quinta-feira, 1 de julho de 2010

Diagnóstico Parasitológico automatizado



1/7/2010
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Após desenvolver um método considerado mais sensível em relação aos convencionais para o diagnóstico parasitológico das fezes, um grupo de pesquisadores começa a testar a automatização do sistema.
De acordo com Jancarlo Ferreira Gomes, pesquisador dos Institutos de Biologia (IB) e de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a proposta da Técnica Coproparasitológica de TF-Test (Three Fecal Test) é garantir diagnósticos de alta eficácia com baixo percentual de erro. “Com a automatização, pretendemos ampliar a modalidade do diagnóstico parasitológico das fezes”, disse à Agência FAPESP .
A automatização envolveu duas etapas. A primeira se referiu à análise de imagens e à regulagem e aquisição de imagem e detecção de estruturas parasitárias (em lâmina de microscopia) por computador.
“A segunda foi justamente promover a interação do equipamento – que contém câmera digital, platina motorizada e microscópio – com o computador, para a realização dos procedimentos de forma automática”, explicou Gomes.
O processo automatizado ainda está em fase de testes, mas os resultados obtidos até agora são promissores. “Nossa intenção é que em mais um ano a automatização esteja concluída e pronta para ser industrializada e comercializada”, disse.
O TF-Test foi criado em 2004 por pesquisadores da Unicamp, em colaboração com colegas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Taubaté (Unitau), e em parceria com a empresa Immunoassay.
Desde 2005, o kit é comercializado para testes manuais. Atualmente, são vendidos cerca de 45 mil kits por mês a laboratórios de análises clínicas. Gomes e colegas concluíram a técnica a partir do projeto “Desenvolvimento de novos kits destinados ao diagnóstico de parasitoses intestinais em amostras fecais”, coordenado por Sumie Hoshino Shimizu, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, e apoiado pelo Programa FAPESP na modalidade Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
“Fizemos melhorias no TF-Test e obtivemos imagens de maior qualidade para detecção de estruturas parasitárias. A sensibilidade da técnica está acima de 90%”, afirmou. Segundo ele, a maior parte dos métodos convencionais empregados nos exames de fezes para detectar parasitos apresenta diagnóstico com sensibilidade entre 48% e 76%.
Para aprimorar o diagnóstico laboratorial das enteroparasitoses e a técnica de TF-Test, o grupo finalizou em 2008 um projeto para análises de imagens de parasitos intestinais, apoiado pela FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa – Regular.
Na atual etapa, que envolve o melhoramento da imagem, foram obtidas lâminas mais limpas de impurezas fecais, comuns nos testes convencionais, e com maior concentração de parasitos que as convencionais, segundo Gomes. Esse novo desdobramento da técnica foi denominado de TF-Test Modified.
Nas duas etapas finais, o projeto está sob a coordenação do professor Alexandre Xavier Falcão, do IC da Unicamp. Atualmente, Gomes desenvolve o projeto de pós-doutorado “Análise automatizada de enteroparasitos para finalidade diagnóstica”, com Bolsa da FAPESP.
Patentes
O TF-Test Modified consiste na análise a partir da coleta de três amostras, realizadas em dias alternados. “Cada coletor contém um líquido conservante à base de solução neutra de formalina, que conserva as estruturas coletadas por até 30 dias sem necessidade de refrigeração. Além disso, usamos alguns reagentes para eliminação de impurezas fecais”, explicou.
Com as melhorias da técnica foi possível, segundo Gomes, detectar com maior exatidão as estruturas de parasitos como a giárdia, que é de difícil diagnóstico por meio de exames convencionais devido a seu complexo ciclo vital.
A técnica concentra as amostras, fazendo o diagnóstico mesmo em casos mais difíceis, em que o indivíduo apresenta baixa e moderada intensidade de infecção. “Nos testes tradicionais, muitos casos dão como resultados falsos negativos”, disse.
Gomes afirma que a técnica é abrangente e permite detectar a maioria das espécies parasitárias. Ao fazer um levantamento epidemiológico com o TF-Test convencional, concluído no início de 2010, com 737 alunos da Escola Municipal Professor José Jurandyr Piva, no município de Pedreira (SP), os pesquisadores registraram alta positividade de enteroparasitos.
Os resultados apontaram que 342 crianças estavam com enteropasitoses, sendo que 194 apresentavam parasitismo simples e 148 poliparasitismo.“Atualmente trabalhamos com a validação das 16 espécies de helmintos e protozoários mais prevalentes no Brasil. Nos estudos que realizamos, procuramos trabalhar a prevalência e não a patogenicidade, pois nosso interesse foi validar a tecnologia”, disse.
O TF-Test resultou em duas patentes solicitadas pela empresa Immunoassay junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e outra solicitada à World Intellectual Property Organization (WIPO).
As duas fases posteriores – que incluem a análises de imagens e a atual fase de automatização – geraram mais quatro solicitações de patentes, três nacionais e uma internacional, solicitadas pela Agência de Inovação da Unicamp (Inova). 

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