terça-feira, 13 de agosto de 2013

Código de barras até em colmeias



A empresa social Apicultores de Nochistlán, do Estado mexicano de Zacatecas, se prepara para exportar mel para os Estados Unidos, e para isso colocará um código de barras em cada colmeia. "Atualmente, fazemos o controle com cadernos, mas será mais simples com a tecnologia. Assim se sabe se a colmeia foi movida, se as abelhas foram medicadas e qual o tipo de mel", explicou ao Terramérica o presidente da empresa, Giovanni Zúñiga.

Apicultores de Nochistlán foi criada em 2005, tem 15 sócios e produção anual superior a 15 toneladas de mel. O código de barras é a técnica mais empregada para se ter o rastreamento de um produto alimentício fresco ou processado, desafio para entrar em mercados cada vez mais exigentes em matéria sanitária, como o dos Estados Unidos. A rastreabilidade é "a capacidade de acompanhar o deslocamento de um alimento em uma ou várias etapas específicas de sua produção, transformação e distribuição", conforme definição do Codex Alimentarius, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Uma plataforma tecnológica básica custa cerca de US$ 3.960, muito para pequenos produtores. "Precisamos de capacitação e não temos dinheiro", lamentou Zúñiga. Contudo, "é um bom momento no México. Nos últimos anos houve muita sensibilização no mercado. Há empresas que têm práticas internas bem maduras", disse aoTerramérica a diretora de Inovação e Desenvolvimento da filial mexicana do GS1, Gabriela Ugarte. "O que falta é a integração de cadeias de fornecimento completas", acrescentou.

O GSl é um órgão privado regulador de padrões de negócios com sede em Bruxelas. Começou a trabalhar no México em 2008. Uma de suas iniciativas foi autenticar a qualidade do mel de aproximadamente três mil apicultores no Estado de Yucatán. Para isso, os produtores foram identificados com um código e a cadeia de fornecimento foi certificada: armazenadores, envasadores e exportadores para a Europa. No México, o GS1 tem 33 mil empresas associadas, 90% delas pequenas ou médias. Além disso, trabalha para criar o registro rastreável para itens de produção de carne, tomate e abacate.

O código de barras e a identificação por radiofrequência, mais moderna, são as técnicas mais conhecidas. A última, mais eficiente, está pouco desenvolvida no México. Também são usadas em gado e na indústria automotiva e farmacêutica, entre outras, para monitorar o produto desde o centro de origem até a prateleira ou a mesa. Com a lei de Modernização da Inocuidade dos Alimentos, de 2011, os Estados Unidos melhoraram suas normas para evitar o surgimento de enfermidades e rastrear suas causas, obrigando os exportadores a se adaptarem.

Desde janeiro de 2012 os exportadores utilizam códigos de barras para atender à iniciativa de rastreamento de produtos, que nos Estados Unidos é impulsionada pela Canadian Produce Marketing Association, a filial norte-americana do GS1, e pela United Fresh Produce Association. Além disso, a Administração de Medicamentos e Alimentos (FDA) propôs, no dia 29 de julho, duas regulamentações para reforçar a inocuidade dos alimentos. Os interessados têm até 26 de novembro para enviar comentários.

A FDA afirma que, entre 2005 e 2010, foram registrados 39 focos epidêmicos cuja fonte foi comida importada. Alimentos procedentes do México, como melão, tomate, alho jalapenho e pepino foram apontados como causa de salmonelose. O caso mais recente foi o de uma salada mista, preparada pela empresa Taulor Farms do México e servida em uma rede de restaurantes nos Estados de Iowa e Nebraska, e que em julho provocou quadros de ciclosporose, uma infecção intestinal por água ou comida contaminada com o parasitaCyclospora cayetanensis.

A empresa Maxi Terra, fundada em 2011, trabalha com cerca de 3.500 produtores de cacau e abacaxi nos Estados de Tabasco, Veracruz e Chiapas para fornecer à transnacional suíça Nestlé e à Altex, filial da mexicana Bimbo. "Nosso comprador nos pediu para saber de onde vem o produto e como é produzido. Contamos com um sistema baseado em tecnologia e procedimentos de operação para o acompanhamento do fluxo de informação desde o cultivo, matérias-primas, produtos intermediários e acabados", disse ao Terramérica o engenheiro químico Carlos Azcuaga, fundador da Maxi Terra.

Cada produtor recebe um código de barras e responde a uma pesquisa em um telefone celular com Sistema de Posicionamento Global(GPS), que por sua vez está conectado a uma conexão via satélite para integrar uma base de dados. Assim se rastreia cada lote produzido. A empresa garante ao cultivador um preço justo por cumprir os padrões do comprador. A Maxi Terra quer chegar a mais produtores e incursionar em frutas como carambola, rambutão e a pitaya, ou fruta do dragão. "Queremos expandir para o sudeste mexicano, para a América Central e inclusive para a África", destacou Azcuaga.

Os Estados Unidos são o principal destino das vendas agroalimentares mexicanas, que totalizaram mais de US$ 23 bilhões em 2012, dos quais mais de US$ 19 bilhões exportados para o país vizinho, segundo o Ministério de Agricultura. "O que o México faz é se adaptar, vendo como apoiar o exportador. Muito provavelmente o México desenvolva essas práticas internas. Não se pode melhorar o que não se consegue medir. Quando uma empresa começa a ser certificada, percebe que alguns processos produtivos poderiam ser melhores", ressaltou Ugarte. Com o mesmo propósito, o Serviço Nacional de Saúde, Inocuidade e Qualidade Agroalimentar apoia apicultores, pecuaristas e produtores de abacate. 

FONTE

Emilio Godoy - correspondente da IPS

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