segunda-feira, 5 de julho de 2010

EUA querem reduzir antibiótico na carne

05/07/2010 - 00:00 
Alimentos de origem animal são novo alvo na luta contra micro-organismos ultrarresistentes ao medicamento. Estudos mostram que o uso desse remédio em animais contribui para o surgimento de novas linhagens de bactérias 

A batalha para evitar o crescimento de cepas de bactérias ultrarresistentes aos antibióticos tem uma nova frente: os alimentos de origem animal. 

O alerta foi feito na semana passada pelo FDA, órgão regulador de medicamentos e alimentos dos EUA, que produziu um relatório sobre a importância de reduzir e controlar o uso desses medicamentos em animais destinados ao consumo humano. 

O documento, que não tem caráter de lei, busca conscientizar os produtores. 

O FDA emitiu o alerta baseado em estudos mostrando que o uso desses remédios contribui para o desenvolvimento de bactérias que infectam seres humanos e não respondem aos medicamentos. 

Para David Uip, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo, o problema da resistência bacteriana é multifatorial e é preciso reavaliar as práticas de vários setores para combatê-lo. 
"O surgimento de novas cepas nas comunidades também está relacionado ao uso de antibióticos em produtos alimentares, mas é claro que não é só isso", diz Uip. 

Entre os antibióticos usados em animais, há medicamentos que combatem bactérias como estafilococos e enterococos, que contaminam humanos e desafiam a medicina com o surgimento de cepas mais resistentes. 

"Para criar novos antibióticos, precisamos de milhões de anos. Temos de criar políticas globais para evitar que as bactérias [em circulação] parem de responder aos remédios existentes", diz Uip. 

Antibióticos são usados em gado e em aves para tratar doenças que podem vitimar os animais e contaminar humanos. O animal só é encaminhado para abate após estar curado e passar por um período de carência, no qual os resíduos do medicamento são eliminados. 

"De três a cinco dias após a medicação ser suspensa, não há mais resíduo do antibiótico na carne", diz Cláudio Alvarenga, coordenador de defesa agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP. 

Mas as bactérias resistentes se desenvolvem antes de o animal ser destinado ao consumo, especialmente com o uso prolongado de baixas doses de antibióticos nos animais, segundo a Organização Mundial da Saúde. 

A utilização de antibióticos, assim como de outros medicamentos veterinários, é regulamentada pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento. Na lista de produtos autorizados estão alguns grupos de antibióticos. 

Como o produtor não precisa de receita médica para adquirir os remédios, é difícil saber se o antibiótico está sendo usado sem exagero. 

"Exigir receita e orientação de um veterinário pode ajudar no controle e reduzir o risco de criarmos bactérias resistentes", diz Alvarenga.

Folha de São Paulo
Autor: Iara Biderman

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