quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mosquito da febre amarela volta à Europa 50 anos depois

18/08/2010 - 00h01
El País
Emilio de Benito
Em Madri (Espanha)
A localização de colônia do mosquito Aedes aegypti na Holanda abre a possibilidade de transmissão, mas cientistas acreditam que o inseto morrerá no inverno
Uma colônia do mosquito Aedes aegypti encontrada na Holanda poderia ser o primeiro passo da reconquista da Europa pelo inseto que transmite a febre amarela. Ou pelo menos a prova de que a erradicação - que foi alcançada no continente há meio século, graças ao uso maciço de inseticidas como DDT e ao tratamento de charcos para eliminar essa e outras enfermidades - não foi definitiva.
A descoberta do inseto, que foi publicada pela revista científica "Science", soma-se à de outras espécies que chegaram ao continente há pouco tempo, como o mosquito tigre (Aedes albopictus), que se assentou em vários países europeus, incluindo a Espanha (as maiores colônias estão no delta do Ebro).
E abre a porta do regresso não só do animal como - o que seria muito mais grave - das doenças que transmite como a febre amarela, a dengue ou o Chikungunya (doença que afeta as articulações), três patologias infecciosas que podem ser muito graves. O descobridor foi um entomologista holandês, Ernst-Jan Scholte, que acredita que o inseto chegou em forma de larva na água contida em um carregamento de pneus vindo da Flórida (EUA).
Scholte acredita que essa primeira colonização será temporária, porque o clima holandês não favorece a reprodução do inseto e, portanto, ele provavelmente desaparecerá no inverno. No entanto, ele adverte que a situação seria diferente se o animal chegasse aos países mediterrâneos, onde já houve mosquitos dessa família há meio século. O entomologista Rubén Bueno, da Universidade de Valência (Espanha), concorda e destaca que o Aedes aegypti "foi avistado pela última vez na Espanha em 1953". Para que o inseto represente um risco sanitário, "é preciso coincidir o mosquito com os vírus que ele transmite", indica a médica do Serviço de Medicina Tropical do Hospital Carlos 3º de Madri, Dolores Herrero.
E os vírus tropicais, estes sim, costumam a chegar facilmente a bordo de turistas que não tomaram precauções antes de viajar. Por isso, quando se registram em países ocidentais casos de dengue ou malária, se não houver o animal que funciona como vetor de transmissão eles não representariam um risco.
Mas Herrero está tranquila com relação à febre amarela. "Trata-se de uma doença muito grave, e por isso mesmo as pessoas afetadas são internadas em um hospital no país onde a adquirem; não viajam", explica. "Mas cabe a possibilidade de que chegue uma pessoa durante o período de incubação. Se for picada por um desses mosquitos, poderia começar um contágio", indica a médica. Com a descoberta, "o risco teórico existe", afirma com cautela. Outra coisa é o que acontece com outra das doenças transmitidas pelo mosquito: a dengue. A enfermidade é leve nas primeiras vezes que se adquire, mas pode ser muito grave se evoluir para a variante hemorrágica, adverte Herrero.
Bueno concorda: "É verdade que não foram notificados casos autóctones nem importados de febre amarela na Espanha nos últimos anos, mas, por exemplo, a dengue é a arbovirose tropical mais frequentemente diagnosticada na Europa, sempre falando entre as importadas, é claro", indica. O Chikungunya é muito mais raro. Bueno também tranqüiliza: "Parece difícil que o mosquito consiga resistir ao inverno no norte da Europa. Seus ovos têm baixa capacidade de hibernação". E se chegar mais ao sul? "É preciso estar atento."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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Matéria repassada ao Blog por Roberto Amaral

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