terça-feira, 8 de maio de 2012

Destinação final de resíduos sólidos em aproveitamento energético, artigo de Roberto Naime


[EcoDebate] O processo de produção de energia a partir de tratamento térmico e geração de energia a partir dos resíduos urbanos não recicláveis é altamente favorável sob várias dimensões de análise.
Desde que realizado após criteriosa e abrangente institucionalização de coleta seletiva contribui para que todos os materiais com mercado de reciclagem firme sejam convenientemente atendidos.
Contribui para geração de emprego, renda e ocupação para toda uma extensa faixa de população menos favorecida que tem nos mecanismos de reciclagem e catação um forte instrumento de inclusão social.
Auxilia a economia ambiental de forma holística ao propiciar que matérias-primas de diversas naturezas entrem novamente no ciclo produtivo, evitando os impactos ambientais gerados pelo processamento de novas matérias-primas, de fontes renováveis ou não.
Somente serão submetidos ao tratamento térmico para recuperação energética uma boa parte da matéria orgânica e os materiais não-recicláveis. O histórico dos municípios integrantes da bacia hidrográfica do rio dos Sinos e consorciados no consórcio intermunicipal de saneamento básico do rio dos Sinos – Pró-Sinos é de amplas iniciativas já históricas de muito tempo, apoiando cooperativas de catadores e operações de reciclagem em geral.
Não existe motivo para suspeitar que a negligência da prática pública de optar pelas soluções simplificadas como a recuperação energética, coloque em risco iniciativas do mais amplo apoio e repercussão social na sociedade dos municípios integrantes da bacia.
Outro bom motivo para esta solução será a presença em curto espaço de tempo de grandes quantidades de lodo e matéria orgânica advindos de estações de tratamento de esgotos, que tem umidade elevada mas também alto poder calorífico e terão na solução integrada de incineração um forte apelo de destinação correta, pois em caso contrário serão elevadas as despesas com destinação final deste material em aterros sanitários.
Existem várias tecnologias disponíveis e apresentadas ao longo do relatório, mas em geral o tratamento térmico dos resíduos em fornos ocorre em média em temperaturas de 950º C e a oxidação dos gases nas câmaras de pós-queima atinge temperaturas em torno de 1050°C, com tempo de residência muito reduzido, em torno de segundos de tempo.
As cinzas são recolhidas em arrastadores submersos em corrente de água e lançadas no próprio decantador das usinas. Há uma extensiva discussão de gases gerados ao longo do trabalho, e esta preocupação se justifica na medida que os órgãos ambientais tem reservas históricas e justificadas de precaução quanto às possibilidades de geração de efluentes gasosos que poluam a atmosfera.
Dados pesquisados de relatórios do Ministério do Meio ambiente, preservação ambiental e segurança nuclear da República Federal da Alemanha asseveram que nas novas tecnologias para recuperação energética a partir de resíduos sólidos, os níveis de dioxinas e furanos são extremamente baixos e controlador, inferiores a unidade parte por milhão, e mais influenciados por lareiras domésticas do que propriamente pelas usinas.
Os gases quentes (cerca de 1000º C) são aspirados através de uma Caldeira de Recuperação, onde é produzido vapor a 45 Bar de pressão e 400° C.
O vapor gerado pela caldeira poderá acionar Turbos-geradores, que propiciem a geração de aproximadamente 600 kW de energia elétrica por tonelada de lixo tratado. É muito importante observar-se que a energia gerada é um sub-produto do processo de destinação final ambientalmente correta do lixo urbano e como tal uma Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos nunca deve ser comparada com hidrelétricas ou termelétricas, cuja única função é a geração de energia.
A recuperação energética aproveita o potencial de geração contido nos resíduos que seriam simplesmente destinados a um aterro sanitário, gerando um passivo ambiental imensurável. A coleta seletiva e reciclagem prévia contribui para a geração de emprego e renda entre as camadas menos favorecidas da população e para a conservação de energia contida nos materiais remetidos para a indústria de reciclagem.
Os gases exauridos na caldeira de recuperação, geralmente sofrem processos de neutralização considerando que os processos ocorrem em circuito fechado, com filtros de mangas, lavadores de gases e até mesmo tanques de decantação. Desta forma as usinas de recuperação de energia não liberam qualquer tipo de efluente líquido.
Normalmente os processos de lavagem dos gases utilizam filtros de mangas que capturam os materiais particulados e posteriormente são resfriados e lavados no interior de lavadores com “spray jets” e “barreiras de soluções alcalinas micronizadas por hélices turbinadas ou mecanismos similares, num processo que se denomina polimento dos gases.
Ainda podem ser instalados exaustores após a filtragem, garantindo que todo o sistema de combustão dos resíduos opere em pressão negativa, impedindo também qualquer vazamento dos gases da combustão diretamente para a atmosfera em caso de acidente.
Os projetos são muito diversificados, mas normalmente a solução de lavagem é recolhida em tanques de decantação onde ocorrem neutralizações com cinzas do próprio processo ou substâncias como hidróxidos de sódio.
As cinzas resultantes constituem quantidades em geral inferiores a 10% da massa de resíduos iniciais e podem ser utilizadas em substituição aos materiais arenosos em artefatos de construção civil.
Qualquer que seja o projeto de recuperação energética, deve constar especificação para que o mesmo seja analisado de acordo com a convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). E também tendo precauções quanto a eliminação de CO, operação em pressões negativas para evitar acidentes e sejam submetidos a temperaturas elevadas em estágios para oxidação dos gases.
É também recomendável que a tecnologia submetida seja elaborada ao Sumário de Formulações Políticas do IPCC da ONU (Intergovenamental Painel Climate Change ou Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas).
A expectativa da consultora é que qualquer processo desta natureza que reduz a emissão de gases de efeito estufa, particularmente CH4 e CO2 – gases que constituem juntos mais de 80% das emissões registradas pela bibliografia em resíduos sólidos, sejam capazes de promover a certificação do projeto como mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) e os respectivos certificados de redução de emissões (CERs) sejam passíveis de comercialização como créditos de carbono.
Este procedimento poderá ser bastante ampliado, considerando a redução das distâncias de transporte dos resíduos que irão gerar redução nas emissões de CO2 dos veículos transportadores e outros processos que possam ser otimizados.
Dr. Roberto Naime, Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

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