segunda-feira, 25 de junho de 2012

Alergia a animais afeta um em cada seis trabalhadores de laboratórios


Pesquisa feita na FMRP/USP mostra também que apenas 19% dos pesquisadores e funcionários usam máscara de proteção de forma rotineira (Wikimedia)Share on printfriendly
Por Karina Toledo
Agência FAPESP – Mais de 16% dos pesquisadores e funcionários que atuam em biotérios e laboratórios desenvolvem alergias às proteínas eliminadas na urina, na saliva ou nos pelos dos animais. Embora a exposição constante a esses alérgenos coloque os trabalhadores em risco de desenvolver doenças como asma, apenas 19,4% usam máscara de proteção de forma rotineira.
Os dados são de uma pesquisa feita na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP/USP), coordenada pelo professor Elcio dos Santos Oliveira Vianna e financiada pela FAPESP.
A equipe investigou 455 trabalhadores, entre funcionários, estagiários e estudantes de graduação e pós-graduação, que lidam diretamente com cinco espécies de animais: ratos, camundongos, cobaias, coelhos e hamsters.
“Para aumentar a abrangência do estudo foram incluídos voluntários que atuam nos laboratórios e biotérios da USP de Ribeirão Preto e também da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)”, disse Vianna.
Outros 387 trabalhadores dessas duas instituições foram recrutados para compor o grupo controle. “Nesse caso, escolhemos funções com baixa exposição a substâncias alergênicas, como as da área administrativa, motoristas e técnicos de informática”, explicou Vianna.
Os cientistas submeteram voluntários dos dois grupos a testes cutâneos para ver quantos reagiam aos alérgenos mais comuns, como proteínas de ácaros, fungos, grama, cachorro, gato e barata. Em seguida, outro teste cutâneo foi feito com alérgenos dos cinco animais de laboratório.
No teste de alergia geral, o índice de sensibilização foi semelhante nos dois grupos. Já no teste específico para animais de laboratório, o grupo exposto apresentou índice de 16,4% de sensibilização, enquanto o grupo controle apresentou índice de 3%.
“Esses 16,4% já se tornaram alérgicos a animais de laboratório e, quanto mais tempo continuarem se expondo a esse ambiente sem proteção adequada, mais forte essa reação vai se tornar. O primeiro passo é a rinite, mas o quadro pode eventualmente piorar para asma”, disse Vianna.
As alergias respiratórias são as mais comuns nessas situações, pois as proteínas eliminadas pelos animais ficam suspensas no ar e são aspiradas pelos trabalhadores.
“Por isso o uso de máscaras é tão importante nesses casos, mas apenas 19,4% dos voluntários declararam fazer uso desse equipamento de proteção individual todas as vezes que manuseavam animais”, disse Vianna.
Já o uso de luvas foi bem mais frequente: 78% disseram usar rotineiramente. Embora os equipamentos de proteção individual estivessem disponíveis em quase todos os laboratórios avaliados no estudo, apenas 20% dos voluntários disseram ter recebido orientação sobre a importância de usá-los.
Prevenção
“Um dos objetivos do nosso estudo é avaliar a necessidade de programas de prevenção nas universidades. No futuro, pretendemos propor algumas metodologias e testar se são eficazes”, disse Vianna.
Na Alemanha, segundo o pesquisador, foi possível reduzir o índice de sensibilização a menos de 1% graças a programas de proteção individual e também ambiental.
Dados de uma pesquisa anterior coordenada por Vianna, publicada no periódico Occupational & Enviromental Medicine, apontaram que 4% dos jovens entre 23 e 25 anos de idade no Brasil têm quadro de asma relacionada ao trabalho.
“A prevalência de asma na população como um todo é de 10%. Vimos que 4% dos jovens adultos têm um quadro de asma que ou começou ou foi agravado no ambiente de trabalho. E 2,7% desenvolveram asma apenas por causa do trabalho”, disse Vianna. 

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