Vinicius Zepeda
Fotos: Divulgação/Fumajet |
Ladeiras de declive acentuado, inacessíveis aos carros fumacê, podem ser pulverizadas pelo Motofog |
Dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde apontam para o aumento do estado de alerta para a infestação do mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue, em diversos municípios fluminenses. Denominado Levantamento do Índice de Infestação Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa), esse monitoramento, feito por amostragem, é realizado periodicamente pelos municípios através da visita de agentes às residências e outros imóveis, originando o Índice de Infestação Predial (IIP), que representa o percentual de imóveis com a presença de criadouros com larvas do mosquito. O LIRAa pode ser acompanhado pelo site Rio Contra a Dengue, mantido pela Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro (SESDEC), site que também apresenta importantes informações de combate ao mosquito e sobre a dengue. Quanto aos índices de infestação pelo Aedes aegypti, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que para ser considerado de baixo risco para ocorrência de surtos ou epidemias, o IIP deve estar situado abaixo de 1%. Índices de infestação acima de 1% e até 3,9% são classificados como de alerta, enquanto índices superiores a 3,9% de IIP são de alto risco para a ocorrência da doença. Ainda que nenhum município fluminense tenha atingido o índice de alto risco, com a aproximação da chegada do verão, estação que oferece condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti, a atenção da população precisa estar redobrada para o combate aos criadouros do mosquito.
Algumas iniciativas vêm sendo intensificadas, entre elas, campanhas educativas e publicitárias para reforçar a necessidade do engajamento da população na eliminação dos criadouros do Aedes aegypti e a visita domiciliar dos agentes de saúde - a participação da população é considerada uma das formas mais eficazes de combate à doença. Outra iniciativa é o uso dos veículos fumacê, muito comuns na década de 90 e recomendados para o combate coadjuvante ao mosquito adulto, particularmente em áreas vulneráveis, e de preferência no início da manhã e no final do dia, períodos de maior atividade do mosquito e também de maior suspensão do inseticida – condição essencial para sua eficácia. O problema é que, por seu tamanho, nem sempre esses veículos conseguem atingir certos locais, como becos em favelas, áreas íngremes, terrenos baldios, beira de canais e ferro-velhos, entre outros. Para solucionar esse problema, empresas cariocas acabam de criar um kit para motocicletas, que libera inseticida em forma de fumaça pelo cano de descarga. Já patenteado e pronto para ser comercializado, o produto foi desenvolvido com auxílio do edital Apoio à Inovação e Difusão Tecnológica no Estado do Rio de Janeiro.
Fruto de uma parceria entre a Ativa Tecnologia e Desenvolvimento Ltda. e a Fumajet Comércio de Equipamentos Ltda. – ligada à Incubadora de Empresas da Universidade Veiga de Almeida (UVA), o veículo, batizado de Motofog Fumacê, é uma moto de 125 a 150 cilindradas, adaptada para liberar inseticida por termonebulização. Para tanto, na parte traseira, foi instalado um tanque onde o inseticida fica estocado. Dele, saem dois tubos com saídas conectadas a um sistema eletrônico, a chamada Central Microprocessada de Vazão (CMV), que controla a mistura de inseticida com óleo mineral. "A CMV fica acoplada a uma mangueira de alta pressão, com um bico injetor eletrônico na ponta externa, ligado ao escapamento da moto", explica um dos dois sócios da Fumajet, Marcelo Machado. Na parte de fora da caixa, uma válvula de registro geral libera a mistura de inseticida, enquanto um botão de acionamento do sistema, com luzes semelhantes às de uma sirene, indica o funcionamento de operação. "Próximo ao guidom, há um sistema de controle digital de vazão, com quatro níveis para liberação do produto", complementa.
Além de combater a dengue, a moto pode ser empregada para pulverizar inseticida contra pragas em plantações |
de dois motores e dois operadores, a motocicleta precisa de apenas um motor e um operador. Outra vantagem é o custo do combustível por hora. "Para uma hora de operação com a moto, o consumo médio do combustível é quase dez vezes menor do que o de um automóvel", afirma o gerente de projetos da Ativa, Daniel Almeida Camerini. O custo de manutenção também é bem mais baixo. "A mecânica de uma moto é bem menos complexa do que a de um automóvel", comenta Camerini. Há ainda vantagens ecológicas: a moto emite 70% menos gás carbônico. O sistema já foi testado num ensaio biológico, realizado pelo Laboratório Central Noel Nutels (Lacenn), e obteve 100% de sucesso na eliminação de mosquitos em 24 horas utilizando inseticida do grupo químico piretróide.
Marcelo Machado chama a atenção para o fato de que o Motofog pode ter várias outras utilizações além do combate coadjuvante ao mosquito da dengue. "Nosso produto pode ser empregado no combate a outros insetos, como os transmissores da febre amarela, malária e doença do Nilo, e na agricultura, contra pragas em canaviais, ou em culturas de frutas, por exemplo", destaca. Ele frisa que o uso do inseticida só deve ser feito com a orientação de um agrônomo e autorização dos órgãos governamentais. Mesmo nos diversos programas de controle de vetores no País, necessariamente se deve obedecer às preconizações da OMS, em especial ao Chemical Methods for the Control of Vectors and Pests of Public Health Importance. "Não se deve usar o produto sem orientação, já que seu emprego de forma errada pode provocar desequilíbrio no ecossistema de uma região e possibilidade de intoxicação ao aplicador", alerta.
Projeto foi premiado no Desafio Brasil 2010 competição de start-ups de base tecnológica realizada em São Paulo |
Produto ganha destaque internacional
A empresa Fumajet surgiu em 2007. "Na época, meu sócio Marcius Victorio da Costa estudava termodinâmica e pensou na adaptação de motos para pulverizar inseticida. Ao procurarmos uma empresa para desenvolver o projeto, nos associamos à Ativa", lembra Machado. "Elaboramos todo sistema de engenharia eletrônica e, em 2008, concorrermos ao edital da FAPERJ. Ganhamos recursos para viabilizar a transformação do protótipo em projeto pronto", explica Daniel Almeida Camerini.
Com o produto pronto, a Fumajet resolveu inscrevê-lo para concorrer à primeira edição nacional do Desafio Brasil 2010 – competição de projetos elaborados por empresas surgidas em incubadoras tecnológicas de universidades que ocorre desde 2006, apenas em São Paulo. "Tiramos o primeiro lugar e fomos selecionados para Desafio Intel 2010, competição que reuniu concorrentes brasileiros e mais quatro classificados de diferentes países, como Chile, México, Argentina e República Dominicana", conta Marcelo Machado. "Agora meu sócio está na Califórnia, Estados Unidos, representado a empresa, que foi selecionada para a competição IBTEC Challenge, da Intel e da UC Berkeley Technology Entrepreneurship", completa.
Mesmo em situações em que o fumacê é indicado – surtos ou epidemias – a eficiência do bloqueio da transmissão aumenta consideravelmente quando se eliminam os criadouros, intensificando visitas domiciliares, realizando mutirões de limpeza e contando com a colaboração da população. Por isso tudo, essa arma na luta contra a dengue deve ser empregada em situações tecnicamente indicadas, de acordo com os critérios e recomendações para a aplicação do produto. Ou seja, os cuidados básicos de combate ao Aedes aegypti não devem ser esquecidos e, mais do que isso, devem ser priorizados. O ideal é realizar o controle das formas larvárias ao longo de todo o ano. O trabalho de combate à dengue é muito mais extenso e pede a participação de toda a sociedade.
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