sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mike Nidd, da Nova Zelândia, apresenta recomendações para melhorar frigoríficos da Bahia

Conheça Michael Nidd, especialista neozelandês em frigoríficos, que veio ao Brasil prestar consultoria a frigoríficos na Bahia. Saiba quais são suas recomendações para aumentar a produtividade, eficiência e qualidade sanitária da carne bovina produzida no Brasil.

Em Julho de 2011, a Associação de Frigoríficos do Nordeste- AFIN esteve na Nova Zelândia (NZ) para conhecer o setor frigorífico do país e foi recepcionada pelo neozelandês Michael J. Nidd (Mike), consultor especialista em indústrias frigoríficas pelo mundo.

O BeefPoint conheceu Mike por meio do Alex Bastos, Diretor Executivo da AFIN, e preparou uma entrevista para conhecer mais o sistema de frigoríficos defendido por Mike.

Mike é Engenheiro Industrial, tem mais de 40 anos de experiência com indústrias frigoríficas, é Diretor da Proand, empresa responsável por novos projetos de indústrias já consolidadas e em instalação em várias partes do mundo, como Arábia Saudita, Chile, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Islândia, Rússia, México e recentemente no Brasil.

Sua experiência começou como operador na linha de abate enquanto era estudante. Passou a fiscal do governo de qualidade e higiene em plantas frigoríficas até ter a oportunidade de entrar em uma empresa inglesa de processamento de carne bovina e ovina com quatro plantas na Nova Zelândia. Mike diz que o trabalho foi interessante, pois ficou envolvido com desenvolvimento de novos sistemas e visitava inúmeras plantas buscando aperfeiçoamento de processos, ficando responsável também pelo treinamento das pessoas após as modificações implantadas.

Em 1984, Mike saiu da empresa e junto com um sócio fundou a Proand, especializada em consultoria técnica e design exclusivos para indústria de carne vermelha.

Nos anos 80 e 90, muitas das plantas da NZ já tinham sido desenhadas pela Proand, que tem como significado produção, análise e design. A partir daí foram convidados para montar plantas na Austrália e seguiram conquistando clientes. “Nós acreditamos que o que temos a oferecer é único no mundo”, diz Mike.

Além de projetar novas plantas, a adaptação de plantas existentes é o principal foco de negócio da Proand, sendo esse o motivo de sua visita ao Brasil em novembro/2011, a convite da AFIN para conhecer e analisar plantas frigoríficas de bovinos e ovinos na Bahia.

Nidd defende uma operação nas plantas com velocidade de 30 a 50 animais abatidos/hora, diferente das plantas brasileiras e americanas que tem capacidade de abater de 70 a 100 animais/hora. O método implantado pela Proand otimiza o processo interno da indústria reduzindo necessidade de mão-de-obra, melhorando o controle da higiene e diminuindo as chances de contaminação das carcaças.

Mike diz: “esse é o principal ponto do sistema neozelandês, linhas mais curtas, de 35 animais/hora com 17 a 20 pessoas na planta. Enquanto 100 animais/hora são necessárias por volta de 80 pessoas…”. Ele completa dizendo que na NZ “as plantas trabalham de 6 a 7 dias por semana, as plantas são menores só que com turnos de 16 ou 20 horas de trabalho”.

Outros dois pontos importantes citados por Mike responsáveis por garantir a qualidade final da carne são a lavagem completa dos animais antes de entrarem na linha de abate, diminuindo assim a entrada de contaminantes na indústria; o segundo ponto é a limpeza dos equipamentos e mãos dos funcionários, sendo a lavagem e esterilização constantes. Este segundo ponto depende de muito treinamento até se tornar “automático”, comenta Mike, enfatizando que o treinamento é um ponto chave para o bom funcionamento da linha de produção.

O grande benefício do controle da higiene na indústria é manter a boa qualidade da carne. Segundo Mike, a vida de prateleira da carne neozelandesa é de 16 semanas, o que é necessário ao país devido ao seu mercado consumidor ser praticamente todo no exterior. Quanto maior for a vida de prateleira da carne, menores serão os prejuízos causados pelo tempo de viagem até seu destino.

Questionado sobre o que reparou em sua visita às plantas da Bahia, Mike disse que alguns equipamentos não estavam esterilizados adequadamente, e que na NZ seriam casos de paralisação da planta até sua regulamentação. Como solução, o treinamento dos funcionários seria a melhor opção no caso brasileiro.

