quinta-feira, 28 de junho de 2012

Estudo com genomas de ovinos pode auxiliar o Brasil no controle da scrapie






Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 47 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) são os responsáveis pelo maior estudo genético já realizado com ovinos no Brasil. Foram avaliados genomas de 1.400 ovinos de 13 raças, incluindo localmente adaptadas (naturalizadas) e importadas, com o objetivo de detectar a suscetibilidade à scrapie, uma doença neurodegenerativa fatal que ataca o sistema nervoso de ruminantes, sendo mais comum em ovinos. O estudo deu origem a um artigo publicado esta semana na revista europeia Research in Veterinary Science e pode ser acessado neste link



A scrapie pertence ao grupo de encefalopatias espongiformes transmissíveis (EET), assim como a doença que ficou mundialmente conhecida como "mal da vaca louca". Ambas atuam no sistema nervoso central dos animais e levam à morte. As encefalopatias espongiformes transmissíveis não podem ser tratadas e nem prevenidas com vacina porque são causadas por uma mutação em partículas de proteínas normais dos animais, chamadas príons. Quando modificadas, essas partículas se tornam patogênicas, levando à morte de neurônios e a doenças degenerativas do sistema nervoso central.



De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a scrapie foi detectada, pela primeira vez, no Brasil em 1985 em ovinos importados do Reino Unido. Em 2001, novos casos da doença ocorreram em ovinos importados dos Estados Unidos. O MAPA intensificou a adoção de medidas sanitárias para conter a disseminação da doença no rebanho nacional. Entre essas medidas, destacam-se a decisão de tornar a scrapie uma enfermidade de notificação obrigatória e a criação de um programa sanitário específico, adequado à realidade do país, que está em fase de elaboração.



Informações genéticas podem subsidiar o desenvolvimento de políticas nacionais para prevenir surtos da doença no Brasil



O estudo desenvolvido pelos cientistas da Embrapa e da UFRGS pode ser determinante para a elaboração desse programa, já que permite mapear os diferentes níveis de suscetibilidade dos animais à scrapie ao longo das principais regiões do país. Segundo os pesquisadoresSamuel Rezende Paiva e Alexandre Rodrigues Caetano, que participaram do estudo, os ovinos podem ser classificados em altamente suscetíveis, suscetíveis ou resistentes ao desenvolvimento de doença, dependendo da combinação genética.



A proteína príon, cuja mutação, é responsável pela scrapie, é codificada por um gene chamado de PRNP e as mutações específicas desse gene estão fortemente associadas à resistência e susceptibilidade dos ovinos.



A análise dos genes realizada pela Embrapa e pela UFRGS mostrou que o grau de suscetibilidade dos animais está relacionado à combinação genética dos códons 136, 154 e 171 do gene PRNP. Ou seja, assim como uma língua é constituída basicamente por um dicionário de palavras, o código genético é constituído por códons. Entender as combinações entre os códons é o que permite aos cientistas decifrarem o código genético, assim como nós precisamos compreender as palavras para entender o significado de uma mensagem.



Além de eficiente, o método de genotipagem utilizado foi adaptado pelos pesquisadores para ser mais rápido e econômico que os convencionais. "Nós adaptamos um método rápido e robusto capaz de reduzir os custos de genotipagem em até 70%, pela redução na concentração de reagentes nas três etapas principais do ensaio (purificação ampliação, extensão de base e de limpeza final)", explica o pesquisador Alexandre Caetano. Essa redução de custos pode contribuir para o desenvolvimento de processos de genotipagem em países onde os custos de ensaio são um importante fator limitante.



Segundo Paiva, a eficiência e a economia possibilitadas pelo método facilitam a sua incorporação aos programas de conservação e melhoramento genético de ovinos no Brasil. "Nossos resultados fornecem informações sobre suscetibilidade de 13 raças ovinas à scrapie em diferentes regiões produtoras no Brasil e pode subsidiar o desenvolvimento de políticas nacionais para prevenir surtos da doença", ressalta.



Ele explica que menos de 4% dos animais analisados eram portadores dos genótipos para alta suscetibilidade à doença e pertenciam a cinco das 13 raças analisadas, incluindo três naturalizadas no Brasil, Morada Nova, Santa Inês e Rabo Largo, e duas recém-importadas: Dorper (África do Sul) e Damara (Austrália, África do Sul e outros países africanos). Por isso, além de ter que investir em políticas públicas para conter a disseminação da doença dentro do país, o Brasil precisa também fortalecer o controle/ monitoramento na importação de material genético.



Por outro lado, o estudo apontou também que, pelo menos, 40% dos animais analisados possuem genótipos de resistência à doença representando todas as raças analisadas. Isso reforça duas conclusões: a primeira é que o rebanho nacional pode responder rapidamente a um programa de seleção, caso seja necessário, e a outra indica que algumas raças localmente adaptadas podem ser usadas em programas de melhoramento genético para cruzamento com outras raças que apresentem níveis mais altos de suscetibilidade. "Ou seja, se o nosso estudo pode apoiar uma política nacional para a prevenção de scrapie, pode também servir como base para a elaboração de políticas de apoio à exportação de carne de rebanhos de ovinos brasileiros", finalizam os pesquisadores.



FONTE



Fernanda Diniz - Jornalista
Telefones: (61) 3448-4769 e 3340-3672

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