segunda-feira, 29 de julho de 2013

Diarreia epidémica suína (DES) - Steven McOrist

Antecedentes
A diarreia epidémica suína (DES) e a gastroenterite transmissível (TGE) são doenças infecciosas suínas causadas por coronavírus parecidos, mas antigenicamente diferentes. Provocam anorexia, vómitos e diarreia em porcos de todas as idades, com uma mortalidade claramente mais elevada em leitões lactantes e desmamados.
Durante os últimos 40 anos, a prevalência destas doenças experimentou alterações consideráveis na Europa, Ásia e América do Norte, com um marcado aumento nas décadas de 1970 e 1980, seguido por uma considerável redução nos anos 90. A evidente redução da prevalência da TGE na década de 90 é atribuída à aparição de novas estirpes de campo de coronavírus respiratório porcino com uma capacidade natural para gerar imunidade nos seus hóspedes. No entanto, a capacidade deste vírus proteger contra DES parece ter desaparecido nos últimos surtos.

Etiologia e genómica
O vírus de DES é um coronavírus RNA monocatenário de polaridade positiva com um genoma de 28 kb de longitude. Tanto o vírus de DES como o de PRRS são ssRNA, pelo que ambos tendem a ser muito instáveis e têm facilidade para mutar e recombinar o seu genoma formando novas estirpes. Os viriões de coronavírus constam de uma nucleocápside envolvida por três membranas proteicas. No caso do de DES também contém  uma proteína de membrana conhecida como ORF 3.
Morfología del coronavirus.
Figura 1. Morfologia do coronavírus.

Problemas por DES na Ásia
Os grandes surtos de DES apareceram na Coreia nos anos 90 e foram seguidos por surtos associados em toda a Ásia oriental. Desde 2005 até à actualidade, os surtos de DES devidos a estas estirpes “coreanas” tornaram-se num problema para a indústria suína da Ásia oriental, especialmente nas Filipinas, que realizou várias importações de porcos coreanos em dito periodo. Desde 2008 produziu-se uma nova onda de surtos em toda a Ásia oriental, atribuída a novas estirpes de vírus de DES aparecidas na China, causando mais perturbações na produção suína da zona. Estes surtos actuais de DES estenderam-se por toda a China, alcançando também o Vietname e a Tailândia. A indústria suína destes países foi-se consolidando e expandindo, pelo que houve um grande movimento de porcos e pessoal entre os países da zona durante este periodo.
No mercado existem umas quantas vacinas locais, tanto atenuadas como mortas que foram sendo utilizadas massivamente para combater tanto as estirpes coreanas originais como as novas estirpes chinesas. As análises por PCR das sequências ORF3 das estirpes asiáticas do vírus de DES sugerem que haveria três grupos de vírus DES a circular, com alguma relação com uma estirpe de vacinas vulgarmente utilizada. A utilidade real de ditas vacinas nas explorações problemáticas foi, provavelmente, muito limitada. O controlo dos surtos nas explorações afectadas radica basicamente em tratar de criar imunidade mediante "feedback": proporcionando material infectado com vírus vivo (intestinos de leitões afectados). No entanto, pese a que esta prática demonstrou durante muito tempo ser eficaz nos surtos prévios, apenas foi conseguida uma imunidade transitória nos novos surtos. Os produtores reportam surtos recorrentes a cada 6 meses, cada um tão mau como o anterior. Este novo padrão pode ser explicado parcialmente pela presença simultânea de estirpes  patogénicas de PRRS, que reduzem a imunidade dos animais. Nos últimos meses ocorreram numerosos surtos de DES semelhantes ao longo dos EUA.

Sinais clínicos e patologia
Os sinais clínicos típicos dos surtos de DES actuais incluem anorexia, vómitos, desidratação e diarreia aquosa e amarelada em leitões (de 1 a 4 semanas de vida). Os estudos de exposição indicam um periodo de incubação de uns 3 dias. As figuras 2 e 3 ilustram casos típicos de DES asiático.
Lechones retrasados, con vómitos, desmedro y diarrea típica de PED en los brotes actuales en Asia.
Lechones retrasados, con vómitos, desmedro y diarrea típica de PED en los brotes actuales en Asia.
Figuras 2 e 3. Leitões atrasados, com vómitos, desmedro e diarreia típica de DES nos surtos actuais na Ásia.
O exame patológico dos leitões afectados mostra um conteúdo intestinal aquoso e amarelado e as paredes da mucosa intestinal estreitadas com um leve aumento dos gânglios linfáticos mesentéricos. O exame histológico mostra atrofia das vilosidades e tamanho reduzido nas secções dos intestinos afectadas.

Figura 4. Árvore filogenética do gen ORF 3 dos isolados recentes do vírus de DES em toda a Ásia.

Árbol filogenético del gen ORF 3 de los aislados recientes del virus de PED en toda Asia.
Diagnóstico de DES
No laboratório pode ser extraído o RNA a partir de suspensões frescas de conteúdo intestinal com kits comerciais. A transcripção reversa pode proporcionar cDNA para reacções de PCR incorporando um oligo-iniciador específico para o gen ORF3 ou outros sítios.
Os coronavirus são muitas vezes difíceis de cultivar e o DES não é uma excepção, pelo que a maioria dos esforços a partir de material de campo apenas têm êxito em algumas ocasiões. A utilidade dos isolados é que os genes chave podem ser completamente sequenciados, permitindo uma comparação melhor sobre a patogenicidade do vírus e a sua origem. Para tentar cultivar o conteúdo intestinal de casos positivos é homogeneizado por PCR, clarifica-se e inocula-se em culturas confluentes de células Vero. Os co-cultivos positivos para o vírus DES detectam-se pelos efeitos citopáticos (CPE, pelas suas siglas em inglês) em segundos passes, com fusão celular e formação de sincitios. A figura 4 mostra uma árvore filogenética típica dos actuais isolados asiáticos de DES.
O gene ORF 3 considera-se um elemento chave para a patogénese de DES, já que a sua sequência é considerada relativamente estável. No entanto, as árvores de análise filogenético mais recentes (figura 4) mostram que os isolados chineses recentes parecem formar dois ou mais novos grupos, procedentes das províncias do sul ou do centro-norte. Portanto é possível que novos grupos de vírus PED tenham aparecido no campo a partir de mutações pontuais e de eventos de recombinação.

Conclusões
Actualmente há uma elevada prevalência do vírus DES nas explorações chinesas e de outros países da Ásia, detectando-se em muitos surtos de diarreia severa. Este tipo de infecções tendem a acontecer com mais freqüência em grandes  explorações. Os sintomas das novas estirpes, tanto na Ásia como nos EUA, não são distinguíveis das aparecidas anteriormente em campo ou nos ensaios. É possível que as alterações detectadas no gen ORF 3 tenham potenciado a virulência do vírus DES em termos epidemiológicos. Os resultados de vários estudos sugerem que as estirpes asiáticas recentes tenham uma relação genética e protectora limitada com os coronavirus respiratórios que proporcionavam protecção natural. Portanto o mundo continua à procura de uma vacina útil contra a DES.

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