segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Novas descobertas sobre o manejo da dor peri-operatória em cães

Leonardo P. Brandão, MV, MSc, PhD

Gerente de Produtos Animais de Companhia
Merial Saúde Animal 

Há relativamente pouco tempo o reconhecimento da dor e dos processos envolvidos no seu desencadeamento e controle eram pouco conhecidos na Medicina Veterinária. Sabe-se agora que os mecanismos mediadores da dor em animais e seres humanos são muito semelhantes. 

A constatação de que certos procedimentos cirúrgicos, como a ovariosalpingohisterectomia, as castrações e as remoções de tumores, são associados com mais desconforto e dor do que se supunha, trouxe novos insights sobre a necessidade de se controlar a dor em pacientes submetidos a procedimentos antes considerados simples ou eletivos. Graças aos avanços no manejo da dor, novos tratamentos estão disponíveis não só para trazer conforto, como também, para minimizar os efeitos deletérios que os processos dolorosos impõem aos animais.


RECONHECIMENTO E MANEJO DA DOR

Hoje existe na Medicina Veterinária uma corrente que sugere o reconhecimento da dor como sendo um quarto sinal vital (além de temperatura, pulso e frequência respiratória).1 Esse conceito não é fácil de ser difundido em parte porque os métodos para reconhecimento da dor nos nossos pacientes são limitados. 

Existem escalas de dor validadas para cães, como a escala de dor de Glasgow (Glasgow Composite Measure Pain Scale)2, no entanto, elas ainda são pouco utilizadas na rotina clínica. Deste modo, como muitas manifestações clínicas e sintomas associados à dor em animais são sutis, torna-se difícil reconhecê-la, e portanto, tratá-la. 

Uma abordagem mais moderna e humanista preconiza a tomada de medidas preventivas em certas condições ou procedimentos sabidamente dolorosos. Deve-se antecipar avaliar qual o grau de dor é esperado, o que permite a tomada de medidas preventivas para promover a analgesia antes que o animal venha a sentir dor. 


ANALGESIA MULTIMODAL

A abordagem atualmente recomendada para manejo da dor peri-operatória recebe o nome de multimodal.1 Ela consiste no uso de medicamentos que atuem em diferentes mecanismos e níveis para o controle da dor. Por exemplo, um cão que receba um anti-inflamatório não esteróide (AINEs) associado a um opioide antes da cirurgia, com a administração conjunta de anestesia local e talvez um opioide agonista parcial ou um agonista 2-adrenérgico. 

O tempo também é um fator chave para o controle da dor, uma vez que ocorre a progressão da sua intensidade caso não sejam tomadas medidas adequadas o quanto antes. 




Os AINEs devem fazer parte do protocolo de controle da dor peri-operatória em casos de cirurgia de tecidos moles preferencialmente antes que ela ocorra.

A dor estimula a liberação de mediadores inflamatórios que agem sobre vias neurais e causam aumento da percepção dolorosa pelo corpo. A dor não tratada pode prolongar a hospitalização e contribuir para problemas secundários e aumento da morbidade dos pacientes.3 A administração apropriada de analgésicos reduz a quantidade de anestésico inalatório necessária para a manutenção do animal em plano anestésico, o que torna o procedimento mais seguro para o paciente e menos oneroso para o proprietário.1 O controle da dor peri-operatória reduz a morbidade e promove uma melhor e mais rápida recuperação.4 

UMA NOVA ABORDAGEM 

A maioria dos medicamentos atuais contra a dor é de administração injetável. De fato, pacientes que serão cirurgiados não devem receber nada por via oral no dia da cirurgia. Entretanto, os médicos veterinários podem utilizar uma nova arma no controle da dor associada a procedimentos cirúrgicos de tecidos moles. O firocoxibe (Previcox, Merial Saúde Animal) recebeu aprovação pelo FDA - Food and Drug Administration (EUA) para ser utilizado 2 horas antes em casos de cirurgias de tecidos moles em cães. Num experimento5 realizado com cães que sofreram cirurgia de tecidos moles, os animais tratados com Previcox tiveram menos dor no pós-operatório do que animais não-tratados. 

Nesse estudo, a administração de Previcox por via oral não aumentou a incidência de vômito ou qualquer outro efeito adverso. Na dose preconizada de 5mg/kg/SID,Previcox é uma opção de AINEs segura e eficaz para controle da dor durante o período peri-operatório nas cirurgias de tecidos moles em cães. 

Nos últimos 10 anos a Medicina Veterinária tem apresentando mudanças significativas no tratamento e prevenção de várias doenças, tais como novos protocolos vacinais, manejo e controle de parasitos e preocupações com o bem-estar animal. Precisamos rever também nossos conceitos sobre o manejo da dor em nossos pacientes, não apenas nos casos de osteoartrite e de animais com dor crônica, mas também, no controle da dor durante o período peri-operatório.

Em 2007 um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos (AAHA/AAFP) criou um Guia para Manejo da Dor em Cães e Gatos (Pain Management Guidelines for Dogs and Cats).1 Embora esse guia não faça recomendações de medicamentos específicos, a analgesia multimodal durante o período peri-operatório é recomendada. 

Os AINEs devem ser parte integrante do manejo da dor peri-operatória em cirurgias de tecidos moles, permitindo o controle da dor antes que ocorra (preferencialmente). O uso de Previcox nesses casos pode ser uma importante ferramenta. 


O uso de Previcox promoveu analgesia peri-operatória efetiva em cães submetidos a cirurgias de tecidos moles. 

Foi realizado um estudo multicêntrico duplo-cego com 258 cães submetidos a cirurgias de tecidos moles. Dentre esses, 254 animais foram avaliados quanto à presença de dor peri-operatória. Os cães do Grupo 1 receberam Previcox (5 mg/kg/VO/SID) 2 horas antes da cirurgia e então por mais 2 dias (período de controle pós-operatório). Os animais do Grupo 2 não receberam nenhum tratamento. Todos os animais no estudo foram submetidos a exames físicos e as avaliações da dor, antes da cirurgia e posteriormente (2 dias). Para a avaliação da dor utilizou-se a escala de Glasgow (Glasgow Composite Measure Pain Scale) e os escores variaram de 0 (sem dor) a 24 (máxima dor). Qualquer animal durante o estudo que apresentasse escore de dor maior do que 8 recebeu tratamento analgésico adicional.

Os resultados demonstraram que os cães que receberam Previcox tiveram menos dor quando comparados aos animais do grupo controle.


D1 - dia 1 do pós-operatório
D2 - dia 2 do pós-operatório

Referências bibliográficas
  1. Hellyer P, Rodan I, Brunt J, et al. AAHA/AAFP Pain management guidelines for dogs and cats. JAAHA; 43:235-248, 2007.

  2. Reid J, Nolan AM, Hughes JML, et al. Development of the short-form Glasgow Composite Measure Pain Scale (CMPS-SF) and derivation of an analgesic intervention score. Anim Welfare; 16(5):97-107, 2007.

  3. Mathews KA. Pain assessment and general approach to management. Vet Clin North Am Sm Anim Pract; 30(4):729-752, 2000.

  4. Hellyer PW, Robertson AS, Falis AD. Pain and its management. In:Tranquilli WJ, Thurmon JC, Grimm KA (eds). Lumb & Jones' Veterinary Anesthesia and Analgesia. 4 ed. Ames, Blacwell Publishing, 2007.

  5. Dados internos Merial Saúde Animal.
Enviado por e-mail por Paulo Abílio Lisboa

Nenhum comentário:

Postar um comentário