quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Trabalho sobre doença que atinge ovinos e caprinos é premiado no WCGALP 2010



Uma doença semelhante ao mal da Vaca Louca, mas que atinge especificamente rebanhos de ovinos e caprinos, chamadaScrapie, foi o tema do projeto de pós-doutoramento da doutora Patrícia Ianella(foto ao lado) premiado no Congresso daSociedade Internacional de Genética Animal (ISAG), que aconteceu entre os dias 26 e 30 de julho de 2010, em Edimburgo, na Escócia. O prêmio incluiu uma bolsa/auxílio viagem para participação no congresso e apresentação oral do trabalho, que foi orientado pelo pesquisador Samuel Paiva com colaboração do pesquisador Alexandre Caetano, ambos daEmbrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.



Patrícia explica que o trabalho consistiu na genotipagem dos principais polimorfismos do gene PRNP, relacionado à resistência ou suscetibilidade à doença e identificação de novos polimorfismos exclusivos das raças brasileiras. Em outras palavras, após recolher material genético de 1.400 ovinos de 13 raças diferentes, oriundos de diversas partes do país, a pesquisadora estudou quais foram as freqüências de mudanças específicas no código genético desses animais que faz com que eles sejam potencialmente mais resistentes ou mais suscetíveis ao Scrapie. 

Um dos resultados do trabalho foi identificar quais raças presentes no Brasil (locais e especializadas) têm maiores freqüências dos alelos suscetíveis, sendo assim mais propensas a serem infectadas no caso de um surto da doença e quais raças têm menor probabilidade de a doença ocorrer.

O termo Scrapie vem do inglês scrape, que significa roçar ou tirar algo raspando. Isso porque, quando atinge os animais, a doença causa feridas na pele e comprometimento neurológico, o que obriga os criadores a sacrificarem os animais. 

Em geral, a doença ocorre em animais que têm entre dois e quatro anos, ou seja, após a idade reprodutiva, e o agente infeccioso é uma proteína anormal, denominada príon e codificada pelo próprio hospedeiro. A proteína príon se acumula no cérebro causando lesões degenerativas. 

A doença é transmitida por via materna, por meio de ingestão de placenta/fluidos contaminados ou pelo uso de restos de animais mortos na ração animal, prática que foi comum na pecuária de diversos países europeus. Há ainda relato de casos raros da doença em seres humanos e não existe, até o momento, vacina nem remédio para o Scrapie.

Segundo Patrícia, ainda não foram relatados casos da doença em animais nascidos no Brasil, mas há casos de infecção em animais importados. Por conta disso, conhecer a atual suscetibilidade e resistência das raças é estratégico para o país. 

"É importante conhecer bem as variações deste gene nas raças com que os produtores brasileiros trabalham, para avaliar a predisposição genética dos nossos rebanhos a esta doença. Se algum dia houver um surto da doença no Brasil, como houve na Europa, medidas de rastreabilidade dos animais suscetíveis e erradicação da doença serão necessárias. Este conhecimento também é importante porque a doença pode se tornar uma barreira comercial inclusive para o gado, por causa da associação com a doença da vaca louca, e trazer muitos prejuízos econômicos para o país", explica.

"O trabalho representa o primeiro esforço significativo, tanto pelo número de amostras como pela metodologia usada, para avaliar o nível de suscetibilidade do rebanho ovino brasileiro para a doença com base no genótipo do PRNP", complementa o pesquisador Samuel Paiva.

Em 2005, a União Europeia (EU) classificou o Brasil como país que não possui a doença, mas pode vir a ter. "De modo geral, os nossos rebanhos são intermediários em termos de resistência à doença, nem tão resistentes, nem tão suscetíveis. Este é um ponto importante, pois dá flexibilidade ao país em caso de barreiras não tarifárias internacionais", afirma a pesquisadora. Segundo a UE, o último caso de Scrapie no Brasil foi registrado em 2009, a partir de ovinos importados.

Outros resultados do mesmo projeto também foram apresentados no9º Congresso Mundial de Genética Aplicada à Produção de Animais de Criação, ocorrido em Leipezig, Alemanha, entre os dias 1º e 6 de agosto de 2010, e o trabalho na íntegra será publicado em breve na revista Animal Genetics, da Sociedade Internacional de Genética Animal.

FONTE

Irene Lôbo - Jornalista
Telefones: (61) 3448-4768 e 3340-3672

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