terça-feira, 13 de abril de 2010

Programa Nacional de Abate Humanitário começou em SC e chega a MG em 2012




Programa é exigência do MAPA, mas ainda precisa ser regulamentado por meio de decreto-lei


Mais da metade (55%) das carcaças dos quase 6 bilhões de animais abatidos, ano passado, no Brasil, entre 43 milhões de cabeças de gado, 36 milhões de suínos e 4,9 bilhões de aves, apresentava pelo menos uma contusão, segundo a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA na sigla em inglês). Na linguagem objetiva dos frigoríficos e abatedouros, cada hematoma encontrado representa uma perda equivalente a 400 gramas de carne. Além do prejuízo sentido nos cortes, a carne também perde qualidade quando os animais sofrem maus tratos desde a criação, no manejo (transporte) até o abate.
"Nos frangos submetidos à alta carga de estresse, a carne fica pálida e pode chegar a ter pontinhos de sangue. Já a de suínos fica pálida e solta água, enquanto a do bovino parece mais escura e seca na superfície", ensina Charlí Ludtke, que coordena o Programa Nacional de Abate Humanitário (Steps na versão americana), realizado em parceria pela WSPA e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com o projeto, lançado em julho de 2009, a defesa do bem-estar animal voltou a ganhar força depois de 10 anos da publicação, pelo próprio Mapa, da Instrução Normativa nº 3, que regulamenta o abate humanitário dos animais de produção.
A meta inicial de treinamentos do método é instruir 2 mil inspetores federais, estaduais e municipais de acordo com as regras da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), da União Europeia e de outros países importadores da carne brasileira. "Mas não adianta só treinar pessoas, temos de tornar obrigatório o abate humanitário no país, garantindo que, já que é preciso haver o abate, que esses animais pelo menos não sofram", afirma Ludtke. Ela lembra que já é exigência do Mapa um programa de bem-estar animal nos frigoríficos, mas que ainda precisa ser regulamentado por meio de decreto-lei.
O projeto-piloto do programa Steps começou em Santa Catarina. A previsão da WSPA é de chegar ao Rio Grande do Sul em setembro deste ano. Minas Gerais só entra no cronograma em 2012. Com uma equipe de apenas cinco técnicos, o programa já consumiu R$ 4 milhões em recursos próprios, segundo a WSPA. Em nove meses, participaram 232 frigoríficos, com mais de 800 funcionários treinados em Santa Catarina. "Essa cobrança já é uma realidade no Brasil. As empresas vão ter de se adaptar às exigências para exportar para outros países", alerta Josiely Bruscato, supervisora de processo industrial da unidade da Seara de Itapiranga (SC).
A adesão dos frigoríficos ao Programa Steps é voluntária. Em Santa Catarina, além da Seara, participaram as maiores empresas do setor com sede naquele estado, como Perdigão e Sadia, fundidas em um só grupo. "Desde que se começou a falar no assunto, em 2003, começamos a implantar as regras na empresa, contemplando todo o processo, da apanha do frango à criação e o abate. Os parâmetros de bem-estar animal são totalmente aplicáveis e melhoram a qualidade da carne, reduzindo a quantidade de hematomas", completa Bruscato, que optou pela reciclagem da equipe e aperfeiçoamento interno dos procedimentos.

Cresce adesão de empresas brasileiras ao abate humanitário


Nos frigoríficos, a cena em que grupos de trabalhadores são treinados para uma total mudança na cultura no abate de animais vem se repetindo com maior frequência no Brasil. Técnicas antigas e cruéis, sem a preocupação com a morte sem dor, já não estão sendo aceitas por consumidores conscientes e importadores da carne. Marcas como Sadia, Perdigão e Seara aderiram ao Programa Nacional de Abate Humanitário, realizado em parceria pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA na sigla em inglês) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os próprios abatedouros reconhecem que a alta carga de estresse a caminho do matadouro faz a carne perder qualidade e cada hematoma representa uma perda equivalente a 400 gramas do alimento.

Práticas aceitas no mundo


O programa de treinamento fornecido pela WSPA é dado por veterinários e zootecnistas e dura três dias. Na primeira aula, a equipe técnica da WSPA faz filmagens em cada frigorífico para entender o processo usado e as condições físicas do local. "O profissional quer tentar entender como o animal reage e chega a andar de quatro na planta, para enxergar os pontos críticos, onde o boi empaca", explica Charlí Ludtke, coordenadora do Programa Nacional de Abate Humanitário. No segundo dia, é aplicada a aula teórica, com material didático que inclui DVDs, apostilas e manuais elaborados com base em boas práticas, aceitas no mundo todo. No terceiro dia, é introduzida a parte prática.
"Antes do abate propriamente dito, o animal deve ser insensibilizado para não sentir dor. Parte dos frigoríficos já faz isso. Ao fazer as filmagens, percebemos, porém, que os equipamentos falharam e as pessoas simplesmente não viram que isso ocorreu. É terrível porque o animal percebe que vai ser abatido, está imobilizado e não consegue sequer esboçar reação", alerta Charlí. Ela lembra que, para identificar se o animal teve o colapso da forma devida, é preciso observar se ele caiu imediatamente, se não apresenta movimento do flanco indicando respiração e se perdeu o reflexo no olhar.
O curso aborda, para suínos, aves e bovinos, itens como comportamento animal, qualidade da carne, transporte, manejo, contenção e formas de insensibilização. É proibido, por exemplo, usar marretas para bovinos. A técnica mais moderna usa uma pistola pneumática que deixa o animal inconsciente instantaneamente. É traçado um xis entre a base do chifre e os olhos e o tiro tem de acertar no meio. O funcionário deve ser muito bem treinado. No caso de aves e suínos, o atordoamento é feito com choque elétrico na cabeça ou em câmaras de gás carbônico.
Segundo a WSPA, muitos dos pequenos frigoríficos que não tinham equipamentos para insensibilizar os animais, após o treinamento já adquiriram. "Foram desenvolvidas pistolas pneumáticas de R$ 3 mil a R$ 4 mil. É um investimento mínimo para abrir um frigorífico e adquirir equipamentos que impedem uma degola cruenta", diz a pesquisadora.

Fonte: O Estado de Minas Gerais
Publicado por suino.com


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