quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

CFMV: Forum de Leishmaniose Canina

IMPORTÂNCIA DE SE BUSCAR O CONSENSO
No primeiro dia do Fórum de Leishmaniose Visceral, promovido pelo CFMV, o representante da Organização Pan-Americana da Saúde Panaftosa (OMS/OPAS), Fernando Leanes (foto), apresentou os dados sobre a doença. Ele informou que no mundo a incidência de Leishmaniose Visceral é de 500.000 casos por ano, sendo que na Índia, 20% morrem sem o diagnóstico. No Brasil, um dos principais países que sofrem com a doença, ocorrem 3.500 casos por ano, sendo que 5,7% são fatais.
O representante da OMS/OPAS apresentou documentos e informações sobre reuniões e ressaltou a importância de se fazer alianças entre as organizações e deixar as incompatibilidades em benefício da sociedade. “É uma oportunidade para fazer concessões e procurar interesses em comum para fortalecer as lideranças”, afirmou. Ele reconhece que há muita intransigência e intolerância ao se tratar do tema. Leanes acredita que com este consenso será possível investir em mecanismos que efetivamente possam combater a Leishmaniose Visceral.
O Médico Veterinário e representante do Ministério da Saúde, Francisco Edílson Ferreira Júnior, reconheceu que entre os maiores desafios da Leishmaniose Visceral está a morbidade e letalidade de uma doença grave. No Sistema Único de Saúde, as maiores dificuldades encontradas são o diagnóstico tardio, toxicidade do medicamento, imunossupressão e alta letalidade.
Ele também afirmou que o Brasil tem todas as condições favoráveis para a doença se disseminar e acredita que é necessário buscar tecnologias e ferramentas que possam combatê-la. Como exemplo cita projeto de pesquisa do Ministério da Saúde para o próximo ano que avaliará a efetividade das coleiras impregnadas com deltametrina 4%. Ele também informou que será feita a construção de um painel sorológico canino para a validação dos testes atualmente utilizados na saúde pública; validação do teste rápido DPP (Plataforma de Duplo Percurso) e há uma proposta para validação dos demais kits registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. 

DEVE-SE INVESTIR NO COMBATE AO VETOR
Muitos dos palestrantes que participaram do Fórum de Leishmaniose Visceral promovido pelo CFMV enfatizaram a importância de se investir em várias medidas de controle de forma integrada para que se consiga combater a doença. Dentre elas, a mais citada, é o combate ao vetor, ou seja, o mosquito que transmite a doença – flebótomo Lutzomyia longipalpis. A responsabilidade de discorrer detalhadamente sobre o tema foi da MédicaVeterinária Sthenia dos Santos Albano Amóra (foto), da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV.
Ao apresentar as características do vetor, ela lembrou que este é pequeno e frágil e tem atividade noturna. O inseto precisa de matéria orgânica em todas as fases de seu desenvolvimento, encontrado-a em residências, principalmente onde há o abrigo de animais. Destacou ainda que a fêmea desse vetor precisa de sangue e transmite a doença ao picar os animais e humanos.
Ela apresentou resultados preliminares sobre o controle vetorial com o uso de plantas repelentes, bioinseticidas (nematóides e fungos) e coleiras com piretróides. Sthenia enfatizou a necessidade de mais estudos que comprovem a eficácia e aplicabilidade desses métodos alternativos.
Apesar do combate, a Médica Veterinária diz que a principal forma de promover o controle do vetor é com a educação em saúde e a prevenção a partir do manejo ambiental ou domiciliar. Deve-se conscientizar as bases para ações nos domicílios que reduzam a proliferação do vetor.

COMO SÃO REALIZADOS OS DIAGNÓSTICOS
O segundo dia de apresentações do Fórum de Leishmaniose foi dividido em palestras que discorreram sobre o diagnóstico, as vacinas e o tratamentos. Foi o dia com maior participação pela internet, com momentos em que se registrou a presença de 600 pessoas assistindo o evento diretamente de suas casas, consultórios clínicos, universidades entre outros.
Sobre etiopatias, resposta imune, diagnóstico e interpretação de diagnóstico, o Médico Veterinário Fabiano Borges Figueiredo, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz) explicou a realização do diagnóstico clínico e epidemiológico, como também a evidência do parasito, técnica molecular e provas imunológicas.
Em sua opinião, é de extrema importância que haja a notificação de casos mesmo em áreas não endêmicas, pois assim, pode-se identificar e investir em ações de controle da doença no início de sua ocorrência. “Depois de instalada fica muito complicado controlar o vetor”, alerta.
O Médico Veterinário Mauro Arruda (foto), da Coordenação Geral de Laboratórios de
Saúde Pública do Ministério das Saúde, detalhou o funcionamento dos laboratórios estaduais e federais. Ele exemplificou o trabalho feito pelas equipes de coleta e o controle de qualidade sobre a produção dos testes.  Ele informou que no próximo ano serão avaliados os conjuntos de diagnósticos de Leishmaniose Visceral Canina disponíveis no mercado para que em seguida seja feita uma recomendação por parte do Ministério da Saúde.

