terça-feira, 22 de junho de 2010

Lideranças discutem controle da febre aftosa

[21/06/2010]
Lideranças discutem controle da febre aftosa O Brasil espera estar livre da aftosa no próximo ano, com alguns Estados parando de vacinar, enquanto outros manterão o controle do vírus com vacinação. A previsão é de Sebastião Guedes, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte e membro do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa na América do Sul.
Guedes, que coordenou seminário sobre aftosa na Feicorte nesta semana, acredita que o país precisa evoluir no controle da doença em algumas regiões. Internamente, é necessária a ampliação das áreas sem vacinação, mas isso tem de ser feito com boa programação. Paraná poderá se somar a Santa Catarina e eliminar a vacinação, mas em alguns Estados o pedido do fim de vacinação ainda não se justifica, segundo Guedes.
O controle no Rio Grande do Sul é bom, mas o fim da vacinação só deve ocorrer em uma ação com Uruguai e Argentina. Em Mato G rosso do Sul, o controle melhorou, mas ainda existe uma zona de alta vigilância na divisa com o Paraguai.
Mato Grosso é um dos Estados que querem parar de vacinar, mas Guedes acha difícil o controle da doença sem vacinação. O Estado faz divisa com a Bolívia, que não deve ter o controle da doença antes de dois a três anos. Os maiores problemas do Brasil continuam no Nordeste e na Amazônia, mas os investimentos dos últimos anos mostram um controle mais eficiente, diz ele.
A situação é um pouco mais complicada nos vizinhos. As maiores preocupações são a Bolívia e a região do Chaco. Além disso, Equador e Venezuela ainda necessitam de três a quatro anos para regularizar a situação.
Paraná
Às vésperas de mais uma reunião do Conselho Estadual de Sanidade Animal (Conesa), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), que deve acontecer hoje (21/06), em que a pauta principal provavelmente será a preparação do Estado do Paraná para se tornar área livre de febre aftosa sem vacinação, muitas dúvidas ainda circulam pelas propriedades dos pecuaristas. Entre os benefícios da medida, como a entrada da carne paranaense em novos mercados, e o temor de que a ação seja frustrada e traga prejuízos, quem está envolvido com o setor quer saber se o Paraná realmente está preparado para assumir os riscos dessa medida.
Quais os impactos técnicos e econômicos? Qual a previsão de crescimento da exportação da carne paranaense? Se houver impacto negativo quem vai arcar com esse ônus? Quais as ações de manutenção desse status a curto, médio e longo prazos? E qual será o impacto na vida do consumidor?
O virologista Amauri Alfieri, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), afirma que a suspensão da vacina vai expor o rebanho paranaense. Na opinião dele, se outorgado pelo  Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o status de área livre de aftosa sem vacinação será uma conquista a ser comemorada, porém com muita cautela. Daqui três ou quatro anos, acrescenta, quando houver uma população completamente não vacinada, os animais estarão totalmente suscetíveis ao vírus. ''E quando se tem focos da doença em rebanhos vacinados é possível controlar o problema mais facilmente, mas o contrário é muito difícil. Sem vacinação, o vírus se alastra como rastilho de pólvora'', reforça o especialista.
 Para Alfieri, se conquistado o status, a vigilância epidemiológica terá que ser bastante rígida. E a preocupação do virologista é a de que as ações – de adequação do Estado, como a construção de novas barreiras sanitárias - estejam sendo apenas imediatistas, sem estratégias de médio e longo prazos. ''Quando se fala em sanidade animal e em defesa sanitária não pode pensar só no momento atual, tem que pensar nos anos se guintes. E nós temos o péssimo hábito de esquecermos dessas coisas'', observa o virologista. A manutenção de barreiras, o aparelhamento desses locais, a preparação dos técnicos (que precisam de constantes atualizações), treinamento de exercícios de mitigação de riscos, tudo isso custa dinheiro, é muito caro, acrescenta o especialista.
O temor do virologista é de que dependendo da administração e da situação financeira do Estado, os investimentos no setor podem ser maiores ou menores. ''E se não houver mais vacinação os cuidados deverão ser redobrados, os investimentos constantes e aumentados. Porque vírus não tem partido político, não interessa quem está no governo'', pontua.
