terça-feira, 7 de setembro de 2010

Granjas dos EUA violaram regras de segurança alimentar, afirma agência reguladora

The New York Times
William Neuman
Surto de salmonela retirou 380 milhões de ovos do mercado nos Estados Unidos
Infestação de moscas, larvas e roedores, e poços de esterco superlotados estavam entre os problemas de segurança alimentar generalizados que os inspetores federais encontraram num grupo de granjas de Iowa (EUA), em meio a uma inspeção nacional por conta de um surto de salmonela.
Relatórios de inspeção divulgados pelo FDA (agência norte-americana que regulamenta alimentos e medicamentos) na segunda-feira descreveu --com detalhes repugnantes-- algumas possibilidades através das quais a salmonela pode ter se espalhado sem que se percebesse pelos vastos complexos das duas companhias.
As inspeções, realizadas durante as três últimas semanas, foram as primeiras a checar se as grandes granjas produtoras de ovos estão cumprindo as novas regras federais de segurança alimentar redigidas bem antes do surto atual mas que só entraram em vigo no mês passado.
“Ficou claro que as observações aqui refletem desvios significativos do que é esperado”, diz Michael R. Taylor, vice-comissário de alimentos para o FDA.
Taylor disse que em resposta ao surto e retirada do mercado, os inspetores do FDA visitarão todos as 600 principais granjas norte-americanas ao longo dos próximos 15 meses. Estas fazendas, com 500 mil galinhas ou mais, representam 80% da produção de ovos em todo o país.
A retirada, que começou em 13 de agosto, envolve mais de meio bilhão de ovos das granjas de duas das principais produtoras de ovos de Iowa, a Wright County Egg e a Hillandale Farms.
Cerca de 1.500 casos de Salmonella enteritidis foram relatados desde a primavera e associados a ovos pintados – o maior surto associado a esta variedade de salmonela.
Os relatórios de inspeção do FDA revelam áreas de sujeira e falta de higiene em ambas as companhias, incluindo muitas avistagens de roedores, pássaros silvestres ou galinhas fora das jaulas – todos eles podem carregar a salmonela – que pareciam ter acesso livre às instalações.
É difícil medir pelo relatório qual é a extensão dos problemas. Ambas as companhias operam granjas com 7 milhões de galinhas no total. A Wright County Egg diz que os inspetores visitaram 73 instalações em suas cinco fazendas de ovos.
Ambas as companhias disseram que agiram rapidamente para corrigir os problemas e que continuam cooperando com os inspetores. O relatório cita inúmeras instâncias em que ambas as companhias descumpriram medidas básicas destinadas a proteger as galinhas da contaminação com salmonela, o que pode fazer com que elas botem ovos que contenham a bactéria.
“Isso não é boa administração, ponto final”, diz Kenneth E. Anderson, professor de ciência de aves na Universidade do Estado da Carolina do Norte. “Estou surpreso que uma granja estivesse funcionando dessa maneira nos dias de hoje.”
As visitas de inspeção à Wright County Egg encontrou instalações com inúmeros buracos de roedores e aberturas nas portas, batentes e no chão, por onde os roedores poderiam entrar. Os inspetores avistaram ratos correndo em cerca de 11 granjas.
Inspetores disseram que muitas das instalações não tinham entradas separadas, de forma que os funcionários precisavam passar por uma granja para entrar na outra – condições que permitiriam que eles transportassem as bactérias entre as granjas. Além disso, os funcionários foram vistos passando de uma granja para outra sem mudar as roupas de proteção nem limpar suas ferramentas.
O relatório sobre a Wright County Egg descreveu pilhas de até 2,5 metros de esterco de galinha embaixo das granjas. Ele também falava de galinhas que haviam escapado das jaulas e ciscavam no esterco.
Autoridades disseram na semana passada que estavam inspecionando mais de perto um moinho de ração operado pela Wright County Egg, depois que os testes encontraram salmonela nos ossos, usados na ração, e na ração dada às aves jovens. Elas são criadas para por ovos na Wright County Egg e na Hillandale.
O relatório de inspeção ajudou a identificar o moinho de ração como a possível fonte da contaminação, dizendo que foram vistas aves se empoleirando e voando próximo às instalações.
Autoridades disseram que encontraram tanto aves selvagens quanto galinhas fugidas da granja no moinho.
O material de ninhos foi visto em algumas partes do moinho, incluindo na área de estocagem de ingredientes e numa área de carga de caminhões. O relatório também disse que havia inúmeros buracos nos barris ou outras estruturas com abertura para o lado de fora. Isso inclui o barril que continha carnes e ossos, ingredientes da ração de onde foi retirada a amostra em que encontraram a salmonela.
Autoridades disseram na semana passada que encontraram traços de salmonela semelhante à variedade associada ao surto em seis amostras retiradas das instalações da Wright County Egg. Elas incluíram os dois testes na ração e outros quatro feitos em corredores ou outras áreas.
Na segunda-feira, autoridades disseram pela primeira vez que também encontraram salmonela numa instalação da Hillandale. A bactéria foi encontrada na água que foi usada para lavar os ovos.
O relatório de inspeção da Hillandale mostrou muitos problemas parecidos com os encontrados na Wright County Egg, incluindo galinhas ciscando em pilhas de esterco e sinais de infestação de roedores.
Autoridades do FDA disseram que não podiam discutir as possíveis atitudes em relação às companhias. Mas, de acordo com Taylor, a lei permite que ações civis como interdição e processo criminal.
“Estamos analisando as provas e considerando que ações serão apropriadas”, diz Taylor.
Autoridades disseram que a investigação continua e que ainda não sabem dizer como a salmonela chegou às granjas.
A Wright County Egg pertence a Jack DeCoster, que tem um histórico de violações ambientais, trabalhistas e imigratórias em granjas no Maine, Iowa e outros lugares. O relatório de inspeção identificou o filho de DeCoster, Peter DeCoster, como chefe de operações da fábrica de Iowa.
Ambas as companhias pararam de vender ovos das granjas de Iowa aos consumidores e em vez disso estão enviando todos os seus ovos para fábricas onde eles são pasteurizados, o que mata a bactéria. Daí então é provável que os ovos sejam vendidos sob forma líquida, possivelmente para fábricas de alimentos.
Os sintomas da salmonela incluem diarreia, vômitos e cólicas estomacais. A bactéria morre através da pasteurização ou depois de cozinhar bem os ovos.
Tradução: Eloise De Vylder
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Matéria repassada por e-mail por Roberto Amaral

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