quarta-feira, 28 de abril de 2010

Série Especial: Bem-Estar Animal - 5º artigo de 9


Por Rosangela Poletto


quarta-feira, 28 de abril de 2010 - 8:38


Avaliação do Bem-Estar Animal: medidas fisiológicas como ferramenta – Parte 3 

A associação de parâmetros comportamentais, discutidos no artigo anterior, com fisiológicos oferece uma ferramenta eficiente para avaliar o bem-estar; no entanto, esta metodologia é mais comumente usada como parte de pesquisa cientifica com suínos, entre outras espécies animais. Medidas fisiológicas são de importância significativa porque oferecem informação sobre o balanço fisiológico – homestasis – o qual o animal se encontra.
No entanto, a utilização desta metodologia de avaliação requer certo nível de experiência e conhecimento para que haja a coleta de informação ou amostras adequadas, e a interpretação correta dos resultados. Práticas laboratoriais como a cromatografia liquida de alta eficiência, reação em cadeia da polymerase, e ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay, definição em inglês) entre outras, utilizam fluidos biológicos como sangue (geralmente coletado da veia jugular dos suínos), a urina e fezes (formas de coleta não-invasivas), e em algumas instâncias, espécimes de tecidos e órgãos. Assim, a praticidade e a aplicação desses métodos no dia-a-dia de um sistema de produção são consideravelmente limitadas devido ao grau de complexidade.
   
Um dos indicadores fisiológicos de bem-estar mais extensivamente usado é a concentração do cortisol, também conhecido como o hormônio do stress, no sangue, urina e saliva onde é facilmente mensurável, No entanto, há um desacordo na teoria de que o bem-estar está reduzido quando os animais enfrentam uma situação de stress mais elevado. Alguns exemplos desta situação incluem a elevação da concentração deste hormônio quando suínos são soltos num corredor para pesagem, onde os animais se agitam por vivenciar algo unusual.
   
Estresse é amplamente definido na literatura como a soma de respostas (comportamentais e/ou neurofisiológicas), as quais podem ou não ser específicas a freqüência e intensidade (natureza) do stressor ou estimulo. A correlação entre a resposta ao estresse e o equilíbrio fisiológico relacionado ao bem-estar nem sempre é direto e óbvio. Isso se justifica por que situações de estresse tipicamente aguda e moderada, em geral, beneficia os animais por suas propriedades adaptativas, apesar de que em situações vistas como ofensivas, indivíduos diferem da forma a qual eles adaptam ao desafio. Em contra partida, a soma de eventos estressantes e/ou a exposição a estresse recorrente ou crônico (vários dias ou até meses) é mais problemático principalmente por que os animais não têm condições de adaptar e manter a homeostase (equilíbrio físico e psicológico), colocando assim seu bem-estar em risco. Alguns problemas comuns com estresse crônico em suínos, tão quanto em outras espécies, incluem úlcera gástrica, hipertensão e supressão do sistema imunológico, o qual aumenta a susceptibilidade a doenças.
Assim sendo, como a saúde do animal está prejudicada sob a condição de estresse crônico, a prevalência dos mesmos podem também serem usados como indicadores indiretos de bem-estar. Além disso, há o desencadeamento de comportamentos anormais conhecidos estereotipados, como o mastigado em falso principalmente em porcas sujeitas a alimentação restrita, mordedura de barras da baia ou gaiola de gestação, e mordedura de rabo que pode levar ao canibalismo em suínos de terminação que são geralmente mantidos em grupos excedendo o limite de densidade populacional. Este comportamento estereotipado, um indicador de bem-estar reduzido, não tem uma função fisiológica óbvia, é comumente observada em animais sujeitos a ambientes de estresse e que estão num estado de aborrecimento (bored) e frustração. Outros indicadores fisiológicos incluem o monitoramento da função cardíaca (batimentos cardíacos e pressão arterial), temperatura corporal, e concentração de outros hormônios relacionados a resposta ao estresse como as catecolaminas (dopamine, epinefrina e noraepineprina) no sangue e no cérebro. A relação entre bem-estar com parâmetros de produção e saúde será discutida em mais detalhe no artigo seguinte. 

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