O pecuarista José Eduardo de Andrade Vieira, ex-ministro da  Agricultura, concorda que esse passo que o Estado poderá dar é muito importante, mas não pode ser uma decisão política. Vieira acrescenta que há ainda muita desinformação e que ninguém quer que o Paraná seja prejudicado. ''O status será interessante se houver ganhos para os produtores e a Seab tem que mostrar isso com dados. Esse ganho precisa ser justificado' ', frisa.
A medida, afirmou, precisa ser tomada com base em levantamentos econômicos e questionou se o rebanho paranaense será suficiente para o consumo interno e como ficará o trânsito de animais, já que o Estado importa grande quantidade de bezerros do Mato Grosso do Sul.
O presidente da Sociedade Rural do Paraná, Gustavo Andrade e Lopes, observa que a entidade apoia essa evolução do Estado, mas confirma que é preciso esclarecer melhor os impactos técnicos e econômicos dessa medida. Em solicitação feita à Seab, a entidade questiona, entre outros detalhes, quais serão as ações em caso de ocorrência da doença, quais serão os impactos para o produtor, uma vez que o trânsito de animais ficará restrito, qual o volume de circulação de exemplares e se o Esta do é autossuficiente.
 ''Se houver benefícios, maravilha. Mas se houver impacto negativo, quais serão as políticas de  compensação?'', questionou Lopes. Segundo ele, como resposta a Seab informou que esses dados serão repassados durante reunião do Conesa, na segunda-feira. O representante do Conesa, Aurélio Menari, disse que esses números já foram repassados para os 37 conselheiros na reunião extraordinária do órgão, em março.
Para José Antônio Fontes, conselheiro do Conesa e presidente da Associação Nacional dos Produtores de Bovino de Corte (ANPBC), muitas perguntas ainda faltam ser respondidas. Segundo ele, durante a última reunião extraordinária do Conesa, em março, foram repassadas apenas informações superficiais.
''O que importa é saber o impacto disso em toda a cadeia. E, nesse sentido, nossas perguntas não foram respondidas' ', afirma Fontes. O pecuarista observa que se o Paraná for área livre de aftosa sem vacina, animais vivos de outras regiões não poderão entrar aqui, mas a carne sim. A preocupação dele é com a comercialização, com o fato de que os frigoríficos acabem comprando carne de outros estados, por exemplo, prejudicando o comércio paranaense.
O pecuarista André Carioba observa que é preciso ter a salvaguarda dos riscos inerentes a essa medida. Lembra que os cuidados para manter o status deverão ser redobrados, pois o Paraná tem divisas com outros estados e países. Carioba teme que o Estado passe por um problema como o do Rio Grande do Sul, que não vacinava e em 2000 teve um foco da doença e o estado não conseguiu manter o status.
O coordenador geral de combate a doenças, do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura (Mapa), Guilherme Henrique Marques, observa que essa discussão sobre a suspensão da vacina de aftosa no Paraná é bastante oportuna. ''É um passo que se dá com muita segurança, com medidas c ompensatórias para a retirada da vacina'', frisa. Entre as ações de segurança, destaca o incremento do sistema de vigilância. E completa dizendo que há, sim, a necessidade de se avaliar todos os impactos, inclusive os negativos, e repassá-los aos interessados.
Segundo Marques, o pleito do Paraná foi avaliado e agora o Estado precisa se adequar às exigências do ministério, como melhorias nas barreiras sanitárias e contratação de pessoal. Ainda não há previsão para que o Mapa audite o Paraná.
Para o representante do Mapa, essa decisão é governamental e não de partido e o Paraná tem demonstrado bastante profissionalismo para conquistar o status de área livre de aftosa sem vacina. E avisa que, caso o Estado conquiste esse status, o Mapa vai continuar fiscalizando porque, obviamente, não quer colocar o nome do País em risco. E sugere que esse status é uma responsabilidade compartilhada e que os produtores terão que ajudar nessa fis calização.
As informações são da Folha de S.Paulo e Folha de Londrina, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

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