ESPERA-SE UMA RESPOSTA POSITIVA DAS VACINAS
Apesar da não confirmação anterior de um representante do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o Fórum, o chefe de divisão de Produtos Veterinários do Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários, Ricardo Pamplona (foto), compareceu ao evento para esclarecer algumas informações sobre a fase III de avaliação das duas vacinas contra a Leishmaniose Visceral Canina atualmente comercializadas no País.
Ele informou que a análise dos estudos da fase III executados por seus respectivos laboratórios e cujos relatórios foram enviados ao Mapa para avaliação, ainda estão em andamento e não há um parecer conclusivo. Pamplona espera, a partir dos indicadores existentes, que a vacina seja eficaz, porém, o impacto na redução da incidência da Leishmaniose Visceral Humana dependerá de pesquisas posteriores.
Sobre a vacina também se apresentaram as Médicas Veterinárias Ingrid Menz, pesquisadora e consultora sobre o tema e Ana Maria Tibúrcio, do Laboratório Hertape Calier. Elas mostraram detalhes sobre como ocorrem as etapas de validação. A vacina contra a Leishmaniose Visceral Canina de laboratórios registrados já foi aprovada pelo Mapa nas fases I e II.

EVENTO DEBATEU O TRATAMENTO
Com posições contrárias, os Médicos Veterinários Vitor Márcio Ribeiro, da Pontífice Universidade Católica de Minas Gerais e Cláudio Rossi, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo apresentaram pesquisas científicas sobre os prós e contras para a realização do tratamento de cães infectados com a Leishmaniose Visceral.
Para Cláudio Rossi, ainda existem muitas dúvidas sobre o tratamento, pois em sua opinião, ele não promove a eliminação completa do parasitismo, além de ser ilegal. Na visão de Vitor Ribeiro existem comprovações científicas positivas para o tratamento e a recomendação da eutanásia deve ser feita apenas em casos especiais.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DIVULGARÁ SEU POSICIONAMENTO SOBRE A LEISHMANIOSE VISCERAL
Com o término do Fórum de Leishmaniose Visceral, em 22 e 23 de novembro, o Sistema de Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária (CFMV/CRMVs) elaborará um documento apresentando seu posicionamento sobre a Leishmaniose Visceral e os temas relacionados a esta. O Fórum foi acompanhado pelos Presidentes do Sistema CFMV/CRMVs e convidados, além dos que assistiram pela internet e também enviaram mensagens pelo Twitter.
Para o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, foram dois dias em que a Medicina Veterinária brasileira mostrou a sua força, a sua potencialidade, a sua jovialidade, o seu conhecimento, a sua profundidade e a sua responsabilidade. “Nós saberemos caminhar ouvindo todos os lados e todas as posições”, afirmou ao final do evento. Ele enfatizou a importância da participação das organizações convidadas que contribuíram para os esclarecimentos e apresentação de dados atualizados. 
O representante da Organização Pan-Americana da Saúde Panaftosa (OMS/OPAS), Fernando Leanes, comentou que o evento foi muito importante e se equipara às discussões que estão sendo realizadas em outros países. “É muito bom que seja o Conselho Federal de Medicina Veterinária que esteja liderando esta discussão. Por sua atuação com os Regionais ele tem grande potencial para apoiar o trabalho que o Estado precisa cumprir”. Ele enfatizou a necessidade de consenso entre as diferentes opiniões para que exista o avanço no combate à doença e avalia, ao final do Fórum, que existe “boa intenção” para isso.
Leanes também enfatiza a importância da conscientização e participação dos Médicos Veterinários privados no combate a doença. “Nós precisamos, principalmente, trabalhar o cão que não foi infectado, pois ele está em risco”, afirmou. Ele acredita que os profissionais privados e os Centros de Controle de Zoonoses são importantes para divulgação e esclarecimento, pois estão em contato direto com os proprietários de animais.
Para o Presidente da Associação Nacional de Clínicos de Pequenos Animais (Anclivepa Brasil), Paulo Carvalho de Castilho, o evento foi válido por ter apresentado os dois lados de ação contra a Leishmaniose Visceral. Castilho acredita que foi importante a apresentação de dados e avanços científicos.
O Fórum foi organizado pelo CFMV com apoio da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV.
Assessoria de Comunicação CFMV

O CFMV disponibilizará, em breve, em sua página na internet as apresentações realizadas no Fórum de Leishmaniose Visceral.

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