domingo, 15 de dezembro de 2013

CARBÚNCULO SINTOMÁTICO X GANGRENA GASOSA

Emília Rabelo
No campo, é muito comum a dúvida sobre a diferença entre as doenças gangrena gasosa ecarbúnculo sintomático, pois possuem sintomatologia muito semelhante. Ambas tem um grau de letalidade alto, mas podem ser facilmente evitadas por um programa de vacinação adequado, que será melhor explicado a seguir.
Estas doenças pertencem ao grupo das clostridioses, enfermidades causadas por bactérias que estão presentes normalmente no ambiente e no trato digestivo da maioria dos animais. Essas bactérias são do gênero Clostridium sp. e sua espécie é que vai definir a doença. Por exemplo, no caso do carbúnculo sintomático, o agente é o Clostridium (gênero) chavoei (espécie).
O carbúnculo sintomático é também conhecido como manqueira ou mal de ano. A bactériaClostridium chavoei está presente no ambiente e pode ser ingerida pelo animal. Ela é protegida por uma espécie de cápsula, quando é chamada de esporo, o que permite que ela consiga sobreviver ao passar pelo rúmen e então ser absorvida. Assim, esse esporo poderá cair na corrente sanguínea e se alojar em um músculo do animal. Posteriormente, uma situação de trauma neste músculo, como uma pancada, poderá levar à germinação do esporo, que é o processo pelo qual a bactéria é ativada novamente, saindo da cápsula. Nesse local, a bactéria começa a se replicar e produzir toxinas, que são produtos gerados durante o desenvolvimento dela. Essas toxinas são irritativas ao tecido muscular e causam necrose no local onde se iniciou o processo, ou seja, causam morte do tecido muscular. A morte do animal, que acontece em até 72h, é causada pela disseminação de toxinas por todo o organismo – a toxemia. A manqueira geralmente acomete bovinos de até dois anos de idade.
Já na gangrena gasosa também conhecida como edema maligno, o que ocorre é bem semelhante ao carbúnculo. Porém, ela é causada por uma série de agentes, não sendo somente um tipo de clostridium. A forma de entrada das bactérias no organismo também é diferente, sendo necessária uma porta de entrada direta, como uma ferida, local de aplicação de medicamento, etc. Por esse meio, a bactéria, também protegida em um esporo, entra no músculo e causa o mesmo processo do carbúnculo. No entanto, no caso da gangrena, o curso da doença costuma ser muito mais rápido, levando o animal ao óbito em 24 a 48h. Essa doença pode ocorrer em qualquer idade.
Com relação à característica das lesões, bem semelhante nas duas doenças, os músculos atingidos na maioria das vezes são os maiores, como os dos membros posteriores. O músculo afetado fica com volume aumentado, quente no início do processo e depois frio, já que o tecido fica necrosado, deixando de receber irrigação sanguínea. Além disso, fica com um aspecto crepitante, como se houvesse bolhas no músculo, e com uma consistência flácida. Uma diferença possível de visualizar a campo, no caso da gangrena, é uma ferida necrosada no local por onde a bactéria penetrou, característica ausente no carbúnculo. Além destes sinais, os animais apresentam febre e ficam muito deprimidos, subitamente. Existe uma maior ocorrência destas doenças em épocas mais quentes do ano, pois o calor pode favorecer o desenvolvimento das bactérias.
Já que estas duas doenças, assim como as outras clostridioses, são causadas por bactérias presentes no ambiente, a erradicação não é possível. Cabe, então, ao proprietário tomar medidas preventivas. Uma das mais importantes e efetivas é a vacinação. A primeira dose deve ser feita aos três meses de idade e a segunda quatro semanas depois. Após, é necessário uma dose de reforço anual. As vacinas usadas quase sempre serão as mesmas, pois as vacinas existentes no mercado previnem as duas doenças, além de outros tipos de clostridioses. Devido à forma de introdução da gangrena, muito cuidado deve ser tomado com o uso de seringas, instrumentais cirúrgicos e qualquer material perfurocortante, de modo que a aplicação não seja feita em locais onde a pele do animal esteja suja. Se possível, utilize álcool no local, além de fazer uma correta assepsia dos equipamentos após o uso.
Quando se inicia um surto pode-se fazer a vacinação de todo rebanho, pois dependendo da evolução dos casos, pode auxiliar no controle da disseminação da doença.
(*) Emília Rabelo é médica veterinária da Rehagro

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