Diante da expectativa de frio intenso nos próximos dias, DBO recupera artigo de Enrico Ortolani que explica porque os zebuínos sofrem tanto com as baixas temperaturas
Os bovinos se livram do excesso de calor no organismo por duas formas: pela eliminação de ar quente através da respiração (15%) e pela pele (85%). O gado europeu, assim como os zebuínos, eliminam igualmente o calor pela respiração, mas no quesito pele os indianos dão de goleada. O calor acumulado no interior do corpo geralmente chega à pele pelos vasos sanguíneos. Esses vasos são mais numerosos e finos na pele do zebu, gerando uma perda mais eficiente do calor.
Além disso, a pele do zebu é mais fina, favorecendo o processo. Existem controvérsias sobre se a expansão da área da pele na barbela tem um efeito radiador. Mas o grande pulo do gato está na característica dos pelos dos zebuínos. O Nelore possui pelo branco, que reflete a luz do sol tal qual um espelho. Os pelos escuros, como de algumas raças européias, absorvem o calor do sol. Pelos curtos e finos dos zebuínos facilitam a dispersão rápida do calor dos vasos, sem se acumular na pele. Ao contrário, pelos longos e grossos têm um efeito cobertor.
Um estudo comparou a velocidade de dispersão do calor através da pele entre raças e constatou que o zebu ganha de 7 x 1 do gado europeu. Esses atributos anatômicos e funcionais que facilitam os zebuínos a perder calor nos dias quentes contribuem também para que desperdicem preciosas calorias na friagem.
A intensidade do frio é determinada pela combinação de três condições atmosféricas: a temperatura ambiente, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento. Vento forte e umidade alta fazem com que a sensação térmica seja menor do que a temperatura real do ambiente.
Por exemplo, 4º C com vento fraco (8 km/hora) e média umidade (70%) representa sensação térmica de 2º C, mas com altíssima umidade (100%) essa sensação despenca para -3º C. Se nessa temperatura chover forte e o pelame ficar encharcado, a perda de calor pela pele do zebu será enorme. Se o animal cair na lama, o desperdício de calorias será maior ainda.
Os dados oficiais da estação meteorológica de Ponta Porã, MS, no centro da friagem, indicaram que aconteceu exatamente isso. No dia 16 de julho a temperatura mínima atingiu 4º C, um pouco menos que a do dia anterior (6º C), mas com a diferença de que choveu numa pancada só 43 milímetros, suficiente para formar lama.
Já pela manhã do dia 17 (3º C) mais de 2.000 zebus morreram ou estavam em agonia. Segundo informações extra-oficiais, 60% estavam subnutridos, muitos em condição normal, mas também morreram alguns Nelores gordos. Boa parte eram vacas paridas e bezerros desmamados até 1,5 ano de idade.
Quando a temperatura ambiente é muito baixa, o animal reduz a circulação do sangue da pele e a desvia para os órgãos importantes, como o fígado e o cérebro. Para aumentar a produção de calor, o animal libera hormônios da tireóide, que estimulam a queima de energia, por exemplo, por meio de tremor muscular. Estudei a produção desses hormônios em bovinos subnutridos e notei que a síntese é 65% inferior à dos animais bem alimentados.
Se a perda de calor for alta e contínua e a produção baixa, resultará numa intensa queda de temperatura do organismo, (hipotermia), abaixo de 35º C (o normal são 38º C), e num bloqueio da geração de calor. Isso fará com que o coração desacelere, a pressão arterial despenque, o animal deite, perca a consciência e morra. Esse processo pode durar algumas horas. Esse tempo é insuficiente para a multiplicação de bactérias que poderiam provocar a morte por pneumonia, como foi apregoado por alguns.
Nos dias que se seguiram a essa madrugada fatídica, mais algumas centenas de bovinos morreram. Provavelmente, aí sim a causa da morte deva ter sido pneumonia bacteriana.
Medidas preventivas precisam ser adotadas nessa área específica do surto. Deve-se estimular o cruzamento industrial para evitar que o zebu puro predomine. A melhoria nas condições de manejo nutricional e sanitário é outro ponto fundamental.
Algumas informações sobre o evento dão conta de que muitos dos bovinos jovens estavam com verminose. Como a maioria dos animais morreu em locais descampados, sujeitos ao vento encanado, sugere-se que seja reduzido o tamanho dos piquetes e que estes sejam circundados por cercas-vivas.
Foi notícia nacional: "2.900 bovinos morreram de frio em 15 municípios do sudoeste do Mato Grosso do Sul e 2.100 na região limítrofe do Paraguai". As imagens chocaram, ao mostrar dezenas de cadáveres abatidos pela friagem. Examinando fotos, constatava-se que a maioria dos bovinos era da raça nelore. Entre os mortos não se encontravam bovinos de raças européias ou meio sangue zebu-europeu.
