O que é Bem-Estar Animal? - Parte 2
As “cinco liberdades” aplicadas na produção de suínos
Bem-estar animal, que pode variar de bom para pobre ou reduzido, num contexto geral é definido como um conjunto de conceitos que incluem os estados naturais, mentais e físicos; senciência (capacidade de reconhecer o meio em que vive, percepção de dor, calor, fome, e frio, e capacidade de escolha); as necessidades, e as cinco liberdades.
As “cinco liberdades” foram originalmente criadas pelo Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção do Reino Unido, em 1965 revisadas em 1993. Essas “cinco liberdades” servem como um guia inicial de como manter, da melhor forma possível, o bem-estar e devem ser consideradas por aqueles que estão diretamente envolvidos com o cuidado diário dos animais, como gerentes e funcionários de granjas, veterinários, zootecnistas, e técnicos. Elas enfatizam as necessidades básicas dos animais que, se preenchidas, asseguram um estado apropriado (bom) de bem-estar, saúde e produção. E, o reconhecimento ou identificação, no dia-a-dia de uma granja, de fatores que garantem da melhor forma possível o preenchimento das necessidades dos animais, não irá somente melhorar a condição de bem-estar do rebanho, mas também beneficiará a produtividade, e em conseqüência a profitabilidade.
As liberdades determinam que os animais devam estar: 1) livres de sede, fome e má-nutrição, dando acesso à água fresca à vontade e a uma dieta correspondente a frase de crescimento e que supra as necessidades nutricionais; 2) livres de desconforto, providenciando um ambiente adequando com acesso a abrigo e área confortável para descanso; 3) livres de dor, ferimentos, e doenças através de meios de prevenção, com rápido diagnostico e tratamento; 4) livres para expressar comportamento normal, dando acesso a espaço físico suficiente, condições de moradia apropriadas e a companhia de outros animais da mesma espécie; 5) livres de medo e angustia através da prevenção de condições e tratamento que evitam sofrimentos mentais. No entanto, eu considero que é praticamente impossível satisfazer todas as necessidades definidas pelas “cinco liberdades” enquanto mantendo suínos (e outras espécies) em sistemas de produção modernas.
Para suínos criados com fins produtivos, as liberdades de fome, sede e má-nutrição (numero 1) são cuidadosamente monitoradas, na maioria dos casos, devido ao impacto negativo e direto que o manejo inapropriado destes fatores tem na produtividade. A liberdade da fome, no entanto é questionada principalmente em fêmeas gestantes, onde os animais são mantidos num regime restrito de alimentação (acesso e quantidade limitada). Sistemas de produção intensiva e alguns sistemas ao ar livre, são consideravelmente eficientes em providenciar aos animais condições apropriadas de alojamento (protegido das entemperies e predadores), que respeitam, na maior parte, a taxa de lotação. Alem disso, os animais são raramente alojados isoladamente, a menos que seja por recomendação veterinária. No entanto, há bastante espaço para melhoramento da questão do “conforto”, onde se deve priorizar as estruturas de chão que minimizem o desenvolvimento de lesões de pernas e cascos, e que sejam monitoradas e limpas com freqüência para que áreas, preferencialmente secas, sejam disponíveis para descanso. Quando viável, deve-se fazer o uso de substratos como palha (de arroz, azevém) e maravalha como cama para melhorar o nível de conforto dos animais.
As necessidades referentes a liberdade numero 3, da mesma forma que no numero 1, são monitoradas com precaução, principalmente no que se diz respeito a doenças e ferimentos, pois ambos são fatores que podem causar prejuízo financeiro significante. O uso de programas de vacinação e manutenção adequada dos alojamentos é essencial para garantir estas necessidades. O monitoramento da dor não é um procedimento simples, e muitas vezes sinais clínicos decorrentes da mesma, passam despercebidos. A castração de suínos é considerada um tópico polêmico entre a comunidade internacional de bem-estar por ser um procedimento cientificamente provado que causa dor. Países da Uniao Europeia tem proibido a castração de leitões sem o uso de anestesia local, e outros baniram totalmente a castração e optaram por mandar leitões de terminação para o abate antes de atingir a puberdade. Medo e estresse (numero 4) também são problemas freqüentes e induzidos por procedimentos de manejo aversivos, como o uso de choque elétrico, alem de interações humanas inapropriadas (e.x. agressão física, gritos) durante manejo diário dos animais, transporte e abate, o que geralmente leva a redução do bem-estar.
Das “cinco liberdades” a mais limitada na produção de suínos, é a numero 5; espaço físico limitado e sem objetos, os quais os animais possam interagir (e.x. cordas e correntes, substratos), e alojamentos em gaiolas ou superlotação, impedem que os suínos possam realizar vários dos comportamentos normais característicos da espécie (e.x. forragear, explorar, construção de ninho, interação social).
As questões de bem-estar em suínos e outras espécies de produção vêm crescendo rapidamente em importância no mercado internacional. Consumidores, principalmente na Uniao Europeia e Estados Unidos, estão requerendo mais entendimento e transparência nos métodos de produção animal, e não mais estão aceitando certas praticas de manejo e alojamento, como o mantimento de fêmeas gestantes em gaiolas. Entretanto, avaliar o estado de bem-estar de um animal e entender suas conseqüências é um procedimento complexo. Desta forma, nos artigos seguintes alguns princípios e metodologias para avaliação de bem-estar serão discutidos.
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