quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Enriquecimento antioxidante na alimentação animal melhora saúde de crianças

Enriquecimento antioxidante 29/09/2011 Por Fábio de Castro Agência FAPESP – Depois de adicionar óleo de girassol com selênio orgânico e vitamina E à ração de vacas, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estudou não apenas o efeito produzido nos próprios animais, mas também em crianças que consumiram seu leite. Os resultados mostraram que, além de trazer benefício à saúde das vacas e aumentar a produção leiteira, a ração enriquecida melhorou a conservação do produto e aumentou os níveis de selênio e vitamina E no sangue das crianças que consumiram o leite suplementado. O trabalho, que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, foi coordenado por Marcus Antonio Zanetti, professor do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga (SP). O outro autor do trabalho, Arlindo Saran Netto, teve Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP e, durante sua pesquisa, em 2010, foi contratado como docente da FZEA. De acordo com Zanetti, o estudo é pioneiro por seu formato, ao associar a área de zootecnia e nutrição animal ao levantamento feito sobre os efeitos do produto na saúde humana. O trabalho foi feito em parceria com pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) em Ribeirão Preto (SP). “Muitos estudos têm sido feitos sobre as possibilidades de alterações na alimentação de animais com a finalidade de melhorar, em tese, a qualidade de produtos para consumo humano. Mas o nosso trabalho deu um passo adiante, ao comparar o efeito do produto enriquecido ao do leite comum, e avaliar se ele realmente é melhor para a saúde humana”, disse Zanetti à Agência FAPESP. Por ter conhecidos efeitos antioxidantes, o selênio é um mineral importante para combater os radicais livres. Segundo Zanetti, estudos realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP comprovaram que a dieta brasileira é deficiente no mineral – com exceção da região Norte, onde há alto consumo de castanha-do-pará, rica em selênio. A vitamina E foi combinada ao mineral por ter efeitos antioxidantes complementares. “As doenças cardiovasculares são consideradas os principais problemas de saúde pública e o leite, alimento rico em diversos nutrientes, é frequentemente relacionado a elas pela sua proporção de ácidos graxos saturados e pelo teor de colesterol”, apontou. O óleo de girassol foi utilizado como fonte de gordura para o enriquecimento da ração de modo a aliar sua ação aos efeitos antioxidantes do selênio e da vitamina E na composição físico-química do leite. “O óleo tem a função de mudar o perfil dos ácidos graxos no leite, melhorando o produto do ponto de vista da nutrição. Além disso, ele potencializa o efeito dos antioxidantes”, explicou Zanetti. Essa mudança de perfil diminui a vida útil do leite, que pode estragar mais rapidamente. Mas os antioxidantes se encarregam de reverter esse efeito. No experimento, foram utilizadas 24 vacas distribuídas em quatro tipos de tratamento. Um grupo de controle recebeu ração comum, o segundo grupo recebeu ração com adição de 2,5 miligramas de selênio e 1000 UI de vitamina E ao dia. O terceiro grupo recebeu ração com adição de 3% de óleo de girassol e o quarto grupo consumiu a ração com adição do óleo de girassol com 2,5 mg de selênio e 1000 UI de vitamina E ao dia. “Medimos diariamente o consumo e produção de leite dos animais e as amostras de leite foram colhidas semanalmente para análises de gordura, proteína, lactose, cálcio, fósforo, sólidos totais e contagem de células somáticas. O leite obtido de cada tratamento foi pasteurizado e colocado em seu respectivo recipiente. Também foi incluído um tratamento com o leite desnatado”, explicou. Mais selênio O leite foi fornecido às crianças de primeira a quarta série que permanecem em período integral na Escola Professora Stela Stefanini Bacci, no município de Casa Branca (SP). Foram recrutados 100 indivíduos previamente examinados por meio de exame clínico e laboratorial e identificados como saudáveis. “As crianças, de 7 a 10 anos de idade, foram submetidas a avaliações antropométricas e exames bioquímicos do sangue, feitos em laboratório de análises clínicas. As colheitas de sangue foram realizadas por uma equipe médica”, disse Zanetti. Vários resultados foram obtidos. Segundo o cientista, os benefícios da ração enriquecida foram observados em primeiro lugar nos animais. “A inclusão de óleo de girassol com adição de selênio orgânico e vitamina E trouxe efeitos benéficos para a saúde da glândula mamária das vacas, resultando em menor incidência de mastite subclínica, maior média de produção de leite, menor ingestão de matéria seca e menor teor de gordura no leite”, afirmou. Além disso, a suplementação das vacas com selênio e vitamina E foi eficiente em melhorar a concentração de selênio e vitamina E no soro e aumentou significativamente a concentração dos dois antioxidantes no leite produzido pelos animais. Os antioxidantes, por sua vez, melhoraram a capacidade de conservação do leite. “A suplementação com óleo de girassol na dieta das vacas, por outro lado, alterou significativamente o perfil de ácidos graxos no leite. Um dos efeitos mais notáveis foi aumentar o teor de ácido linoleico conjugado (CLA) no produto”, disse. Quanto às crianças, aquelas que receberam leite de vacas suplementadas com selênio e vitamina E tiveram maiores concentrações dos antioxidantes no plasma sanguíneo. “Com a adição da vitamina E na ração, observamos um aumento de 33% no nível sérico de vitamina E na corrente sanguínea das crianças”, contou o professor da FZEA-USP. As crianças que consumiram o leite das vacas que receberam apenas o óleo de girassol adicionado na ração tiveram o teor de vitamina E ainda mais aumentado: 45%. “Isso ocorreu porque o óleo potencializa a absorção de vitamina E”, disse. No entanto, as crianças que ingeriram leite desnatado tiveram uma redução no nível de vitamina E de 15% em relação ao grupo controle. “As crianças que ingeriram leite de vacas suplementadas apenas com selênio e vitamina E tiveram um aumento de selênio no sangue de 160% em relação ao grupo controle. Nas crianças que ingeriram leite de vacas suplementadas com óleo de girassol o selênio variou muito pouco, aumentando em 4%. Mas, naquelas que ingeriram leite desnatado, o selênio diminuiu em 20%”, afirmou. A conclusão é que no leite produzido pelas vacas cuja ração foi enriquecida com selênio, vitamina E e óleo de girassol aumentaram os níveis de antioxidantes e CLA no organismo das crianças, o que, segundo Zanetti, traz benefícios à saúde. “Infelizmente não temos leite enriquecido no Brasil. Seria benéfico que ele fosse produzido e colocado no mercado – especialmente porque sabemos que o selênio é escasso na dieta da nossa população. Além disso, o processo de enriquecimento não é caro”, afirmou. http://agencia.fapesp.br/14557

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