Para os mais jovens, a tragédia soou como inédita. Mas isso já ocorreu em menor escala em invernos anteriores. É descrito que em anos muito frios morrem bovinos zebuínos da raça Brahman na Louisiana e Flórida, Estados de clima quente e úmido dos Estados Unidos.
Mas por que apenas os zebuínos foram as vítimas da friagem? Indiretamente, a seleção natural é a resposta. O gado zebu é proveniente das regiões quentes da Índia. No decorrer de milhares de anos foi naturalmente selecionado para viver em ambientes quentes e úmidos.
Os bovinos se livram do excesso de calor no organismo por duas formas: pela eliminação de ar quente através da respiração (15%) e pela pele (85%). O gado europeu, assim como os zebuínos, eliminam igualmente o calor pela respiração, mas no quesito pele os indianos dão de goleada. O calor acumulado no interior do corpo geralmente chega à pele pelos vasos sanguíneos. Esses vasos são mais numerosos e finos na pele do zebu, gerando uma perda mais eficiente do calor.
Além disso, a pele do zebu é mais fina, favorecendo o processo. Existem controvérsias sobre se a expansão da área da pele na barbela tem um efeito radiador. Mas o grande pulo do gato está na característica dos pelos dos zebuínos. O Nelore possui pelo branco, que reflete a luz do sol tal qual um espelho. Os pelos escuros, como de algumas raças européias, absorvem o calor do sol. Pelos curtos e finos dos zebuínos facilitam a dispersão rápida do calor dos vasos, sem se acumular na pele. Ao contrário, pelos longos e grossos têm um efeito cobertor.
Um estudo comparou a velocidade de dispersão do calor através da pele entre raças e constatou que o zebu ganha de 7 x 1 do gado europeu. Esses atributos anatômicos e funcionais que facilitam os zebuínos a perder calor nos dias quentes contribuem também para que desperdicem preciosas calorias na friagem.
A intensidade do frio é determinada pela combinação de três condições atmosféricas: a temperatura ambiente, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento. Vento forte e umidade alta fazem com que a sensação térmica seja menor do que a temperatura real do ambiente.
Por exemplo, 4º C com vento fraco (8 km/hora) e média umidade (70%) representa sensação térmica de 2º C, mas com altíssima umidade (100%) essa sensação despenca para -3º C. Se nessa temperatura chover forte e o pelame ficar encharcado, a perda de calor pela pele do zebu será enorme. Se o animal cair na lama, o desperdício de calorias será maior ainda.
Os dados oficiais da estação meteorológica de Ponta Porã, MS, no centro da friagem, indicaram que aconteceu exatamente isso. No dia 16 de julho a temperatura mínima atingiu 4º C, um pouco menos que a do dia anterior (6º C), mas com a diferença de que choveu numa pancada só 43 milímetros, suficiente para formar lama.
Já pela manhã do dia 17 (3º C) mais de 2.000 zebus morreram ou estavam em agonia. Segundo informações extra-oficiais, 60% estavam subnutridos, muitos em condição normal, mas também morreram alguns Nelores gordos. Boa parte eram vacas paridas e bezerros desmamados até 1,5 ano de idade.
Quando a temperatura ambiente é muito baixa, o animal reduz a circulação do sangue da pele e a desvia para os órgãos importantes, como o fígado e o cérebro. Para aumentar a produção de calor, o animal libera hormônios da tireóide, que estimulam a queima de energia, por exemplo, por meio de tremor muscular. Estudei a produção desses hormônios em bovinos subnutridos e notei que a síntese é 65% inferior à dos animais bem alimentados.
Se a perda de calor for alta e contínua e a produção baixa, resultará numa intensa queda de temperatura do organismo, (hipotermia), abaixo de 35º C (o normal são 38º C), e num bloqueio da geração de calor. Isso fará com que o coração desacelere, a pressão arterial despenque, o animal deite, perca a consciência e morra. Esse processo pode durar algumas horas. Esse tempo é insuficiente para a multiplicação de bactérias que poderiam provocar a morte por pneumonia, como foi apregoado por alguns.
Nos dias que se seguiram a essa madrugada fatídica, mais algumas centenas de bovinos morreram. Provavelmente, aí sim a causa da morte deva ter sido pneumonia bacteriana.
Medidas preventivas precisam ser adotadas nessa área específica do surto. Deve-se estimular o cruzamento industrial para evitar que o zebu puro predomine. A melhoria nas condições de manejo nutricional e sanitário é outro ponto fundamental.
Algumas informações sobre o evento dão conta de que muitos dos bovinos jovens estavam com verminose. Como a maioria dos animais morreu em locais descampados, sujeitos ao vento encanado, sugere-se que seja reduzido o tamanho dos piquetes e que estes sejam circundados por cercas-vivas.
Se a perda de calor for alta e contínua e a produção baixa, resultará numa intensa queda de temperatura do organismo
Fonte: Revista DBO 358/ AGOSTO 2010
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