quarta-feira, 7 de abril de 2010

Série Especial: Bem-Estar Animal – Parte 1



Por Rosangela Poletto

Portal suino.com e Rosangela Poletto iniciam uma parceria com a Série Especial: Bem-Estar Animal, que será divulgado em 9 etapas, onde a cada semana será publicado um artigo referente a série.




O que é Bem-estar Animal? – Parte 1  
 
A definição de bem-estar animal tem sido controversa desde a expansão da área nos anos 60 (Comitê  Brambell, 1965). Seu reconhecimento como uma ciência foi negligenciado por muitos no passado, mas esta visão tem mudado drasticamente na ultima década. Atualmente, existem pelo menos quatro linhas de pensamento que definem bem-estar animal com algum nível de consenso e são usadas como referencia na área (algumas mais do que as outras).
Broom (1986) define que “o bem-estar de um individuo é representado pelo seu estado em relação a suas tentativas de adaptação com o seu ambiente”. O processo de adaptação em um ambiente aversivo, o qual pode ser social, físico ou de manejo, por exemplo, é primeiramente mediado por mecanismos fisiológicos e comportamentais. Estes mecanismos, que são desencadeados em resposta a eventos estressantes, são vistos por esta linha de pensamento  como estratégias de adaptação. Outro cientista renomado, Dawkins (1980) define que “importar-se com o bem-estar significa preocupar-se com os sentimentos subjetivos dos animais, particularmente com relação a sentimentos subjetivos desagradáveis como a dor”.  Outros exemplos de sentimentos subjetivos incluem o medo, frustração, fome e sede como sentimentos negativos, e conforto, contentamento e prazer como sentimentos positivos. A existência de sentimentos positivos e negativos, quando possível, devem ser investigados durante uma avaliação de bem estar. O sofrimento, indiferentemente de sua causa e principalmente quando desnecessário, é um dos indicadores mais significativos de um estado de bem-estar pobre (Duncan and Dawkins, 1983).   
A terceira linha de pensamento segue um ideal similar a linha anterior, principalmente no que se diz respeito a utilização de práticas de manejo que previnam ou minimizem sofrimento desnecessário. Mas, além disso, esta linha de pensamento enfatiza a importância de animais serem dados a oportunidade de realizar comportamentos naturais. Um exemplo clássico, em suínos, é providenciar palha para que a porca, prestes a parir, possa construir um “ninho”.
Kiley-Worthington (1989) definiu que “para prevenir sofrimento é necessário que durante um período de tempo os animais possam realizar todos os comportamentos do seu repertorio, por que eles têm um objetivo funcional, ou seja, uma função psicofisiológica”. Eu pessoalmente não concordo inteiramente com esta definição, por que um animal, mesmo enquanto vivendo no seu habitat natural, não tem a necessidade de realizar todos os comportamentos possíveis em seu repertorio. Além disso, existem contradições no que diz respeito da função direta de alguns comportamentos, como por exemplo, o “mascando em falso” comumente observado em porcas, e comportamentos oro-nasais direcionados a membros da leitegada (chamado “belly-nosing” em inglês). A ciência que estuda o comportamento animal, suas causas, e funções biológicas num contexto evolucionário, em habitat natural, ou o comportamento de animais vivendo em ambientes comuns de práticas de produção é chamado Etologia. 
 
Por último, a teoria de Webster’s (1995) não difere imensamente das linhas de pensamento anteriores, pois ele acredita que “os animais devem ter a liberdade de realizar a maioria de seus comportamentos naturais”, e que “o bem-estar de um animal é determinado pela capacidade de evitar sofrimento e sustentar produtividade”. Essa ultima escola de pensamento é oposta a manter animais de produção, incluindo suínos, em sistemas intensivos; em vez, favorecem sistemas de produção os quais respeitam a natureza dos animais em geral como os sistemas ao ar livre, por exemplo.   
Em resumo, o bem-estar de um animal pode ser descrito como bom se ele estiver em forma, saudável e livre de sofrimento. Avaliar o bem-estar de um animal integra a saúde física (peso para idade, freqüência de doenças), a saúde mental (como o animal se sente, frustrado, deprimido, ou ativo) e sua capacidade de agir naturalmente, ou seja, realizar comportamentos que fazem parte de seu repertorio natural (fuçar baias e chão).
Na Parte 2 deste artigo, que será publicado na próxima segunda-feira (05/04), as “cinco liberdades” criadas pelo Comitê Brambell são discutidas, com o enfoque em áreas na produção suína em que as “cinco liberdades” se enquadram.

Referências
Brambell FWR. 1965. Report of the Technical Committee to Enquire into the Welfare of Animals Kept under Intensive Livestock Husbandry Systems. London: HMSO Cmnd. 2836 p.
Broom, D. M. 1986. Indicators of poor welfare. Brit. Vet. J. 142:524-526.
Dawkins, M. S. 1980. Animal suffering: the science of animal welfare. London: Chapman and Hall.
Duncan, I. J. H., and M. S. Dawkins. 1983. The problem of assessing ‘well-being’ and ‘suffering’ in farm animals. In: D. Smidt, Editor, Indicators Relevant to Farm Animal Welfare, Martinus Nijhoff, The Hague, pp. 13-24.
Kiley-Worthington, M. 1989. Ecological, ethological and ethically sound environments for animals: toward symbiosis. J. Agri. Ethics 2, 323-347.
Webster, A. J. F. 1995. Animal Welfare: A Cool Eye Towards Eden. Blackwell Science Ltd., Oxford, UK.   

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