é comum tanto para gado de corte, como para leite, porém, a Tuberculose é um problema mais sério para os produtores de leite, porque esta se dissemina pelo ar, urina e fezes, portanto, as chances de infecção são maiores em rebanhos mais confinados.

Uma vez que, só exigência sem incentivo tem chances reduzidas de sucesso, estão sendo criados, em colaboração com a indústria, métodos de incentivar os produtores a controlarem as doenças em seus plantéis. De acordo com a resolução número 3207, de 2004 do Banco Central, é estabelecida uma linha de crédito para reposição de matrizes positivas para brucelose e tuberculose aos produtores que tenham aderido à certificação de propriedades livres ou monitoradas em relação a estas doenças, às propriedades que estejam participando de inquérito epidemiológico oficial em relação às doenças citadas, tenham tido animais sacrificados em virtude de reação positiva a testes detectores de brucelose ou tuberculose, atendam a todos os requisitos referentes à Instrução Normativa 6, de 8 de janeiro de 2004, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e outros normativos correlatos. Para tanto, o limite de crédito é de R$75.000,00 (setenta e cinco mil reais) por produtor e R$1.500,00(mil e quinhentos reais)por animal. 

As medidas de erradicação da Brucelose e Tuberculose das propriedades visam não somente a saúde dos animais, como a saúde do produtor, de seus familiares, tratadores, trabalhadores da propriedade e dos consumidores dos produtos de origem animal. Tendo em vista que estas são doenças de caráter zoonótico, sendo transmitidas do animal para o homem quando há o consumo de produtos oriundos de animais infectados ou contato com estes.

O produtor pode obter do PNCEBT a certificação de propriedade livre ou monitorada. Além dos benefícios sanitários, isso trará benefícios econômicos, já que haverá a redução dos prejuízos ocasionados pelas doenças, maior credibilidade sanitária de seus produtos, levando a maiores valores agregados e facilidades no trânsito de animais. 

As doenças e as perdas econômicas:

Brucelose

A Brucelose é causada pela Brucella abortus e é uma doença infecto-contagiosa que acomete algumas espécies importantes de animais domésticos e o homem, incapacitando-o parcial ou totalmente para o trabalho. Os sintomas no ser humano são parecidos com os da gripe: febre, sudorese noturna, dores musculares e articulares, podendo se agravar, levando, inclusive à morte. Os prejuízos, além do tempo sem trabalhar, contemplam também custos com o diagnóstico, tratamento e internação.

A forma mais comum de ser infectado é pela ingestão de leite, carne e derivados, sem tratamento térmico adequado, provenientes de animais contaminados. Para os trabalhadores rurais, o maior risco é a transmissão por meio do contato da bactéria com mucosas ou através de feridas na pele por ocasião do manuseio de animais e restos fetais provenientes de aborto.

Nos bovinos e bubalinos, a Brucelose acomete principalmente o trato reprodutivo, ocorrendo preferencialmente em fêmeas, gerando perdas diretas devido aos abortos e natimortos, aumento do intervalo entre partos, diminuição dos índices reprodutivos, da produção de leite e interrupção de linhagens genéticas.  O aborto ocorre no terço final da primeira gestação após a infecção, menos frequentemente na segunda subseqüente e raramente nas próximas. Isso ocorre devido ao desenvolvimento de imunidade e, por isso, em rebanhos infectados, a doença se manifesta principalmente em novilhas. Nestes partos onde o animal já adquiriu certa resistência à doença, é mais comum o nascimento de bezerros fracos ou mortos. A retenção de placenta é freqüente.

A vaca prenhe contaminada é a principal fonte de infecção para o rebanho por eliminar a bactéria por ocasião do aborto, disseminando bactérias no ambiente.

Ocorre desvalorização de animais provenientes de fazendas onde há casos positivos da doença e, nas regiões onde esta se encontra de forma endêmica, há desvantagem na disputa por novos mercados. Dados indicam a Brucelose como a responsável pela diminuição de 25% na produção de leite e de carne e redução de 15% na produção de bezerros. Há ainda estimativas mostrando que a cada 5 vacas infectadas, uma aborta ou torna-se permanentemente estéril.  (Manual técnico do PNCEBT).

Para controlar a Brucelose, além das medidas exigidas pela legislação, é preciso evitar a introdução de animais infectados no rebanho por meio da realização de exames antes de efetivar a compra. Além disso, a implementação de piquete de parição na propriedade ajuda a evitar a disseminação.

Tuberculose

A Tuberculose é também uma doença infecto-contagiosa causada por bactéria. Nos bovinos, o agente responsável pela enfermidade é o Mycobacterium bovis, causador do desenvolvimento de lesões nodulares denominados tubérculos, que podem se localizar em qualquer tecido ou órgão do animal. A evolução crônica da doença dificulta a identificação de sintomas, gerando disseminação pelo rebanho. Não apresenta sintomas alarmantes como aborto, febre alta e queda abrupta de produção, porém reduz o ganho de peso e a produção de leite, podendo levar à morte, além de promover o descarte precoce de animais com alto valor zootécnico e a condenação de carcaças no abate. Há estimativas de que animais contaminados percam de 10 a 25% da sua eficiência produtiva, além da perda do prestígio e da credibilidade da fazenda onde há casos positivos de Tuberculose. 

