domingo, 30 de maio de 2010

Série Especial: Bem-Estar Animal - Parte 9 (Último Artigo)


Por  Rosangela Poletto
rpoletto@purdue.edu


Programa de Garantia da Qualidade Suína (PQA) Plus: Uma proposta para a suinocultura brasileira – Parte 2     
Com o crescente questionamento e preocupação por parte do mercado consumidor interno e externo (também de importância para a exportação brasileira), a respeito das praticas de produção de suínos nos Estados Unidos, o Conselho Nacional de Suinocultores agregou a ‘Boa Pratica de Produção’ numero 10 ao antigo programa de Garantia da Qualidade Suína (PQA), a qual propõe extensivamente métodos e praticas para garantir o bem-estar dos suínos.
A adição desta ultima pratica gerou então o novo programa de Garantia da Qualidade Suína, chamado PQA Plus™, o qual e parte da iniciativa ‘Nós Nos Preocupamos’ (‘We Care’) adotada pela indústria dos Estados Unidos. As ‘Boas Praticas de Produção’ do numero 1 ao 9 estão descritas no artigo anterior, e detalhes sobre os princípios da ‘Boa Pratica de Produção’ numero 10 estão descritos abaixo.
10. Oferecer cuidado apropriado aos suínos para melhorar o bem-estar dos mesmos.
Este GPP consiste de 12 princípios de cuidado e bem-estar.
i. Manter dados/registros de visitas veterinária, de medicamentos e tratamentos, treinamentos com foco no bem-estar de suínos (eutanásia, como manejar os animais nas diferentes fases de produção, e outras práticas de manejo).
ii. Suporte de emergência; ter por escrito um plano de ação de emergência, sistemas de detecção de emergências (e.x. alarmes para informar falhas em sistemas automatizados como ventilação e controle de temperatura, e distribuidores de ração), e ter implantado um sistema de reserva (que seja checado regularmente) para ser usado em situações de emergência.
iii. Avaliação da granja por consultores treinados pelo programa pelo menos uma vez a cada três anos.
  
iv. Observação diária dos animais com o objetivo de detecção rápida de animais doentes ou com ferimentos e mórbidos, alem de detecção de problemas de manejo e alojamento. Manter dados/registros (até mesmo num calendário) das observações diárias dos alojamentos e animais.
v. Avaliação diária dos animais em relação ao desempenho produtivo (ganho de peso e eficiência, taxa de morbidade e parto), levando-se em consideração genética e nutrição. A avaliação física dos animais também é recomendada, ou seja, observar a pele (e.x. lesões causadas por brigas, ou por objetos pontiagudos nos alojamentos) e as extremidades (cauda, pernas e cascos) dos suínos. Incidência de laminite, ferimentos, prolapso retal, e comportamento dos suínos. Animais que são repetitivamente maltratados e abusados irão demonstrar medo na presença de pessoas.
vi. Escore da condição física, que varia de 1 (emaciado) ate 5 (obeso), como um indicador da qualidade do programa nutricional e da eficiência do plano de manutenção dos alojamentos.
vii. Alocação de espaço físico para cada animal; todos os animais devem ter espaço suficiente para deitar de lado sem que a cabeça apóie sobre outro animal ou no comedouro, por exemplo. Fêmeas alojadas em gaiolas devem ter espaço para deitar lateralmente sem que a cabeça apóie no comedouro e os quartos traseiros encostem-se à parede da gaiola.
viii. Ter um plano de ação para eutanásia por escrito com o objetivo de minimizar dor e estresse. Animais que não respondem ao tratamento veterinário, imobilizados, e com escore corporal baixo devem ser sacrificados com prontidão e de forma humanitária por pessoas treinadas para realizar o procedimento.
ix. Manutenção de alojamentos; manter baias e gaiolas livres de objetos protusos que podem causar lesões, o piso deve ser rugoso para minimizar escorregões e quedas, e pisos vazados (especialmente de concreto) devem ser mantidos em boa condição para minimizar laminite e outras lesões de casco e membros; ter espaço de comedouro de acordo com a lotação; e água deve estar disponível pelo menos duas vezes ao dia e em quantidade suficiente para satisfazer a necessidade dos animais.
x. Manejo e movimento de animais deve ser feito com cuidado, de forma calma e quieta. Preferencialmente mover suínos em grupos de ate 6 animais, eliminar distrações visuais, e levar em consideração que suínos tendem a se mover mais facilmente de uma área com pouca luz para áreas claras. O auxilio de equipamentos adequados para mover suínos como as tábuas de manejo e objetos que possam fazer algum tipo de barulho também facilitam o movimento dos animais. O uso de choque elétrico é estressante e deve ser evitado ou minimizado.
xi. Controle inadequado da temperatura e qualidade do ar em alojamentos fechados pode afetar o bem-estar dos animais; o melhor indicador da percepção dos suínos em relação ao ambiente que estão vivendo é o comportamento de termoregulação, suínos se aglomeram quando com frio mas se dispersam quando expostos a uma temperatura acima da zona de conforto. Níveis de amônia e poeira no ar devem ser mantidos abaixo de 25 ppm (partes por milhão).
xii. Atos de negligencia e abuso contra os animais são inaceitáveis. Por exemplo, intencionalmente aplicar choques em áreas sensíveis do animal como olhos, orelha, focinho e reto; maliciosamente bater num animal; ou propositalmente fornecer aos animais o mínimo de alimento, água e cuidado que resulte em adoecimento ou morte. Ações deste tipo devem ser informadas a autoridades pertinentes como o dono ou gerente da granja, ou instituições de proteção aos animais e/ou com poder judicial.
     
A produção de suínos no Brasil pode ainda estar longe de seguir um programa como o PQA Plus™. No entanto, para manter a competitividade da produção suína brasileira, principalmente no mercado internacional, a industria já precisa pensar na adaptação de seus critérios de avaliação das praticas de produção no que diz respeito a fatores relacionados ao bem-estar dos animais. Atualmente, a opinião pública e mudanças nas legislações tem sido a força causal maior em provocar mudanças em praticas de produção que afetem o bem-estar, não somente de suínos  mas em outras espécies de produção em lugares como os Estados Unidos e Europa. No entanto, iniciativas ‘amigáveis’, como e o caso do programa PQA Plus, que tem o objetivo de educar os produtores sobre o bem-estar animal e boas praticas de produção, podem ser eficientes e menos severas para com a industria e ao mesmo tempo garantir a credibilidade para o consumidor sobre a forma como os suínos são criados e abatidos.
Referencia
http://www.pork.org/Producers/PQAP.aspx?c=PQA

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