quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Trabalho de pesquisadores da Fiocruz é capa da 'Science Translational Medicine'



Dois pesquisadores da Fiocruz, Fernando Bozza e André Japiassú, assinam como co-autores o artigo que é tema de capa da nova edição da revista Science Translational Medicine, publicada em 29 de setembro. O artigo expressa os resultados de pesquisa dos profissionais do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), em colaboração com o Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal. O artigo, intitulado A Central Role for Free Heme in the Pathogenesis of Severe Sepsis, demonstra que compostos de ferro liberados na circulação pioram a infecção bacteriana. As implicações da pesquisa podem levar a novos tratamentos para pacientes com sepse grave, uma das principais causas de morte de pacientes internados em unidades de terapia intensiva.

O estudo publicado pela revista de alto impacto na comunidade científica trata do composto de ferro denominado “heme”, que normalmente faz parte da molécula de hemoglobina, mas, quando livre na circulação, agrava as infecções bacterianas no sangue. Uma proteína depuradora denominada hemopexina consegue eliminar esse composto  no sangue de camundongos, evitando os efeitos deletérios, como informa o novo estudo. Estes achados podem levar a novas maneiras de monitorar os pacientes com sepse - conhecida como infecção generalizada, termo hoje considerado impróprio pelos médicos - uma infecção causada por uma grande quantidade bactérias na circulação sanguínea,o que causa a exaustão do sistema imunológico, resultando na redução súbita da pressão arterial e falha dos principais órgãos.
“A hemopexina interrompe o ciclo deflagrado pelo heme livre, que é como uma bola de neve”, afirma o médico intensivista Fernando Bozza, pesquisador do Ipec, um dos co-autores do artigo. O médico ressalta que a sepse é um grave problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, a mortalidade em decorrência de sepse é ainda mais alta, chegando a 65% dos casos, enquanto a média mundial está em torno de 30-40%.
A medição da quantidade de heme e hemopexina em pacientes com sepse serviria para auxiliar os médicos a prognosticar aqueles que necessitam de tratamentos mais intensivos. Além disso, especula-se que pacientes com alto risco de vida poderiam ser salvos ao receberem uma quantidade extra de hemopexina ou de outras substâncias que destroem o ferro heme.
É comum que durante a sepse os glóbulos vermelhos, também denominados eritrócitos, sejam danificados. Ao se partirem, a hemoglobina é liberada e degradada, e os grupos heme livres resultantes são lançados na circulação sanguínea. O grupo heme livre não é apenas um espectador inocente desse conjunto de efeitos nocivos. Na realidade, incita à inflamação e à morte celular, exacerbando lesões aos órgãos e aumentando o risco de morte.
Os pesquisadores descobriram que camundongos que não possuem a enzima responsável pela degradação da hemoglobina têm mais grupos heme circulantes do que os camundongos normais, tornando-os mais suscetíveis à morte por sepse. Além disso, a equipe, coordenada pelo pesquisador português Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian, demonstrou que a hemopexina, uma proteína produzida pelo organismo para depurar os grupos heme livres da circulação sanguínea, protege camundongos com sepse dos efeitos nocivos de tais grupos, diminuindo o risco de complicações e morte. O passo seguinte será testar a hemopexina em seres humanos e verificar se confere o mesmo efeito protetor observado nos camundongos.

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