Os sinais clínicos são poucas vezes associados à doença já que se desenvolvem lentamente. São eles: emagrecimento progressivo, cansaço, dificuldade respiratória, tosse, mastite, entre outros.
Pulmão e linfonodo bovino com diversos nódulos de aspecto caseoso. Fonte:http://www.cfsph.iastate.edu/DiseaseInfo/ImageDB/TUB/TUB_001.jpg 

Em humanos, a contaminação se dá principalmente pelo consumo de leite e carne crua ou mal passada, oriundos de animais infectados. Como o agente da doença é eliminado pelo ar expirado, fezes, urina, leite e outros fluidos corporais dos bovinos, os trabalhadores das propriedades rurais e da indústria de alimentos também estão no grupo de risco da doença. Isso se torna mais preocupante pelo fato de os animais infectados eliminarem a bactéria antes do aparecimento dos sintomas. Vale lembrar que os humanos portadores de tuberculose também podem ser fonte de infecção para o rebanho. As lesões em humanos variam de acordo com a via de penetração inicial da bactéria.

Assim como na Brucelose, é importante exigir o exame de tuberculose antes de adquirir um animal. Também é medida de controle ter instalações que permitam a entrada da luz solar e evitar a aglomeração de animais em estábulos.

A partir de tudo isso, fica claro o porquê de se fazer um controle e manejo estratégico de eliminação destas duas doenças. O diagnóstico das duas doenças é simples e pode ser feito por médico veterinário habilitado. Veja como são feitos os exames de triagem no rebanho: 

Diagnóstico da Brucelose: 
Para identificar a presença da Brucelose no rebanho, dois exames podem ser feitos pelo médico veterinário habilitado: o Antígeno Acidificado tamponado (AAT) e o teste do anel em leite (TAL). Ambos identificam a presença de anticorpos contra a doença, porém o último é feito em uma mistura do leite de vários animais. O AAT é individual, feito a partir do sangue coletado de cada bovino. Veja abaixo o procedimento:

Coleta de sangue da artéria coccígea, localizada no sulco central da parte ventral da cauda. As agulhas utilizadas devem ser individuais e descartáveis.
 Amostras acondicionadas em tubos, preferencialmente, à vácuo.
 
Centrifugação do sangue por 3 minutos para promover a separação do soro. No caso de não possuir este aparelho, é possível a obtenção do soro deixando os tubos à temperatura ambiente por tempo suficiente para que o sangue se coagule.

Em uma placa de vidro, são adicionados 0,03 ml deste soro e a mesma quantidade do antígeno acidificado tamponado, misturando-os com o auxílio de uma espátula.


Mistura entre o soro sanguíneo e o AAT. Em exames positivos, formam-se coágulos de fácil percepção nesta mistura.

         Placa com todos os exames negativos.

          Exemplo de reação positiva. Fonte: Manual técnico do PNCEBT

AAT é um exame de alta sensibilidade, ou seja, existem poucas chances de ser falso negativo. Porém, falsos positivos podem ocorrer pela reação cruzada com determinadas bactérias. Nestes casos, a repetição da prova ou a realização de outro exame, denominado 2-mercaptoetanol, é recomendada.

Diagnóstico da Tuberculose:

O exame diagnóstico a seguir é a prova de tuberculinização, que consiste na inoculação intradérmica de uma tuberculoproteína , a tuberculina(CORRÊA & CORRÊA, 1992; PAES, 1990). Existem três modalidades para este teste: a inoculação do Micobacterium Bovis na região cervical ( teste cervical simples), do M. bovis e do M. avium na mesma região (teste cervical comparativo) ou tendo a prega caudal como local de inoculação do M.bovis. Este último só é permitido em rebanhos de corte.

As variações do teste cervical servem para descartar a possibilidade de um caso positivo na prova simples ser devido ao contato com a espécie aviária da tuberculose. 

Veja nas fotos abaixo, como é realizado o procedimento de tuberculinização no exame comparativo:

São realizadas duas raspagens na região escapular do animal. No local da primeira raspagem (frente), faz-se o teste da tuberculose aviária, com a inoculação da tuberculina aviária e, no segundo, da tuberculose bovina, inoculando-se a tuberculina bovina.
Áreas raspadas para demarcação das regiões a receber as inoculações de M.avium e M.bovis.

Antes das aplicações, a dobra de pele dos locais deve ser medida com o auxílio de um cutímetro e os valores obtidos devem ser anotados.

         Tuberculina aviária e tuberculina bovina.

Nova medição com o cutímetro deve ser feita 72 horas após a inoculação dos reagentes. 

Com o cálculo da diferença de espessura das dobras de pele é obtido o resultado de acordo com o exemplo abaixo: 

Os valores de interpretação do teste podem ser encontrados na bibliografia consultada na confecção deste artigo.

Observação:
Os exames diagnósticos descritos acima (AAT e Prova de tuberculinização) foram realizados na Fazenda Suzana, localizada próximo a Ibitira/MG, de propriedade do Sr. Daniel Alves da Silva, gerenciada pelo Sr. José Valdemir e assistida pelo médico veterinário da equipe ReHAgro, Ernane Campos. Para ambos os testes não houve diagnósticos positivos.

Bibliografia:
Manual técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (www.agricultura.gov.br )
Fonte: http://rehagro.com.br/plus/modulos/noticias/ler.php?cdnoticia=1799

Nenhum comentário:

Postar um comentário