Continuando a conversa, o principal ponto negativo observado por Mike no Brasil foi a tecnologia antiquada dos equipamentos utilizados no país em comparação com os equipamentos da NZ, tanto nas plantas para bovinos quanto para ovinos. E são nestes casos que foram levantadas as maiores oportunidades de melhoria, disse Mike, “para tornar as plantas mais eficazes, reduzindo o tempo do processo, custos e mão-de-obra“, com equipamentos que demandam menos pessoas em diversos passos no processo de abate e limpeza da carcaça.

Já os pontos positivos levantados pelo consultor foi a qualidade da carcaça dos animais abatidos, “a conformação da carcaça é fantástica, os animais são maravilhosos”, disse. A receptividade dos brasileiros em começar a implementar as mudanças sugeridas também o surpreendeu positivamente. Principalmente com os objetivos de aumentar a higiene e a vida de prateleira da carne produzida.

Os maiores benefícios a serem alcançados pelas plantas brasileiras após implementarem as mudanças sugeridas são a melhor qualidade da carne, melhor higiene, redução da mão-de-obra, sempre com o objetivo de otimizar a utilização das instalações da planta, permitindo melhor resultado financeiro. Mike incentiva visitas à NZ para verificar o uso dessas tecnologias e ver que é possível implementá-las. Durante toda a conversa ele foca em transferência de tecnologia, dizendo que a utilizada na NZ é aplicável em qualquer outra planta no mundo.

Sobre a redução da velocidade de abate proposta, questionamos se os frigoríficos brasileiros não perderiam em produtividade e Mike respondeu que “não, queremos abater com o maior retorno financeiro possível. Se modificarmos as plantas brasileiras aumentando a eficiência (qualidade e rendimento), abatendo menos animais por hora, fazendo dois turnos de trabalho de 8 ou de 10 horas como na NZ e trabalhando de 6 a 7 dias/semana (no Brasil são 5 ou 5,5), podemos aumentar o número de abate anual com menor necessidade de mão-de-obra e consequentemente maior lucratividade para a planta.”

Sobre o padrão das indústrias frigoríficas pelo mundo, Mike explica que a Austrália tem um alto nível tecnológico, já que o país segue o padrão neozelandês. Explicando o que seria esse alto nível tecnológico, Mike diz que na NZ todas as plantas são preparadas para vender (ou exportar) para qualquer mercado, porque praticamente toda carne produzida é exportada, o mercado consumidor interno é muito pequeno. Por exemplo, todas plantas fazem o abate halal, mesmo que ainda não exportem para países muçulmanos. Mike diz que é preciso se antecipar para aproveitar futuras oportunidades de abertura de mercado. Além disso, todas plantas da NZ são autorizadas à exportar para a UE, aprovadas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) e também para a China, mercado bastante restrito quanto aos pré-requisitos para importação. Outro ponto favorável à NZ para o mercado internacional é a ausência do vírus de aftosa no país, o que facilita as exportações.

Mike também explica que na NZ “qualquer um pode construir um frigorífico”, e que a fiscalização governamental é feita após a planta estar pronta. Desta forma ele diz que “são livres para desenvolver novas tecnologias por nossa conta, o que é uma dificuldade vista no Brasil, onde não há essa oportunidade. O Governo limita a criação de novas tecnologias”, se referindo ao sistema brasileiro de fiscalização e autorização, que limita o uso só para determinados equipamentos e a burocracia necessária para criação de novas estruturas e/ou equipamentos.

Uma das tecnologias desenvolvidas que Mike descreveu foi um sistema que mede o rendimento da desossa durante o processo e não pelo peso bruto no final da desossa. Nesse sistema, as peças de carne são pesadas assim que desossadas e seu peso é comparado a um banco de dados, indicando qualquer falha no processo caso o peso real estiver acima ou abaixo da média prevista. Dessa maneira é possível identificar a carcaça em questão e a pessoa responsável pelo corte, identificando o erro antes do final da desossa e melhorando seu rendimento. “Acompanhamento de resultados em tempo real, esse é o futuro para o Brasil”, comenta Mike, que pode ser considerado como o futuro da indústria frigorífica para qualquer outro país.

http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/entrevistas/mike-nidd-da-nova-zelandia-apresenta-recomendacoes-para-melhorar-frigorificos-brasileiros/

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