sábado, 15 de março de 2014

Trabalhadores de frigorífico são infectados por brucelose no Paraná

Casos foram diagnosticados em dezembro, em Paiçandu, mas só agora foram divulgados. Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Alimentação de Maringá denunciou situação à Comissão de Direitos Humano do Senado

Dezessete trabalhadores do frigorífico Big Boi, em Paiçandu, região metropolitana de Maringá, no Noroeste do Paraná, foram infectados pela bactéria brucelose, que causa a chamada “doença da vaca”. O caso foi registrado em dezembro de 2013, mas só foi divulgado nesta semana. Desde então, os funcionários estão afastados e em tratamento. No início da semana, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Alimentação de Maringá (Stiam), Roberto Pino de Jesus, denunciou o caso à Comissão de Direitos Humanos do Senado.
De acordo com o presidente do sindicato, a denúncia foi formalizada para chamar a atenção sobre a não aplicação da Norma Regulamentadora 36, em vigor desde abril de 2013, que dita as regras que estabelecem os requisitos mínimos para a avaliação, controle e monitoramento dos riscos existentes nas atividades desenvolvidas na indústria de abate e processamento de carnes e derivados.

Conforme Jesus, o equipamento de segurança individual, que protege corpo, boca e olhos, por exemplo, não estava sendo usado no frigorífico de Paiçandu. Mas o presidente enfatiza que o problema não começa aí. Segundo ele, há muitas falhas na fiscalização por parte do governo. “A fiscalização é ineficiente. Muitas vezes o pecuarista consegue burlar o sistema e consegue o GTA [Guia de Transporte Animal]. Apresenta a documentação afirmando que o animal foi vacinado, quando não foi e mesmo assim é mandado doente para o abate.”

Brucelose
A brucelose, também conhecida como doença da vaca ou doença de Malta, é uma enfermidade bacteriana que pode ser adquirida pela ingestão de carne crua ou leite não pasteurizado. Além disso, também pode ser contraída pelo manuseio dos alimentos infectados, explica o médico infectologista e professor do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar) Luiz Jorge Moreira Neto.
Os sintomas podem ser confundidos com uma gripe, diz o médico. Dores musculares, na cabeça e febre alta. No entanto, outros sintomas são acrescidos ao longo dos dias, como perda de peso, franqueza e crescimento de ínguas. Se não tratados, podem durar meses e acometer o sistema cerebral, causar infecção dos ossos e levar a morte.
O tratamento é feito a base de comprimidos e repouso e deve ser acompanhado por cerca de seis semanas.
Como prevenção o infectologista indica ingerir leite pasteurizado e somente comer carnes cozidas, evitando o consumo do alimento cru. (GF)
O gerente da Big Boi, Alex Costa, conta que três casos foram registrados durante os exames periódicos no final de novembro. Diante da situação, a Secretária de Saúde do município e a Secretária de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) foram informadas e solicitaram que os 350 funcionários fossem submetidos a exames de sangue para atestar a ausência da bactéria. Os resultados obtidos em dezembro encontraram outros 14 acometidos.
Costa também se queixa da fiscalização. Segundo ele, os frigoríficos têm como garantia os guias de GTA emitidos pelo governo que atestam que o animal foi vacinado e está em condições para o abate. “Nós entendemos que os animais que chegam aqui são saudáveis, pois deveriam ter passado por uma fiscalização rigorosa. Mas tivemos a prova de que não é assim.”
Sobre a não utilização dos equipamentos de segurança individual pelos funcionários, o gerente se defende alegando que, muitas vezes, foge do controle dos fiscais internos. “Tem gente que se recusa a usar. Nesses casos nós fazemos a advertência verbal e escrita, podendo até gerar [demissão] justa causa. Não é de interesse da empresa que o funcionário contraia uma doença.”
A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) informou que tem enrijecido a fiscalização com produtores e que o índice de prevalência da doença no estado está em torno de 1,73%.
A médica veterinária da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), órgão ligado à Seab, Mariza Koloda, explica que a vacinação é feita em dose única em fêmeas de 3 a 8 meses. Segundo ela, uma nova portaria estadual, de 19 de janeiro deste ano, incluiu outra vacina que pode ser aplicada em animais adultos.
“Fiscalizamos e não deixamos nenhum animal sair do campo sem o GTA. Se o produtor não vacina, ele é autuado por não cumprir o que determina a lei”, diz a médica veterinária.

“Tive medo de morrer”
Antônio Gonçalves, 48 anos, foi um dos primeiros infectados pela brucelose no frigorífico em Paiçandu. Há 27 anos trabalhando no setor, confessa sentir receio em voltar ao trabalho. Segundo ele, mesmo usando o equipamento de segurança, é impossível não ter contato com o sangue e a carne do animal. “Tudo fica coberto pelo sangue, pode colocar a luva, ainda assim a gente acaba tendo contato com tudo. Foi um susto. Tive medo de morrer.
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1447384

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