11/05
bruno cirillo
SÃO PAULO - O segmento de reciclagem animal, responsável por transformar subprodutos da pecuária em farinhas e óleos graxos, movimenta US$ 6 bilhões ao ano na América Latina, segundo estimativa do vice-presidente da recém-criada Associação Latino-Americana de Plantas de Rendimento (ALAPR), Alexandre Ferreira. A entidade, formada nesta semana, reúne seis países e indica que o ramo das graxarias - tradicionalmente desarticulado - está se organizando no Brasil e na região.
Empresas como a paranaense A&R Nutrição Animal, que tem cinco plantas industriais e produz, a partir de ossos, sangue e sebo, 12 mil toneladas de farinhas e gorduras por mês, estão se internacionalizando. A companhia exporta para treze países e mantém constante prospecção de novos mercados. Pretende crescer 10% por ano na próxima meia década e conquistar a China.
"A associação [ALAPR] é muito importante porque vai espalhar conceitos e informações, além de falar com os governos, entre todos os mercados [da América Latina]", disse o diretor-presidente da A&R, Rodrigo Sória. "O Brasil é o segundo mercado de reciclagem animal no mundo. É uma tendência que o setor caminhe em direção à formalização", comentou Ferreira.
O representante e o empresário estiveram presentes na 7ª Feira Internacional das Graxarias (Fenagra), que terminou ontem, em São Paulo. O organizador do evento, Daniel Geraldes, esperava que evento repetisse, "aproximadamente", os números da edição anterior: 60 expositores, dois mil visitantes e R$ 40 milhões em negócios - no que diz respeito à reciclagem animal. "O diferencial, neste ano, foi a participação internacional", observou Geraldes. Empresários de 22 países passaram pela feira, e foi no primeiro dia de realização que se lançou a ALAPR.
Representantes de uma companhia da Costa Rica que foram à Fenagra para prestigiar a oficialização da associação aproveitaram a viagem para fechar negócio com a A&R - que, após lançar n'África e n'Ásia, agora terá produtos vendidos n' América Central. A princípio, encomendaram dois contêineres (40 toneladas), mas o volume deve chegar a 600 toneladas mensais a médio prazo, de acordo com Sória.
"A expectativa de entrar para a América Central era grande, esse mercado está em desenvolvimento. Como toda a América Latina, que é um mercado inicial, mas que está acontecendo", analisou o executivo, que já havia conhecido os costa-riquenhos em uma visita àquele país. "O mercado de graxarias está começando a mostrar sua importância à sociedade", pontuou.
Para a A&R, "um próximo passo" é a China, segundo Sória. "Os chineses oferecem alta demanda pelas matérias-primas, mas têm uma legislação estranha para nós", afirmou o empresário.
Organização
Formada por seis países (Brasil, México, Costa Rica, Colômbia, Paraguai e Uruguai), a nova associação do segmento de graxarias surge com o objetivo de "promover o uso das farinhas e gorduras animais e os interesses da indústria de reciclagem animal, mantendo a sustentabilidade da cadeia de produção de carnes", nas palavras de Ferreira, o segundo representante da ALAPR, sob a presidência do consultor internacional Sérgio Nates - um colombiano radicado nos Estados Unidos.
Ferreira é também consultor técnico da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra) e do Sindicato Nacional dos Coletores e Beneficiadores de Sub Produtos de Origem Animal (Sincobesp). Com apoio do sindicato, a Abra publicou, no ano passado, o primeiro diagnóstico sobre as atividades dessa indústria no Brasil.
A publicação foi o passo inicial para o segmento se organizar, no sentido de sistematizar informações e estatísticas. A criação da ALAPR reforça essa busca, motivada pela dificuldade que há, entre as graxarias, de se compilarem dados de produção. Empresários e representantes do ramo observam que essa resistência existe porque as matérias-primas ficaram demasiadamente disputadas e os coletores se recusam a revelar fontes e números.
"É uma grande expectativa que os órgãos públicos, como as instituições que regulamentam o meio ambiente e a parte sanitária, venham nos consultar. Ou que nós possamos interagir de maneira ativa", declarou Ferreira. Uma das demandas das graxarias é o reconhecimento de que são empresas recicladoras, e que, portanto, mereceriam uma legislação específica.
"As mesmas dificuldades que temos no Brasil vamos encontrar nos outros países", observou o representante.
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