JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
A revoada de papagaios coloridos no céu em um fim de tarde e capivaras com filhotes na beira de córregos são imagens que encantam o morador de grandes cidades.
Mas por trás da beleza há um desequilíbrio que já afeta o ser humano. Por culpa do homem e da falta de predadores, alguns bichos chegam a provocar mortes. Por isso, agora carregam o peso de "pragas urbanas".
Edson Silva/Folhapress |
Maior roedor do mundo, a capivara migrou da zona rural; ela é hospedeira de um carrapato que transmite a febre maculosa |
Em Valinhos, no interior paulista, o construtor Valdir Barbizan, 70, sofreu por três dias seguidos uma febre alta que não cedia, diz a mulher, Ângela Zanluchi, 68. Então o marido contou: "Tirei um carrapatinho da virilha".
Valdir trabalhava perto de terrenos por onde circulavam capivaras, hospedeiras do carrapato-estrela. Em junho de 2011, dois dias após achar o ácaro, ele morreu. O diagnóstico: febre maculosa, transmitida pelo carrapato.
As capivaras afetam ainda o trânsito em cidades paulistas, como São José do Rio Preto, Campinas e até os campi da USP em Ribeirão Preto e Piracicaba.
Elas se multiplicaram nas cidades principalmente pela ação do homem, segundo a professora da USP Katia Ferraz, especialista no animal.
Ela diz que ao fazer condomínios na área rural e expandir o plantio de cana e milho, o homem acabou atraindo bandos, que se adaptaram.
Nas cidades, elas não têm predadores naturais, como onças e sucuris. "Temos capivaras na cidade toda. É hoje uma praga urbana", diz a coordenadora-técnica de zoonoses em Campinas, a veterinária Andrea Vonzuben.
Campinas é a cidade do país com mais casos de febre maculosa, diz o Ministério da Saúde. Foram 67 casos de 2000 a 2011, com três mortes no ano passado. A doença mata até 35% dos pacientes.
Em um parque infectado, o Ibama autorizou, em 2011, a morte de 14 capivaras.
NO CÉU
Thiago Rabelo/Ibama |
A garça-vaqueira chegou a Fernando de Noronha; transmite a bactéria salmonela que causa infecção intestinal no homem |
Papagaios-verdadeiros passaram a se concentrar em Porto Alegre -são centenas, segundo o Ibama.
Raríssimos no Sul, suspeita-se que tenham sido levados por traficantes de aves. Seu habitat natural é o Norte e o Nordeste do país.
O Ibama identificou ao menos 40 pontos onde há bandos dessa ave em Porto Alegre. O órgão vai começar em 2013 a capturá-las para estudar as consequências. Uma das hipóteses é que elas transmitam a psitacose, doença respiratória.
E é também do céu e estrangeira outra ameaça, desta vez no arquipélago de Fernando de Noronha (PE): a garça-vaqueira, uma ave migratória vinda da África.
O voo da garça, de asas com envergadura de até 70 cm, encanta. Sem achar um predador, ela se multiplicou.
O ser humano ajudou: ela come bichos da terra revolvida pelo gado e do roçado.
A garça tem expulsado outras aves. No aeroporto, traz risco aos voos. Gaviões treinados são usados para capturá-las -depois elas são mortas com injeção letal.
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