quarta-feira, 5 de maio de 2010

Itália usa morcegos para combater mosquitos


Assimina Vlahou
De Roma para a BBC Brasil
  • Morcego usado para combater mosquitos na cidade de Godega Sant'Urbano
    Morcego usado para combater mosquitos na cidade de Godega Sant'Urbano
Prefeitos de várias cidades da Itália decidiram substituir pesticidas contra pernilongos por caixas que atraem colônias de morcegos, considerados excelentes predadores de insetos.
O projeto "Um Morcego Amigo" foi criado pela Universidade de Florença para colher informações a respeito dos mamíferos voadores, envolver a população na conservação da espécie e divulgar o uso de um sistema biológico para eliminar os mosquitos.
Para atrair os morcegos de volta às cidades, zoólogos da universidade e do Museu de Historia Natural de Florença, projetaram caixas especiais de madeira, que são espalhadas em locais públicos e servem como refúgio para que os bichos possam hibernar, se reproduzir e criar colônias.
A cidade de Godega Sant’Urbano, perto de Treviso, na região norte da Itália, colocou sua primeira caixa para abrigar morcegos no domingo passado.
Em entrevista à BBC Brasil, o prefeito, Alessandro Bonet, disse que elas vão ser distribuídas em escolas e edifícios públicos, para trazer de volta os morcegos que abandonaram a cidade.
"Dez anos atrás havia muitos morcegos aqui. Por causa da poluição do ar e da falta de lugares onde se instalar, eles foram desaparecendo e aumentou a quantidade de mosquitos. Queremos que os morcegos voltem maciçamente, porque cada um pode capturar até 2 mil mosquitos por noite", disse.

Monte seu refúgio

A campanha começou em 2006 na cidade de Fiesole, na região da Toscana e agora tem adesões em todo o país.
"Cidades de norte a sul Itália, de Nápoles a Milão, participam do projeto. Distribuímos mais de 8 mil caixas, além de divulgar as instruções para as pessoas montarem os refúgios sozinhas", disse à BBC Brasil Paolo Agnelli, zoólogo responsável pelo projeto.
As caixas, de 66 por 40 centímetros, oferecem refúgio seguro aos predadores de mosquitos e foram projetadas para criar um ambiente ideal para os animais. A caixa tem compartimentos diferenciados. As fêmeas preferem a parte mais quente, que fica no alto, e os machos, que gostam do frio, ficam na parte baixa.
Para atrair os morcegos, as caixas precisam ser envelhecidas, as paredes internas devem ser ásperas, com cortes que parecem degraus, para que os morcegos possam ficar pendurados de cabeça para baixo.
Os refúgios de morcegos são colocados durante a primavera em árvores ou do lado de fora dos prédios, a quatro metros de altura, numa área mais protegida e menos exposta. Cada um pode abrigar até 25 fêmeas e apenas três ou quatro machos.

Tempo de colonização

Depois da colocação das caixas nas cidades que aderiram ao projeto, os zoólogos constataram um aumento na população de morcegos, mas observaram que uma colonização leva tempo para se formar.
"Desde 2007 as caixas foram colonizadas em 40% e ficou evidente que as chances delas encherem de animais depende de quanto tempo ficam expostas. Por isso é melhor não tirá-las no inverno", disse Paolo Agnelli.
O prefeito de Godega Sant’Urbano fez um curso em Florença para entender mais sobre morcegos. Ele garante que a população não tem medo dos bichinhos.
"A espécie italiana é inócua e muito pequena. Pesa cerca de cinco gramas", garantiu.
O objetivo do projeto é divulgar os morcegos que, segundo os zoólogos, são muito interessantes do ponto de vista cientifico.
"Ao usá-los para combater mosquitos, as pessoas querem saber mais sobre eles. Há muitas lendas e superstições sobre os morcegos", disse Paolo Agnelli.

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