sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Estudos veterinários contribuem para a saúde humana


Danielle Kiffer

 Divulgação
    
        Ovelhas no pasto: semelhança com humanos na 
          estrutura e regeneração óssea motiva pesquisa
A estrutura óssea dos ovinos e sua recuperação são muito parecidas com as dos humanos. Essa semelhança permite que se estude a eficácia dos implantes ósseos artificiais. Outro estudo analisa como se dá a infecção por Toxoplasma gondii em ovinos, em especial no processo de reprodução, assunto que tem sido pouco estudado nessa espécie. Esses dois exemplos mostram a diversidade de pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na Unidade de Criação de Ovinos e o Laboratório de Pesquisa Animal da Fazenda Escola da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Cachoeiras de Macacu, que recentemente recebeu recursos do edital de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCTR), da FAPERJ. Cada um desses trabalhos contribuem tanto para a medicina quanto para a veterinária.
Vinculada ao Programa de Pós-Graduação de Clínica e Reprodução Animal da UFF, sob a coordenação da professora e Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Ana Maria Reis Ferreira, a unidade pôde ampliar seus projetos. "Um dos pontos mais interessantes do trabalho é o aspecto multidisciplinar do laboratório, o que permite maior amplitude de informações para os estudantes de graduação e pós-graduação, além de parcerias com outras universidades, como a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf)", Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica a coordenadora.
Ela dá como exemplo a pesquisa pré-clínica sobre biomateriais, em que o doutorando Gustavo Almeida Gonçalves, orientado por ela, vem analisando a eficácia de implantes ósseos artificiais. "Foi desenvolvida no laboratório do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), um tipo de biocerâmica sintética, como alternativa aos materiais anteriormente empregados, com origem em ossos de bovinos. Para testar a biocompatibilidade do novo material, temos realizado enxertos nos ossos de ovelhas. Nosso objetivo é chegar a um material ideal para o reparo de perdas ósseas, resultantes de acidentes ou doenças, como osteosarcoma, por exemplo", explica.
Gustavo conta que a escolha das ovelhas como modelo animal para o procedimento não foi por acaso. "Até pouco tempo, esses estudos eram realizados em roedores ou coelhos. Mas como os trabalhos têm comprovado que os ovinos têm características mais similares às dos humanos, no que diz respeito à estrutura óssea e articular, a optamos pela ovelha como modelo animal", conta. Segundo o doutorando, a similaridade está no desenho da estrutura óssea das ovelhas, que utilizam o esqueleto para sustentação e locomoção da mesma forma que nós usamos. Depois dos testes, pudemos ver que o tempo de recuperação óssea também é bastante semelhante ao nosso", completa.
Nos testes, o enxerto foi aplicado numa perfuração de cerca de um centímetro na tíbia do animal. Após 30 dias, analisou-se o material ósseo no local da perfuração e do enxerto para avaliar o reparo ósseo. "Isso nos permite avaliar como essa regeneração está acontecendo", diz Gustavo.
A análise do material recolhido foi feita com microscopia de campo claro, em que se utiliza microscópio comum, e por microscopia confocal de varredura a laser, que é uma espécie de tomografia do fragmento em análise, com reconstituição tridimensional da imagem em 3D. "Este tipo de reconstituição nos permite ver detalhes da reparação óssea", descreve o doutorando. O resultado da análise mostrou que o enxerto sintético foi bem-sucedido, estimulando a regeneração óssea de forma eficaz. "Além disso, o ovino se mostrou um ótimo modelo animal, com rápida recuperação cirúrgica", acrescenta.
 Divulgação
    
               Andressa colhe sangue de ovelha para
          averiguar se há contaminação por toxoplasma
Outro projeto, já realizado, avaliou a infecção de toxoplasmose nas ovelhas em exame diagnóstico de imuno-histoquímica, desenvolvido no mestrado de Andressa Ferreira da Silva, atualmente doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Clinica e Reprodução Animal. Tanto no mestrado quanto no doutorado, Andressa foi orientanda da professora Ana Maria e também bolsista do programa Mestrado Nota 10, da FAPERJ. A pesquisa, desenvolvida com recursos do edital de Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa (Pronem), foi publicada no ano de 2012, no periódico Veterinary Parasitology. “O  estudo teve como ponto de partida a alta incidência da doença no rebanho fluminense. Somente no estado do Rio, cerca de 50% dos animais estão contaminados. Isso representa um grande prejuízo para os criadores e um risco de infecção para quem se alimenta desta carne", diz Ana Maria.
Atualmente, a doutoranda está desenvolvendo o projeto de doutorado de duas formas: por  contaminação natural e contaminação artificial. Sob o título "Transmissão sexual natural e experimental de Toxoplasma gondii em ovinos diagnosticadas pelas técnicas de reprodução, molecular e imuno-histoquímica”, a pesquisa está sendo realizada em conjunto com pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
Todos esses trabalhos puderam ser realizados também pela otimização e reestruturação da unidade, que agora conta com novos equipamentos, como balança de ovinos com capacidade de 300Kg,  freezer, raio X veterinário e microscópio com câmera de vídeo digital e software de análise digital de imagem com alta resolução de imagens de amostras de tecidos. Os recursos para essas melhorias vieram do edital de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCTR), da FAPERJ. "Todas as pesquisas desenvolvidas na unidade são avaliadas pela comissão de bioética da UFF e respeitam as normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal para a garantia do bem estar animal", conclui Ana Ferreira.

© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte

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