segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Alerta contra picadas em selva paulistana

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Administração do Bosque do Morumbi instala placas advertindo o público sobre a presença de animais peçonhentos em áreas de mata, ao longo das trilhas.

Em princípio, as placas que foram colocadas recentemente nas trilhas do Parque Alfredo Volpi, mais conhecido como Bosque do Morumbi, causam um certo arrepio. Advertem que a mata circundante abriga aranhas, escorpiões e até cobras, de modo que não se deve entrar ali, sob o risco de levar uma picada.
A bióloga Maria Fernanda de Souza Ferreira, administradora do parque, explica que a ideia nasceu há cerca de dois meses, ao deparar com um casal de estrangeiros, junto com suas crianças, em uma área vedada ao público justamente para prevenir acidentes com animais peçonhentos.
A explicação dos turistas – que caçavam uma cigarra para mostrar aos filhos – despertou para o fato de que os avisos de alerta então existentes não eram suficientemente explícitos. "Ilustradas com desenhos dos bichos, as placas teriam impacto maior, como de fato ocorreu", diz Maria.
A julgar pelos números do Ministério da Saúde, Maria Fernanda acertou em cheio. A quantidade de casos cresceu significativamente nos últimos seis anos no País. As notificações, exatas 68.219 em 2003, saltaram para 90.558 no ano passado, com o registro de 309 mortes. Os escorpiões contribuíram com mais de 50%: 47.815 eventos, dos quais 103 óbitos. 
O crescimento dos ataques de escorpiões decorre da sua atração às cidades através das baratas, inseto doméstico e um dos seus alimentos preferidos. Em segundo lugar vem as serpentes, com 30% dos casos. Felizmente, apenas 3% dos ataques ganham maior gravidade; 98,7% tem cura total e apenas 1,15% guardam sequelas.

Mas o Bosque do Morumbi, com seus 142.432 metros quadrados, felizmente não contribuiu com esses números. "Nunca houve acidente com nossos frequentadores", informa a administradora. Mas o risco é latente, pois os sinuosos 1.500 metros de trilhas e outro tanto de pista de cooper serpenteiam por uma vegetação típica da Mata Atlântica, que guarda remanescentes da sua fauna.
Foram ali identificadas 86 espécies, das quais 76 são aves e animais surpreendentes, em se tratando de São Paulo: uma família de bichos-preguiça, um grupo de saguis e caxinguelês, além dos bichos peçonhentos.
Fazenda – Na verdade, trata-se de um nicho original do que restou da antiga Fazenda Morumby, que nos permite admirar belos exemplares sobreviventes da mata virgem, como os altos guapuruvus, a copaíba, o camboatá, a esguia palmeira gerivá e a samambaiaçu. O nome da propriedade batizou o bairro chique da zona sul que abriga o parque.
Esta fazenda foi propriedade do inglês John Rudge, que devia ser um sujeito empreendedor, pois lá plantou pioneiramente chá indiano, nos idos do século XIX. A propósito, a casa dessa fazenda, devidamente tombada e restaurada, é hoje um restaurante bem cotado, logo depois do Palácio dos Bandeirantes, na avenida Morumbi.
O parque é bem movimentado, mesmo durante a semana. Recebe, especialmente de manhã, mamães e babás com crianças pequenas que se reúnem no playground. O estacionamento fica lotado nos fins de semana e sempre é difícil encontrar mesas livres nas áreas reservadas aos piqueniques.
Anderson Anastácio de Lima, de 33 anos, técnico eletrônico, morador no Campo Limpo, zona sul, é um desses frequentadores assíduos há dois anos, quando se tomou de amores pelo lugar, levado particularmente pela beleza mata fechada. Faz caminhadas e exercícios físicos e, nessa movimentação jamais esbarrou com alguma cobra ou escorpião.
Mas, no seu entender, as novas placas são necessárias porque, de vez em quando, ele vê usuários xeretando nas áreas restritas, confiando, talvez, na proximidade do Instituto Butantã, cerca de três ou quatro quilômetros, com seus soros salvadores.

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