quarta-feira, 27 de abril de 2011

Prêmio Fundação Bunge 2011: DEFESA SANITÁRIA ANIMAL E VEGETAL


Prêmio Fundação Bunge 2011


DEFESA SANITÁRIA ANIMAL E VEGETAL

A história da agricultura e da pecuária no mundo é uma história de luta. Desde quando aprendeu a cultivar alimentos e domesticar animais, há mais de 10 mil anos, o homem vem desenvolvendo técnicas cada vez mais evoluídas para fazer frente a pragas e doenças em suas lavouras e rebanhos – ameaças à produtividade e à saúde humana que, infelizmente, também evoluem.
A sobrevivência da nossa espécie até hoje, portanto, é a prova de que, nessa luta permanente, ainda somos os vencedores.
A Defesa Sanitária Animal e Vegetal é um dos campos científicos que mais têm contribuído para isso. Para cada epidemia de febre aftosa em rebanhos, para cada surto de ferrugem em culturas agrícolas, para cada suspeita de que os insumos utilizados em lavouras e criações trazem efeitos nocivos ao ser humano; para cada novo obstáculo, enfim, a ciência entra em campo com novos estudos, novas vacinas, novas variedades de plantas, novas recomendações de prevenção e contenção de doenças.

IMPORTÂNCIA PARA A ECONOMIA

No Brasil, um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, a Defesa Sanitária Animal e Vegetal tem uma história para se orgulhar. O que significa dizer: uma história de crises superadas.
Foi assim no final dos anos 1930 e durante os anos 1940, quando os laranjais paulistas foram acometidos pelo vírus da Tristeza dos Citros. A doença atacava as laranjeiras através dos porta-enxertos – suportes para a planta obtidos de uma variedade imprópria para o consumo, porém mais resistente. E até que se descobrisse a natureza virótica da Tristeza e se substituísse a laranja-azeda pelo limão-cravo como porta-enxerto, quase 90% das lavouras de São Paulo foram destruídas, em mais de uma década de pesquisas que, ao final, resultaram vitoriosas.
Hoje, o Brasil é o principal exportador mundial de suco de laranja.
Foi assim, também, em 2005, quando um foco de febre aftosa foi identificado no Mato Grosso do Sul, principal produtor de bois do País. Mais de 50 países pararam de importar a carne brasileira, até que a vacinação e medidas sanitárias mais rigorosas tranquilizassem o mundo novamente.
Hoje, 30% da carne bovina exportada no mundo é brasileira.
Exemplos como esses explicam como a Defesa Sanitária Animal e Vegetal contribui para a produtividade agropecuária brasileira, que desde 2003 tem crescido a taxas anuais de 5,8%, conforme dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2010).

IMPORTÂNCIA PARA A SAÚDE HUMANA

Mas, se aumentar a produtividade agropecuária é um dos objetivos a que se propõe a Defesa Sanitária Animal e Vegetal, outro de igual importância é o cuidado com saúde humana. No mundo inteiro, cada vez mais a ciência vem se debruçando sobre possíveis efeitos nocivos dos insumos agropecuários – como defensivos agrícolas, hormônios e antibióticos veterinários – na saúde do homem, sem falar nos impactos ambientais dos mesmos.
“Um dos desafios dessa ciência consiste na legitimação dos produtos utilizados”, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. “É preciso a articulação de órgãos como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em parceria com o Ministério, para termos o equilíbrio entre a produtividade e a saúde humana.”
E esse é um desafio que vai além das fronteiras de um país. A própria OMC (Organização Mundial do Comércio) tem marcos regulatórios para a questão. O Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da OMC estabelece normas específicas relacionadas à segurança alimentar e à sanidade animal e vegetal, mas, para além dessas regras básicas, os países são livres para estabelecer níveis de proteção ainda mais rigorosos. Um fator que, diante de uma economia globalizada, pode influenciar decisivamente a economia de um país exportador, o que torna ainda mais estratégico o desenvolvimento da pesquisa e das tecnologias de Defesa Sanitária Animal e Vegetal no Brasil.

O PAPEL DA CIÊNCIA E O PAPEL DA POLÍTICA

“O nível da pesquisa no Brasil está up to date com o mundo contemporâneo, o suficiente para contribuir para o crescimento espantoso do agronegócio brasileiro”, diz Roberto Rodrigues.
O maior desafio, segundo o ex-ministro, é fazer a pesquisa chegar ao produtor, bem como aplicar os programas de defesa sanitária. “O País é grande e o Ministério tem de trabalhar em convênio com os estados. Mas a definição das prioridades políticas de cada um é difícil e pode trazer problemas. Se determinado estado não vacinar contra febre aftosa, por exemplo, isso pode prejudicar os demais.”
Para Rodrigues, o papel da ciência é “criar mecanismos de prevenção de doenças e pragas, desenvolver tecnologias, variedades resistentes, produtos veterinários e agrícolas que não deixem resíduos nocivos”. Cabe aos governos, porém, sistematizar a informação produzida e regular sua aplicação nas lavouras e pastagens, para que o Brasil continue à frente de uma luta da qual depende a sobrevivência de um estado, de um país e de toda a humanidade.

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