Qual a razão desta medida? Em primeiro lugar, durante as conversações anteriores, a parte brasileira foi solicitada a fiscalizar as empresas de transformação de carne avícola a fim de excluir desta lista as que utilizam soluções com teor de cloro para desinfetar os seus produtos. Esta prática é proibida pela legislação da Aliança Alfandegária. Infelizmente, esta fiscalização não foi realizada e a lista de empresas não foi atualizada. Nesta situação, surgem dúvidas a respeito da fidedignidade da certificação efetuada pelo serviço veterinário brasileiro.

Em segundo lugar, os produtores brasileiros – não todos, certamente, mas alguns deles – continuam a utilizar um estimulador de crescimento chamado ractopamina. Este perigoso suplemento de alimentação animal já foi várias vezes pedra de tropeço nas relações comerciais entre os dois países.

Dado o caráter das violações detetadas, a parte russa chegou à conclusão de que o atual sistema, de acordo com o qual cada lote de carne bovina ou suína vem acompanhada por um documento que garante a ausência de ractopamina, tem um caráter formal e não se justifica.

Solicitamos a Alexei Alekseenko, chefe do serviço de imprensa do Serviço Federal de Fiscalização Veterinária e Fitossanitária, que respondesse a várias questões.

"Será mais um turno de fiscalização de empresas brasileiras especializadas na transformação de carne. Semelhantes fiscalizações realizam-se de uma maneira bastante regular. Uma atenção especial será dedicada ao sistema que garante a segurança dos produtos fornecidos à Rússia. Trata-se, em primeiro lugar, de estimuladores biológicos, cujo uso é proibido no nosso país. Acontece que o Brasil pertence ao número de quatro países, ao par dos EUA, México e Canadá, que têm utilizado ativamente o estimulador farmacológico americano de produtividade, a ractopamina. Por isso, a tarefa principal dos nossos peritos consiste em certificar-se de que o sistema brasileiro de segurança não admitirá o fornecimento da carne com ractopamina ao nosso mercado. Além disso, serão fiscalizados também outros parâmetros, em particular, o grau de eventual contaminação da carne com metais pesados e outras substâncias microbiológicas. Isto é, será verificada a execução fiel das normas de segurança, previstas pela legislação da Rússia e da Aliança Alfandegária."

A questão de utilização deste complemento de alimentação animal foi discutida reiteradas vezes com os colegas brasileiros. Eles sabem e compreendem perfeitamente que o seu uso é proibido pela legislação russa mas desrespeitam as exigências em vigor. Por quê?

"Acontece que, neste caso, temos uma questão econômica. É que o uso de semelhantes preparados permite aumentar o peso vivo do animal em 10%. Mas o que nos interessa não é a vantagem obtida pelos colegas brasileiros, mas, sim, a segurança do consumidor russo."

Pode-se apontar na qualidade de momento positivo o fato de o serviço veterinário brasileiro ter preparado e entregado à parte russa as diretrizes de execução das exigências dos países-membros da Aliança Alfandegária, que estabelecem as normas de garantia da segurança da carne bovina, suína e avícola. O sistema tem como base o princípio de controlo total “desde a granja até o navio cargueiro”. Os especialistas russos irão estudar os documentos apresentados. Depois disso, as consultas serão continuadas.

Serguei Dankvert e Enio Marques trocaram também opiniões sobre os eventuais fornecimentos de cereais russos ao Brasil. Qual é a situação atual?

"Acontece que os países-integrantes do Mercosul resolveram eliminar as taxas alfandegárias impeditivas e pôr em ordem as tarifas. Portanto, o trigo russo passa a ser um produto em pé de igualdade com os produtos de outros países. E isso diz respeito não somente ao mercado brasileiro mas também a todos os mercados dos países da Comunidade Econômica da América do Sul. O Brasil foi o primeiro a manifestar interesse em relação à importação de trigo russo."

 

Os fatos citados são da responsabilidade do autor.