A granja São Roque, em Videira (SC), repassa energia direto para rede elétrica
Uma das tecnologias mais populares para reduzir custos e diminuir os impactos da produção no meio ambiente, o biodigestor encontra terreno cativo na suinocultura. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, Estados líderes na criação de suínos do país, a bandeira do uso dos aparelhos é amplamente difundida como alternativa sustentável na agropecuária.
A demanda pela tecnologia fundamenta-se nas possibilidades de aplicação do principal produto gerado pelo biodigestor: o biogás, com alto poder energético, que pode suprir necessidades básicas, como aquecimento e iluminação. Espécie de câmara fechada, o biodigestor estimula a decomposição de dejetos da criação animal em condições anaeróbicas (sem a presença de oxigênio). Durante o processo, é liberado o biogás. Os efluentes líquidos resultantes do procedimento, chamados de digestato, também podem ser utilizados como fertilizantes.
De acordo com o pesquisador Airton Kunz, os aparelhos utilizados hoje, no Brasil, são herança da onda da biodigestão da década de 1990. Para o especialista, na época, acreditou-se que a tecnologia viabilizaria o avanço ambiental do país, a partir da redução da emissão de carbono – o que não ocorreu.
– Por limitação do processo, os biodigestores não corresponderam às expectativas de volume de redução do impacto ambiental. A instabilidade do mercado de carbono também contribuiu – explica.
Granjas de médio e grande porte que apostaram no sistema, mesmo depois de passada a onda da década de 1990, aprovam os resultados.
– Uma vez tratado (os efluentes), você pode viabilizar outras atividades dentro da granja – defende o gerente de engenharia da Master Agropecuária, Cleonei Gregolin.
A maior aposta do grupo catarinense ocorreu no ano passado, quando a Master adquiriu a granja São Roque, também localizada no município de Videira. Além de utilizar a energia gerada a partir do biogás proveniente do processo de biodigestão, a unidade fechou parceria com as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) para comercialização de energia elétrica. O excedente energético da granja é inserido diretamente na rede elétrica.
Segundo Cleonei Gregolin, o sistema da São Roque, até o momento, proporciona redução de 20% de redução com os custos de energia. Mas a meta é melhorar o desempenho até 2013, quando o investimento na unidade, de R$ 600 mil, será pago.
– Sustentabilidade é pré-requisito. Estou há 20 anos no mercado e já vi muitas flutuações. Tem de se estar preparado. O ganho contribui para a permanência da atividade – afirma.
– Sob o ponto de vista do carbono, ele reduz o impacto ambiental. Mas no uso de biofertilizantes, ele não repõe nutrientes importantes como nitrogênio e fósforo – explica.
Histórico
No Brasil, os modelos mais conhecidos de biodigestores são o indiano e o canadense. Enquanto o primeiro foi desenvolvido para suprir a falta de combustíveis fósseis na Índia, o segundo, fabricado com PVC, destaca-se por ser mais moderno e barato. Produtores brasileiros utilizam mais a opção do Canadá, também conhecida como “lagoa coberta”.
Os primeiros aparelhos chegaram ao Brasil na década de 1970, época em que a crise energética forçou , de primeiro e de terceiro mundo, a buscarem alternativas renováveis. No entanto, sem assistência técnica e consultoria ao usuário, a tecnologia caiu em desuso no país até meados da década de 1980.
De acordo com boletim divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado na produção agropecuária brasileira de 2009, a suinocultura gera, por ano, 20,4 milhões de toneladas de dejetos. O potencial energético, caso todo o montante fosse aproveitado, seria de 122 MW.
>>> Esta é a terceira matéria da série especial Resíduos Agropecuários: Sustentabilidade e Renda, que é publicada todos os sábados no RuralBR até meados de junho. As reportagens mostrarão como o reaproveitamento movimenta a economia brasileira e que iniciativas estão sendo realizadas por agricultores e pecuaristas do país.
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