sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pesquisadores descobrem uma nova organela no parasita da toxoplasmose

Débora Motta


 
 
 Pesquisa ganhou a capa da
 revista
  Molecular Microbiology
Um estudo pode ser mais um passo para o desenvolvimento de medicamentos mais eficazes no tratamento da toxoplasmose. Pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em cooperação internacional com um grupo de cientistas da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, descobriram uma nova organela no protozoário Toxoplasma gondii – o parasita causador da doença. A pesquisa, contemplada pela FAPERJ por meio dos programas Jovem Cientista do Nosso Estado e Pronex, foi capa da edição deste mês da revista Molecular Microbiology.

A nova organela, denominada Plant Like Vacuole (PLV), forma-se apenas quando o parasita sai de uma célula hospedeira e parte para infectar outra. Talvez essa característica seja o motivo pelo qual ela tenha passado despercebida pelos cientistas até então. De acordo com Kildare Miranda, professor do instituto e um dos autores do estudo, o nome escolhido pela equipe é uma alusão à semelhança da nova estrutura com os vacúolos encontrados nas células de plantas. “OToxoplasma gondii é um parasita intracelular obrigatório. Ele precisa invadir a célula hospedeira para resistir às variações do ambiente externo, como mudanças bruscas de pH, concentração de solutos como o cálcio e pressão osmótica, para sobreviver à ação imunológica do organismo infectado”, explica.

Depois de se dividir no interior da célula hospedeira, o Toxoplasma gondii sai em busca de outra célula hospedeira. É nesse exato momento que ele forma a nova organela, que é um vacúolo bem grande no corpo do parasita. “Antes, os pesquisadores acreditavam que esse vacúolo era resultado da lise (quebra) celular do Toxoplasma gondii e não haviam pensado na hipótese de considerar essa estrutura como uma organela fisiologicamente ativa”, diz o biólogo.

Inicialmente, os pesquisadores estavam investigando outra organela – os acidocalcissomos – em diferentes parasitas, como oTrypanossoma cruzi. “Os acidocalcissomos são organelas presentes no Toxoplasma gondii e em outros parasitas, como oTrypanossoma cruzi. Durante a caracterização funcional dessas organelas, observamos uma enzima que também marcava esses novos vacúolos no Toxoplasma gondii, cujo papel funcional era até então desconhecido”, conta.

A formação da organela PLV coincide com a necessidade do Toxoplasma gondii se proteger da exposição ao meio extracelular. Não por acaso, essa é a ocasião em que ele está mais suscetível à ação de medicamentos ou mesmo a uma vacina que tente impedir sua proliferação no organismo do hospedeiro. Por isso, conhecer os mecanismos responsáveis pela formação do novo vacúolo é importante para tentar encontrar uma brecha que possibilite maior eficácia dos medicamentos no combate ao parasita.

Matar o parasita sem atingir o hospedeiro

 Divulgação
           
 Microscópio eletrônico Tecnai: tecnologia de
 ponta para o Instituto de Biofísica da UFRJ 
O estudo de Kildare, desenvolvido em conjunto com o professor Wanderley de Souza, chefe do laboratório de Ultraestrutura Celular Hertha Meyer, do Instituto de Biofísica da UFRJ, está justamente nessa etapa. Segundo ele, o maior desafio dos medicamentos disponíveis hoje para o tratamento de diferentes doenças parasitárias, entre elas a toxoplasmose, é a seletividade, isto é, encontrar um meio de atuação específico, já que parte dos sistemas biológicos do parasita e do hospedeiro são parecidos. “Essa semelhança torna mais difícil para o medicamento matar o parasita sem matar o paciente”, ressalta.
  
No entanto, a pesquisa abre novas perspectivas para que, no futuro, drogas mais eficazes contra a toxoplasmose sejam desenvolvidas ou adaptadas. “O vacúolo PLV tem um repertório de moléculas que o torna mais parecido com os vacúolos de células de plantas do que com os de células de mamíferos. O fato de possuir características únicas de plantas, e não do hospedeiro vertebrado, traz novas possibilidades de atuação medicamentosa”, destaca Kildare, lembrando que os parasitas foram analisados nos equipamentos de microscopia eletrônica do Instituto de Biofísica da UFRJ, que receberam manutenção por meio de editais da FAPERJ, como o Pronex e Infraestrutura das Instituições Sediadas no Estado.

A toxoplasmose é uma doença infecciosa de alta incidência mundial, mesmo em países desenvolvidos. Isso porque algumas formas de desenvolvimento do protozoário Toxoplasma gondii, causador da doença, são eliminadas pelas fezes dos felídeos, principalmente dos gatos domésticos, e facilmente transmitidas às pessoas. Além de sua forma congênita, a ingestão de água ou de alimentos infectados – especialmente carnes cruas ou mal passadas – são vias frequentes de contágio.

De acordo com o pesquisador, testes sorológicos mostram que entre 50% e 80% da população brasileira, dependendo da região do País, já teve contato com o parasita, mesmo que não apresente sintomas. “O toxoplasma é um parasita oportunista, que se manifesta quando o paciente tem alguma baixa no sistema imunológico, como no caso de portadores de HIV positivo, de recém-transplantados e daqueles sob efeito de quimioterapia”, conclui. 

© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.

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