28/06/2010 - 00:00
Luciana Cristo
O município de Ortigueira, na região central do Paraná, tenta voltar a ocupar uma posição de destaque entre os maiores produtores de mel no País. A estratégia é caracterizar o mel produzido no local, dando um "atestado de qualidade" ao produto, a partir de um projeto em parceria com o Sebrae-PR, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), que deve se desenrolar pelos próximos dois anos.
Se o trabalho conseguir mostrar a especificidade do mel de Ortigueira, pode agregar valor ao produto. "Hoje temos características que nos remetem que o mel seja exclusivo daquela localidade", aponta o consultor do Sebrae-PR que atua no projeto, Fabrício Pires Bianchi. Um dos objetivos do projeto de identificação do mel é verificar a viabilidade futura de se pleitear ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) um atestado da indicação de procedência do mel produzido no município de Ortigueira.
O gerente da regional norte do Sebrae-PR, Heverson Feliciano, lembra que a adição de valor ocorre por meio da diferenciação de um produto ou processo. "O processo de identificação é necessário para que se parta para outras possibilidades como a indicação de procedência, por exemplo. Experiências como essa de identificação de alimentos têm gerado mais valorização para os produtos, abertura de novos mercados e melhoria do preço de venda", afirma.
De 2004 a 2007, Ortigueira foi o maior produtor individual de mel no Brasil. No ano seguinte, a cidade não estava nem entre os 20 maiores produtores, de acordo com estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo Bianchi, diminuiu o número de produtores no setor. "Pessoas que estavam antes na apicultura acabaram se desligando, buscando outras atividades e, em função disso, diminuiu a produção", conta.
Hoje, são cerca de 175 apicultores na cidade, sendo que 45 fazem parte da Associação de Produtores de Mel de Ortigueira (Apomel), responsáveis por 6,5% de toda a produção paranaense do produto, que em 2008 (último ano em que os dados estão disponíveis até o momento) foi de 4,6 mil toneladas, 2º lugar entre os estados produtores de mel.
Além do distanciamento de vários apicultores da atividade, Bianchi cita que nos últimos anos nada se fez para melhorar as técnicas a serem aplicadas para se ganhar em qualidade e em produção. "Se não há troca genética, em uma população de abelhas com pouca diversidade surgem doenças e defeitos genéticos, o que diminui a produção e, consequentemente, a qualidade", aponta o consultor.
Os apicultores de Ortigueira se preparam para a retirada do mel pela florada do arbusto assa-peixe, que acontece agora em julho e agosto e é um dos tipos de mel predominantes no município, assim como o mel de eucalipto. Além do mel, os apicultores investem em produtos como pólen, própolis e geléia real.
Neste ano, os apicultores prometem começar a voltar com o máximo que conseguirem na produção. "Precisamos ir a campo e ajudar o pequeno apicultor. O mel de Ortigueira é uma delícia, é o melhor, mas ainda não tem uma identidade para o produto. Já fomos primeiro lugar em produção no Brasil e queremos voltar a ocupar esse posto", diz a presidente da Apomel, Ana Mozuski Kutz, apicultora há três décadas.
O mel de Ortigueira é exportado para a União Europeia e para os Estados Unidos e a Apomel pensa em reestruturar a exportação, que hoje é feita por meio de entrepostos e diminui o lucro do produtor. "Nossa produção vai quase toda para fora do País, porque o brasileiro não põe o mel na mesa", lamenta Ana.
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