quarta-feira, 2 de junho de 2010

Irlandeses atacam novamente




O presidente da Associação dos Produtores da Irlanda (IFA, na sigla em inglês), John Bryan, defendeu, na semana passada, que a União Europeia suspenda as importações de carne bovina do Brasil depois que os Estados Unidos identificaram resíduos de vermífugo Ivermectina, acima do permitido pela legislação americana, em carne industrializada brasileira. O episódio levou o Ministério da Agricultura brasileiro a suspender temporiamente as exportações de carne industrializada aos EUA.

No site da IFA, o dirigente irlandês diz que a Comissão de Saúde e Consumidor da UE (DG Sanco) deve banir a carne brasileira e retirar dos supermercados carne industrializada do Brasil, como ocorreu nos EUA. Ele defendeu que a Comissão da UE reavalie os procedimentos de análises usados em suas visitas ao Brasil. Disse ainda que o órgão deve rever as práticas relacionadas à produção bovina no Brasil e que "produtores e consumidores estão sendo expostos a um risco desnecessário".

Para Otávio Cançado, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec), o pedido da IFA não tem fundamento já que a UE também segue as regras do Codex Alimentarius.

Desde 2008, a UE restringe as compras de carne bovina brasileira e definiu que apenas fazendas rastreadas e certificadas de uma lista administrada pela UE pode fornecer animais para abate e exportação da carne ao bloco. Hoje, há 1.957 propriedades aprovadas na lista. Antes das restrições, quando não havia essa exigência, cerca de 11 mil fazendas forneciam animais para abate.

A decisão da UE de transferir ao Brasil a administração da lista de fazendas habilitadas dependerá do teor do último relatório técnico feito por uma missão veterinária do bloco no país. Se o texto for favorável ao Brasil, como indicou o rascunho enviado ao Ministério da Agricultura, pecuaristas irlandeses devem elevar a pressão política sobre as autoridades sanitárias da UE.

O bloco promoveu uma recente troca no primeiro escalão da área. Simpáticos às demandas brasileiras, a italiana Paola Testori e o luxemburguês Bernard Van Goethem comandam a DG Sanco. Mesmo assim, o governo avalia que o Brasil corre riscos de ver adiada sua reivindicação de controlar a inclusão e a exclusão das fazendas da lista. A chave do processo será o irlandês Michael Scannell, novo chefe do Escritório de Alimentos e Veterinária (FVO), que sofre forte influência do lobby pecuário irlandês, sobretudo por sua localização, próxima a Dublin.

Há dois anos, o Brasil reivindica o fim da auditoria em 100% das fazendas. Quer fazer uma auditoria por amostragem na lista. A médio prazo, o governo pensa em repassar a obrigação ao setor privado nacional. Houve avanços nos entendimentos, mas a questão política e a troca de comando podem prejudicar os objetivos brasileiros.

A matéria é de Alda do Amaral Rocha e Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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