Para aquele que pensa em comprar um filhote, mas ao deparar-se com o preço acha um absurdo, não se iluda. Esta é a primeira parcela de muitas que virão. Parcelas por doenças, cirurgias, remédios.
É claro que ninguém compra um filhote pensando nos gastos que ele dará ao decorrer da vida. Do mesmo jeito que ninguém tem um filho e, olhando-o pela primeira vez, pensa no dinheiro com convênio de saúde, escola, mesada...
Talvez, ali esteja o grande problema para os futuros cães, gatos, tartarugas e outros. Quase ninguém pensa que um dia eles se tornarão adolescentes, adultos, velhos. Todas as fases com seus respectivos gastos.
A verdade é que quando se compra um filhote, compram-se problemas congênitos, sarnas, pulgas, carrapatos. Tudo o que deveria estar incluso na certidão de nascimento. Golden Retriever: linda pelagem dourada, dócil, amigável, sua morte será provavelmente devido ao câncer. Boxer: dócil e companheiro, sua provável morte: câncer. Furão (ferret): curioso, companheiro, independente, morrerá de câncer.
A diferença entre um filhote humano e não humano é que o primeiro vem do jeito que vem e a gente ama. O segundo, os menos informados escolhem. Sendo muito provável escolherem, mais para frente, sua morte precoce, não gastando assim mais dinheiro com tratamento.
Dias atrás, em uma dessas redes sociais, uma mulher anunciou que queria adotar um gato. Foi uma alegria só. Dezenas de fotos foram divulgadas. Eram gatos grandes, pequenos, amarelos, pretos, brancos, brancos com manchas marrons e pretas, rajados de todas as cores, peludos, pelados. Nenhum. Dizia a mensagem: “Nenhum desses! Tem que ser igual ao Alfredo.” “Quem é Alfredo?”, perguntou um. “Meu gato cinza. Tem que ser igual!”
Acho que as pessoas que acompanhavam com esperança a escolha da mulher foram tomadas por um único sentimento. Incompreensão. A conversa parou ali. Ninguém mais se atreveu a postar mais fotos ou escrever algo.
Como assim? Adotar é ato de amor. Ato solidário. Talvez não o seja para aquela mulher. Pelo menos ela poderia ter definido o tipo de amigo. “Quero adotar um amigo. Entretanto, ele deve preencher alguns requisitos: ser cinza, pequeno, pêlo curto, olhos azuis, miar apenas das oito da manhã ao meio-dia.” Talvez assim ela deixasse de iludir outros gatos a procura de um lar.
A propósito, muitos são os que procuram amigos com alguns pré-requisitos. Rico. Bonito. Que empreste dinheiro e depois se esqueça de cobrar. Empreste o carro a hora que for. Convide para fazer compras, almoçar, tomar café; que ele pague tudo sempre. Que sempre dê bons conselhos. Que nunca se lamurie. Que seja só alegria.
Nos casos acima, não se quer adotar ou ter um amigo. Desejam-se veículos para satisfação de prazeres superficiais. É a explícita e sem-vergonha troca de valores. Engana-se aqui: adoção. Pesa-se menos aqui: interesse.
Encontrar um amigo é olhar e ter afeição. Querer ajudar e ser ajudado. Ter afinidade. Quem não teria afinidade por um cãozinho abandonado no meio da rua? “Ah, não! Não tive afinidade no primeiro olhar”, ou um gatinho miando de fome? “Não houve química entre nós!”
A afinidade não se compra. Não está na cor ou na forma. Na precisão dos detalhes daqueles que um dia fizeram parte da sua vida. A afinidade nasce da vontade humana de ajudar. Nasce quando se vê um olhar triste pelo mundo que se enfrentou. Um olhar esperançoso da vida futura. Um olhar da ajuda que pode ser dada.
Um amigo pode estar nas ruas gélidas de qualquer lugar do mundo. Numa loja de gente rica. Num canil de fundo de quintal. Do lado de casa. Na calçada que se caminha. Em qualquer lugar. Ele pode ser animal ou gente.
Se a chance for dada, o amigo aparece. A amizade será a mais profunda e sincera. Os momentos felizes serão inigualáveis. A cumplicidade será mútua. Certamente não é o seu dinheiro que comprará sua amizade, e sim a vontade de se doar por outro ser. Já dizia alguém: “Ame um animal, e ele certamente amará você.”
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