quarta-feira, 21 de abril de 2010

Bem-Estar Animal: Série Especial - 4º artigo





Avaliação do Bem-Estar Animal: medidas de comportamento como ferramenta – Parte 2 
     
A observação de alterações comportamentais tem sido considerada um dos métodos mais rápidos e práticos quando se avalia o bem-estar. Variações nos padrões comportamentais podem ocorrer em resposta, por exemplo, a mudanças no ambiente do suíno (social: formação da estrutura de hierarquia em grupos recém misturados; física: mudança de fêmeas alojadas em grupo para gaiolas individuais), estado de saúde (saudável para doente), ou nutricional (alteração abrupta de dieta, como no desmame de leitões). A realização de um comportamento em particular (normal ou anormal) pode ser resultante do estado motivacional (“vontade” ou instinto) do animal em resposta ao seu ambiente; no entanto, desvios do que é considerado um comportamento normal podem ocorrer devido a doenças ou outros fatores externos que estão indiretamente associados ao estado de motivação do animal.
     
De acordo com Duncan (1981), os cenários usados para avaliar o bem-estar dos animais incluem: a) observar comportamentos inapropriados ou anormais que podem reduzir o bem-estar do animal, b) quando possível, permitir que o animal “escolha” entre diferentes fatores ambientais (e.x. disponibilidade de palha para cama, maior espaço físico), e c) expor os animais a condições experimentais de estresse controladas pelo pesquisador ou avaliador como deprivacao (e.x. de comida, companhia, espaço), frustração (e.x. acesso restrito ao comedouro), e agressão (utilizando o teste de comportamento adaptado para suínos chamado “teste residente-intrusor”), e comparar as respostas a aqueles comportamentos observados em condições não-experimentais como em granjas de produção.
     
A relação entre anormalidades de comportamento e praticas de manejo (a forma que os suínos são tratados pelas pessoas responsáveis pelos seus cuidados diários, regimes de alimentação ou tipo de acomodação disponível, ou o ambiente social no qual os animais são mantidos) pode ser usada como uma ferramenta de avaliação para determinar condições adequadas sob as quais os animais devem ser mantidos e formas de preencher as necessidades para assegurar o bem-estar. Atos agressivos ou brigas as quais são intensificados e de recorrência freqüente, mesmo após os suínos estarem na mesma baia ou grupo após 48 a 72 horas (familiarizados uns com os outros), podem ser considerados anormais e indicativos de que algo esta errado. Uma causa comum deste tipo de comportamento é a competitividade por recursos considerados valiosos pelos animais, como o acesso a um número limitado (menos do que o recomendado) de comedouros, bebedouros, ou objetos usados para enriquecer o ambiente como correntes e cordas. Desta forma, o desenvolvimento de comportamentos anormais pode indicar que o animal tem dificuldades para adaptar-se ao meio ambiente e que seu bem-estar está reduzido. Em algumas instancias, esses comportamentos anormais são chamados estereotipados.
     
Comportamento estereotipado é definido na literatura como ações repetitivas que são invariáveis em forma e sem uma função fisiológica óbvia, e são comumente observadas em animais severamente frustrados e geralmente expostos a estresses crônicos (SVC, 1997). A alta freqüência em ocorrência de comportamentos estereotipados é vista por muitos como um indicador de um estado de bem-estar reduzido. Alguns exemplos bastante explorados pela pesquisa de bem-estar e frequentemente observados em granjas de suínos, incluem constante mordedura de parte das instalações das baias (barras e portas), o “mascado em falso”, o enrolamento da língua frequentemente observados em porcas mantidas em gaiolas, e comportamentos oro-nasais direcionados a membros da leitegada, como o comportamento conhecido como“belly-nosing” (nome em inglês). Outros comportamentos anormais mais freqüentes em animais de crescimento e terminação incluem mordedura de rabo, barriga, orelha ou vulva. Fornecimento de material (e.x. cordas, correntes), ou substrato (e.x. palha) que estimulam o forrageamento (fuçar, explorar) e redirecionam o comportamento são úteis em mitigar este tipo de problema.
     
Para aperfeiçoar o uso do comportamento como uma ferramenta para avaliar o bem estar, é essencial que o monitoramento diário dos animais seja feito por funcionários ou gerentes de granja que tenham conhecimento (treinamento) amplo sobre suínos e que possam identificar o que se é esperado e considerado um comportamento normal para suínos em seus diferentes estágios de produção. O próximo artigo discutirá o uso de medidas fisiológicas como ferramenta para avaliar o bem-estar animal.
Referencia
Comite Cientifico Veterinario da Uniao Europeia (SVC, Scientific Veterinary Committee). 1997. The welfare of intensively kept pigs. Report of the Scientific Veterinary Committee, EU, Brussels, 190 p.
Duncan, I. J. H. 1981. Animal rights – animal welfare: a scientist’s assessment. Poult. Sci. 60:489-499.

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