domingo, 26 de maio de 2013

Chefe do CCZ de Ribeirão Preto é demitida e alega perseguição política


Ana Lúcia Baldan diz ter sido pressionada várias vezes por vereadora.

Estopim para exoneração seria a eutanásia de um cão com leishmaniose.

Fernanda Testa
Do G1 Ribeirão e Franca

A chefe do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Ribeirão Preto (SP), Ana Lúcia Baldan, foi exonerada do cargo após autorizar o sacrifício de um cachorro com leishmaniose no município. A exoneração, assinada pelo prefeito em exercício Marinho Sampaio (PMDB), foi publicada na edição do Diário Oficial de Ribeirão desta quinta-feira (23). Ana Lúcia afirma que só soube da decisão na manhã desta sexta-feira (24) e credita a exoneração a uma suposta perseguição política por parte da vereadora Viviane Alexandre (PPS) - que teria indicado a veterinária ao cargo. Viviane nega a alegação. Já a Prefeitura classifica a demissão de Ana Lúcia apenas como uma "decisão de governo".
Ana Lúcia, que também é médica veterinária, afirma que, ao constatar a doença no animal, autorizou sua eutanásia, procedimento recomendado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária - a portaria interministerial 1426, do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, proíbe o tratamento com medicamento humano em cães com leishmaniose.
O caso chegou ao CCZ em março deste ano. Com suspeita de leishmaniose visceral americana, o cão foi encaminhado ao departamento de zoonoses, que colheu material para exame e enviou para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. A confirmação da doença veio em 30 de abril. "Procurei a família dona do cãozinho para explicar os procedimentos da Secretaria de Saúde nesses casos, que seria o sacrifício do animal por eutanásia. Expliquei que existia tratamento, mas que era preciso ver a viabilidade disso para o animal, visto que é um tratamento sofrido e que, assumindo o tratamento, a família também estaria se responsabilizando por um problema de saúde pública", afirma.
Os donos do cachorro, segundo Ana Lúcia, teriam pedido para consultar o veterinário da família. No dia 7 de maio, a então chefe do CCZ entrou em contato com o profissional para explicar o protocolo adotado pela Prefeitura em casos de leishmaniose em cães. "Eu disse que ele teria que saber todo o risco que estaria assumindo diante da saúde pública. Ele me pediu um dia para pensar e em 8 de maio afirmou que não trataria o animal", diz.
Mesmo assim, a família se recusou a entregar o cachorro ao CCZ e em 9 de maio Ana Lúcia entrou com um pedido na Justiça pela eutanásia do animal, o que foi acatado pelo juiz no dia 10. "O animal foi retirado da família pelo oficial de Justiça e sacrificado naquele mesmo dia", afirma.
Perseguição política
O episódio da eutanásia, segundo a veterinária, teria sido a oportunidade encontrada pela vereadora Viviane Alexandre para tentar justificar descontentamento com a então chefe do CCZ. "Acredito que essa tenha sido a chance usada para criticar meu trabalho e dizer que eu, como chefe do CCZ, não fiz nada para evitar a eutanásia do animal", diz.

Segundo Ana Lúcia, o cargo na Prefeitura foi oferecido em outubro de 2012 por Viviane, assim que ela foi eleita vereadora em Ribeirão para o mandato 2013-2016. Desde fevereiro, quando assumiu o posto no CCZ, Ana diz ser obrigada pela parlamentar a prestar esclarecimentos sobre tudo que fazia na divisão.
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Trecho de e-mail mostra vereadora Viviane Alexandre (PPS) cobrando satisfações da então chefe da CCZ, Ana Lúcia Baldan (Foto: Reprodução/EPTV)
Trecho de e-mail mostra vereadora Viviane
Alexandre (PPS) cobrando satisfações da então
chefe da CCZ, Ana Lúcia Baldan
(Foto: Reprodução/EPTV)
"Ela solicitava a todo momento que eu falasse tudo o que estava acontecendo lá. Pedia relatórios e também pedia para que tudo que acontecesse de diferente fosse creditado a ela. O fato de eu conseguir uma área de lazer para animais, por exemplo, eu teria que dizer que foi ela quem fez. Eu não consigo me submeter a isso. Não consigo ser uma pessoa que fala para os meus funcionários aquilo que alguém não fez", afirma.
A veterinária diz que informou as duas assessoras de imprensa de Viviane - que também são membros de ONGs em defesa dos animais - sobre a doença do cachorro e o procedimento da eutanásia na semana em que visitou a família do animal. Mesmo assim, a vereadora enviou e-mails a Ana Lúcia cobrando explicações sobre o caso.
Em um dos e-mails, enviado no dia 9 de maio, Viviane pergunta por que o caso não tinha sido "passado" para ela e solicita, em tom de ordem, mais informações: "O que vc [sic] estava esperando? Quantos casos de Leish [sic] entraram no CCZ de RP e que vc [sic] ainda não me passou? Nome, endereço e telefone! Quero relatório completo de todos", diz, na mensagem.
Ana Lúcia respondeu somente que o fato havia sido comunicado às assessoras da vereadora. Nesta quarta-feira (22) a veterinária teria sido ameaçada por Viviane por telefone. "Eu liguei para ela para falar de outro assunto e ela me avisou por telefone que minha exoneração sairia ainda essa semana, que ela havia pedido isso. Disse que eu não sou parceira, que sou uma pessoa técnica, e que ela não queria sentada naquela cadeira [do CCZ] uma pessoa técnica. Ela queria uma parceira", afirma a veterinária.
Decisão de governo
Procurada pelo G1, a vereadora Viviane Alexandre informou que não teve participação alguma na indicação ou na exoneração de Ana Lúcia, e que as acusações feitas pela veterinária seriam "infudadas", uma vez que "a decisão de contratar ou exonerar funcionários da Prefeitura Municipal compete única e exclusivamente ao Executivo", afirmou, na mensagem. Indagada sobre qual seria sua relação com Ana Lúcia, Viviane se limitou a dizer que conhecia o trabalho dela como veterinária.

A vereadora, que também é presidente e criadora da Comissão Permanente de Defesa e Direito dos Animais da Câmara Municipal, atribuiu ao seu cargo de vereadora a justificativa de fiscalizar constantemente o trabalho do CCZ. "Tenho competência para fiscalizar o trabalho do Executivo, sendo assim, posso questionar as ações da administração por requerimento, ofício, pessoalmente ou por e-mail", disse. Viviane não se manifestou, no entanto, acerca da possível ameaça por telefone sobre a exoneração de Ana Lúcia.
G1 também entrou em contato com a Prefeitura e indagou os motivos que teriam levado a administração a exonerar a veterinária do cargo. Em nota, a assessoria de imprensa informou apenas que "a exoneração da referida profissional foi uma decisão de governo".
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Ana Lúcia Baldan diz ter sido vítima de perseguição política enquanto esteve no comando da CCZ (Foto: Reprodução/EPTV)Ana Lúcia Baldan diz ter sido vítima de perseguição política enquanto esteve no comando da CCZ (Foto: Reprodução/EPTV)
http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2013/05/servidora-e-exonerada-apos-sacrificar-cao-com-leishmaniose-em-ribeirao.html

Um comentário:

  1. A profissão de Médico Veterinário têm que ser carreira de Estado.Enquanto isso não acontecer estamos sujeitos a todo tipo de perseguição. Porque os CRMVs e CFMV não enfrentam esta luta de frente em prol da carreira de Estado? Os sindicatos eu nem falo nada já que servem apenas para cobrar anuidade do Médico Veterinário.

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