Por Fábio de Castro
Estudo realizado por pesquisadora da Unifesp desvenda mecanismo fundamental para o desenvolvimento da síndrome respiratória aguda associada à malária, que atinge principalmente crianças e mulheres grávidas
Agência FAPESP – As lesões respiratórias agudas estão entre os vários problemas de saúde causados pela malária. Esse comprometimento pulmonar atinge, com frequência, crianças de até 3 anos de idade e mulheres grávidas e pode gerar um quadro de insuficiência respiratória que leva à morte. Os mecanismos que desencadeiam essas lesões, no entanto, eram até agora desconhecidos.
Uma nova pesquisa desvendou um dos mecanismos fundamentais para o desenvolvimento da síndrome respiratória aguda associada à malária. Os resultados do estudo serão publicados na edição de 20 de maio da revista PLoS Pathogens.
De acordo com a autora principal do estudo, Sabrina Epiphanio – professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Diadema (SP) –, o tema começou a ser estudado durante seu pós-doutorado, realizado entre 2003 e 2008 no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa e no Instituto Gulbenkian de Ciência, ambos em Portugal e foi finalizado no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).
De volta ao Brasil, Sabrina, que atualmente é professora do Departamento de Ciências Biológicas da Unifesp, retomou o trabalho que deu origem ao artigo e à sua linha de pesquisa atual, que trata da identificação e caracterização da síndrome respiratória associada à malária em modelos animais. Para o projeto de pesquisa, conta com apoio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes da FAPESP.
“Muitos relatos de casos envolvendo malária pulmonar têm sido descritos na região amazônica, além de em regiões africanas e asiáticas. Pela primeira vez conseguimos desvendar um importante mecanismo envolvido na injúria respiratória aguda associada à doença”, disse à Agência FAPESP.
Alguns dos experimentos envolvidos no trabalho, de acordo com Sabrina, foram desenvolvidos em parceria com Claudio Marinho, professor do Departamento de Parasitologia do ICB-USP, que estuda – também com apoio do Programa Jovens Pesquisadores – os mecanismos imunopatológicos envolvidos na malária durante a gravidez.
“A síndrome respiratória não é muito frequente, mas quando ocorre muitas vezes leva à morte. Além de acometer muitas crianças e mulheres grávidas, o problema também atinge amplamente os pacientes logo após o tratamento antimalárico. Ainda não sabemos por que isso ocorre”, explicou.
Segundo Sabrina, além de descobrir que um importante mediador inflamatório conhecido como VEGF está diretamente envolvido no desenvolvimento das lesões pulmonares, o trabalho propõe um novo modelo para futuros estudos das afecções respiratórias associadas à malária.
“Começamos trabalhando com outro enfoque, testando parasitas da malária em diferentes linhagens de camundongo. Mas observamos que determinada linhagem desenvolvia a síndrome respiratória aguda. Isso nos motivou a começar os estudos, já que não havia um modelo animal definido para isso. Desenvolvemos o modelo e começamos a montar um verdadeiro quebra-cabeça para descobrir os mecanismos que desencadeiam a síndrome”, disse Sabrina.
Monóxido de carbono
O VEGF (sigla em inglês para fator de crescimento endotelial vascular) é uma molécula responsável pelo aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos. Os pesquisadores observaram que sua presença promovia o aumento da permeabilidade vascular no pulmão, gerando edemas e hemorragias característicos de uma injúria pulmonar aguda.
“Utilizamos várias técnicas para desvendar os mecanismos. Observamos, por exemplo, que havia aumento do VEGF no soro dos animais que desenvolviam a síndrome respiratória. Depois utilizamos adenovírus que bloqueavam os receptores solúveis de VEGF e observamos que, com isso, o mediador inflamatório voltava aos níveis basais e o animal não desenvolvia o problema pulmonar”, explicou.
Os cientistas utilizaram também o monóxido de carbono – que é uma molécula anti-inflamatória – para tratar os animais, conseguindo uma reversão do processo de injúria respiratória aguda. “O monóxido de carbono tem uma potente ação anti-inflamatória, antiapoptótica e antiproliferativa. Com ele, revertemos o quadro clínico dos animais, que não chegaram a desenvolver a síndrome”, disse Sabrina.
Depois de desvendar o mecanismo crucial para o desenvolvimento da lesão respiratória associada à malária, os cientistas agora querem entender melhor a síndrome em relação a outros fatores inflamatórios. “O principal objetivo é avançar nos estudos com esse modelo que desenvolvemos e também gerar outros modelos, de forma a compreender cada passo do processo”, afirmou.
Segundo Sabrina, na década de1970 havia sido proposto um modelo animal com outra linhagem de camundongos, mas sua eficiência foi criticada e sua aplicação não evoluiu. “Consideramos que conseguimos desenvolver o primeiro modelo realmente eficiente”, disse.
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